Saulo Prado
Não pude negar: em vez de ver problema no que tinha acontecido, senti um orgulho bruto de Adson. Talvez Angelina exagerasse no drama, ele só tinha se defendido, nada além. E contra um moleque mais velho, ainda por cima. Aquilo mostrava fibra, coragem. Por mais que não me aceitasse, eu enxergava em cada gesto fechado a semelhança comigo.
Já Atlas era o oposto. Doçura em forma de menino. E justamente por isso, me fazia sentir medo: medo do mundo, medo do que poderiam fazer com ele.
- Não liga pra ele, pai. Ele é assim mesmo - Atlas disse quando nos levantamos da mesa.
Estar ali, à mesa com os três, me trouxe uma satisfação que eu não sentia há muito tempo. A comida parecia a mais saborosa de todas. Comi como se fosse a última refeição, e, quando terminei, só pensava em um banho e uma cama.
No quarto dos meninos, sentei na beirada da cama. As prateleiras exibiam bonecos, medalhas e troféus de Adson, e eu fiquei olhando para aquilo como quem encara uma vida que perdeu.
- Você