Donatella
O irmão nervosinho, que agora sei que se chama Mikael nos deu as costas e saiu da praça. Perdi ele de vista e fiquei em choque com a falta de educação. Nem parece que foi ele quem puxou assunto.
O outro irmão sentou ao meu lado sorrindo.
_ Desculpa, ele teve um dia bem complicado.. _ Disse o rapaz.
_ Não acho que isso seja desculpa para ser tão mal educado, mas tudo bem, não sei qual é a realidade de vocês.
Tive vontade de dizer que também tive um dia de merda mas nem por isso falei besteira. Mas, se o que ele realmente tiver dito for verdade, Dário nunca saberá quem é o pai.. que loucura.
_ Peço desculpas pelo meu irmão, Mikael, às vezes se expressa mal, mas juro que ele não é assim o tempo inteiro, às vezes ele é até mais bem humorado que eu. É que o nosso dia realmente não ajudou muito.. _ Disse ele lamentando.
Vi sinceridade em seu olhar e assenti. Estava quase na hora de ir pra casa e suspirei de alegria, meu corpo estava doendo e estava terrivelmente cansada.
_ Ah.. meu nome é Luan, a propósito, aposto que meu irmão não se apresentou..
_ Meu nome é Donatella, mas pode me chamar de Dona. Todos me chamam assim.
_ Tem muitos amigos Donatella? Dona..
_ Não muitos, não muito tenho tempo.
Comentei sorrindo e lembrando que dedico muito do meu tempo aos meus filhos e ao trabalho.
_ Imagino que dedique muito tempo para as crianças.
_ Sim, quando não estou trabalhando estou cuidando deles.
_ Ah claro. Mas e o pai? Desculpa perguntar, mas já que já estamos na conversa. _ Disse ele cruzando os braços e sorrindo elegantemente.
_ Oh.. o pai deles faleceu. Estava grávida de Elise quando ele se foi.
Lembrei vagamente de Lourenço passando a mão na minha barriga, mas não senti nada, nem saudade e nem remorso.
_ Sinto muito. _ Lamentou.
_ Não sinta, estamos melhor sem ele. _ Falei sorrindo.
O velho descansou e é isso que importa.
_ Ele era ruim com você?
_ Não, mas não quero falar sobre isso, desculpe.
_ Tudo bem, é sua vida, você tem o direito de não querer falar. _ Disse ele com um tom compreensivo.
_ O que aconteceu com a mãe do Dário? _ Perguntei já imaginado que ele fosse cortar o assunto.
_ Ela foi embora. Não o quis. Ela era uma golpista e quando viu que não conseguiria nada de nós, simplesmente desapareceu.
_ Nossa.. sinto muito. É meio.. pesado. _ Agora foi minha vez de lamentar, mas ele parece não ligar muito.
_ Sim, Dário sente falta de uma mãe e eu sinto por ele todos os dias. Por mais que minha mãe tente dar a ele todo o amor do mundo, amor de vó é muito diferente do amor de uma mãe.
Olhei para Luan que encarava a criança com amor.
_ Você.. não se sente mal por não saber se é você ou seu irmão que é o pai biológico? _ Perguntei pisando em ovos.
Estávamos em uma conversa delicada e eu conhecia o moço a apenas alguns minutos, mas algo nele me deixa confortável.
_ Não, eu amo meu irmão e ele ama o Dário, da mesma forma que eu. E ter dois pais parece uma ideia legal. _ Disse ele com um carinho enorme na voz.
_ Bom, agora vocês podem arrumar namoradas, talvez ter duas mães também seja legal. _ Comentei enquanto observava as crianças.
Nem sei se ele tem ou não namorada, mas observando pelas mãos que não tinham aliança acredito que não.
_ É, essa parte é ainda mais complicada. Não quero colocar qualquer mulher para cuidar do meu filho, e meu irmão tem esse mesmo pensamento. Hoje em dia é muito perigoso, as pessoas tem muita maldade.
_ Esse é meu medo também, por isso não tenho namorado e nem pretendo ter tão cedo! _Falei abrindo o coração também.
Ele me olhou e sorriu.
_ Você é jovem e bonita, deveria ter alguém.
_ Mas não terei, serei sempre somente eu e meus filhos. _ Falei com confiança.
Ele sorriu e assentiu, abaixando a cabeça logo em seguida. Ficamos mais um tempo em silêncio.
_ Crianças, vamos!
Falei enquanto levantava. Estava com muito sono e cansada.
Elise e Francis se aproximaram resmungando, o menino Dário também veio e me encarou.
_ Tia, eles podem ir brincar na minha casa?
Perguntou o pequeninho.
_ Um dia, quem sabe pequeno. _ Respondi com um sorriso amável.
Ele retribuiu com um sorriso radiante. Os olhos dele com certeza pertencem aos pais.
_ Amanhã podemos vir de novo aqui, você trará as crianças? _ Perguntou o rapaz.
_ Sim, nós viemos aqui todos os dias.
_ Ótimo, amanhã eu e Dário vamos esperar vocês. Foi um prazer conhecê-la Dona, e mais uma vez desculpe pelo meu irmão mal humorado. _ Disse Luan com um sorriso gentil.
Ele pegou minha mão e deu um beijo fofo. Confesso que alguma coisa na minha cabeça acendeu, mas não foi um alerta vermelho.
Dário abraçou Elise e Francis e seguiu o pai até que eu os perdesse de vista. Caminhei com as crianças que não paravam de falar em como foi divertido a noite na praça, e quando finalmente cheguei na minha casa, dei o banho nas crianças e os alimentei, e só então pude parar para refletir sobre como há situações inusitadas no mundo. Dois gêmeos ficaram com a mesma mulher.. como eles conseguem ter esse nível de intimidade? Outro pensamento me invadiu, fazendo-me corar. Será que os dois ficaram com ela ao mesmo tempo?
_ Credo Dona, você está virando uma depravada com esse tipo de pensamento!
Quando coloquei os pequenos para dormir tomei um banho demorado, já chateada por ter que acordar no dia seguinte muito cedo e ter que cobrar mais uma vez meu salário, coisa que é uma obrigação e agora parece ser um favor do meu chefe.