Margarida Não consegui dormir. Passei a madrugada inteira relendo os documentos que Ronaldo havia deixado comigo. Cada linha, cada assinatura, cada número… Era real. Mas o que isso realmente significava? Era só uma jogada de negócios… ou algo mais? Quando finalmente peguei no sono, já era quase manhã. E mesmo nos meus sonhos, algo insistia em me chamar. — Margarida? Eu voltei… — dizia uma voz infantil, cheia de vida, rindo. Aquela voz me invadia como um eco antigo, familiar… doce e doloroso ao mesmo tempo. Eu não conseguia ver o rosto do menino, mas algo dentro de mim dizia que ele era importante, essencial. Como se fizesse parte de mim… como se um dia tivesse feito falta. Mas antes que eu pudesse entender, outra voz me puxou de volta à realidade. — Margarida? Você está bem? — era Emma, parada na porta do quarto, os olhos arregalados de preocupação. Sentei-me rapidamente na cama, ainda meio confusa. — Emma, querida… estou bem, só tive um sonho estranho. — Filha, o qu
Ronaldo Documentos assinados. Tudo pronto para a nova fase da minha vida. Agora, eu e Margarida somos oficialmente donos de metade da companhia — aquela que, por tanto tempo, eu quis apenas para mim. No começo, era pura ambição. Queria tirar de João. Queria que fosse minha em sua totalidade. Mas agora… agora também é por ela. Por Margarida. Algo dentro de mim mudou — ou está mudando. No jantar, minha mãe e Margarida conversavam animadamente. As duas pareciam esquecer o tempo, rindo, trocando confidências. Minha mãe… ela não é de se apegar fácil, e ver as duas assim, tão cúmplices, me desconcertava de um jeito bom e ruim ao mesmo tempo. — Ronaldo — a voz do meu pai me tirou dos pensamentos. Levantei a cabeça e o encarei. — Está tudo bem? — Sim, claro — respondi, automático. — Depois daqui, gostaria de falar a sós com você. — Tudo bem. Emma tentava se enturmar na conversa das mulheres. Margarida se esforçava em traduzir cada assunto para o mundo infantil dela, com paciên
Margarida O travesseiro parecia… diferente. Algo firme, quente. Abri os olhos devagar, ainda meio tonta de sono. E então percebi. O que estava sob minha cabeça… não era um travesseiro. Era um braço. O braço de Ronaldo. E eu… eu estava com o braço ao redor dele. O susto subiu como um choque. Meu coração disparou e, por reflexo, afastei o braço, como se tivesse encostado em algo proibido. O que ele pensaria? O que Ronaldo pensaria ao me ver assim, enlaçada nele? — Se assustou? — ele perguntou, a voz baixa, ainda rouca da manhã. — Ahh! — ofeguei, sentando meio de lado. — Desculpa, eu… não quis… — Eu não quis te assustar — disse com calma. — Você parecia com muito sono. — Espera… você já estava acordado? — perguntei, quase sem acreditar. — Há quase meia hora — respondeu, com uma expressão tranquila demais para quem estava com alguém dormindo em cima de si. — Ah… eu… — comecei, sem saber onde queria chegar. — Dormiu bem? — perguntou. A pergunta saiu como uma tentat
O dia que deveria ser de celebração se tornou o pior da minha vida.– Se você estiver mal, posso ficar em casa com você. – ofereci, me sentia mal em deixa-lo doente e sozinho em casa.Eu tinha uma viagem de negócios para tratar de uma possível parceria com outra companhia, as meu marido, João, acordou indisposto e doente, então, eu estava dividida entre ficar com ele e comemorar seu aniversário, ou ir nessa viagem.– Não precisa. – respondeu, como sempre, sem humor. – Eu vou ficar bem. Já tem um tempo que João está assim, tão frio e distante, agindo de forma arredia comigo, eu não sei mais o que fazer, já tentei de tudo para recuperarmos aquela chama de amor que nos envolveu quando nos casamos, mas parece que nada do que eu faço é suficiente. – Hoje é seu aniversário, meu amor, eu gostaria... quero dizer, acho que podemos comemorar juntos. – falei esperançosa. Eu esperava que ele pelo menos me desse um abraço, um beijo, me desejasse feliz aniversário, mas as coisas estavam estranha
De repente, tudo o que aconteceu em minha vida amorosa nos últimos anos se tornou uma mentira. E diversos questionamentos passavam pela minha cabeça, quando isso começou? Será que João nunca havia me amado? Enquanto dava passos para trás, minha mente vagava para algumas lembranças que foram sufocadas em meu subconsciente. Minha mente estava longe dali, mergulhada no passado, em cada cena que agora parecia ter um novo significado.Lembro-me com clareza de tudo, eu quem sempre estava atrás de João. Convidando-o para sair, era sempre eu que me oferecia para ajudá-lo com os estudos, tudo era eu, sempre eu. Me lembro que uma vez, ele estava sozinho em uma das mesas do refeitório, estava comendo e eu decidi me aproximar, me matriculei na mesma turma de administração que ele estava. *****lembrança“ – OI, João- cumprimentei eufórica. Já faz um tempo que sou apaixonada por ele, mas João nunca me deu muita bola.– Olá – respondeu como sempre. Nem grosseiro e nem amigável, sempre um tom de e
Ronaldo Em breve. Muito em breve, irei conquistar a companhia JS Group. O último obstáculo entre mim e o domínio absoluto dos maiores investimentos do país está prestes a cair. Meu maior inimigo, o atual chefe da empresa, não faz ideia do que está por vir. A cada movimento, me aproximo mais da vitória. – Estou muito perto de conquistar, meu amigo. Você vai ver – murmurei, um sorriso frio se formando em meus lábios. – Em breve, aquela companhia vai cair nas minhas... O carro freou bruscamente. Meu corpo foi jogado levemente para a frente, cortando minha fala no meio. O silêncio denso foi quebrado apenas pela respiração tensa de Alfred, meu motorista, que me olhou pelo espelho retrovisor, os olhos arregalados. – Ela apareceu de repente, senhor. Era uma mulher. Uma mulher? Minha mente girou. O que alguém estaria fazendo ali, na beira da estrada, àquela hora? – Confira se ela está bem. Agora. – ordenei, minha voz mais firme do que eu esperava. Sem esperar pela ação de Alfred, abri
Margarida Acordei novamente, minha cabeça doía e o homem que me salvou... como era mesmo seu nome? Ainda estava ali, sentado na poltrona ao lado da cama, com a garotinha nos braços, os dois com os olhos presos em mim. Senti um arrepio passar por todo o meu corpo ao vê-lo me olhando tão intensamente. Sentei-me na beira da cama do hospital. Ele retirou um cartão do bolso e estendeu na minha direção. Baixei o olhar e fiquei observando o papel em minhas mãos. O nome dele estava ali, acompanhado do número de telefone e do nome da empresa onde trabalhava: Empresa. RV Group. Uau. — O meu papai é muito bom, ele vai cuidar de você, é só ligar para ele. — a menininha falou. O homem, deu um pequeno sorriso ao ouvi-la e balançou a cabeça, achando graça. — Se precisar de qualquer coisa, me procure e eu cuidarei de você. — Ele disse, de forma séria. Seu olhar parecia sincero, mas eu não podia confiar em ninguém agora. – Tudo bem, eu agradeço pela ajuda. – respondi de forma calma. A voz
Eu estava me olhando no espelho. Vestia um vestido lindo, que Ana me emprestou, eu ainda não havia voltado em casa e só pretendia voltar quando fosse para pegar o que era meu de volta. – Tem certeza que quer ir sozinha? – questionou, preocupada. – Tenho, eu preciso disso. – suspirei. – Eu volto logo. – Tudo bem, mas se precisar de mim, me avise. – falou com o olhar pesaroso. Eu estava vivendo o pior momento da minha vida, mas não deixaria que isso me transformasse em uma pobre coitada. Pedi um táxi e fui até a empresa de Ronaldo, eu sabia que ele estaria lá.Caminhei pelos corredores da empresa com passos firmes, mas minha mente estava em ebulição. A cada passo, meu peito ardia com a possibilidade do que poderia acontecer a seguir. Eu precisava encarar João, precisava ouvir da boca dele o que já começava a parecer óbvio. Meu coração batia forte, mas não era medo. Era raiva. Uma raiva sufocante que me impelia para frente.Empurrei as portas do escritório de João sem sequer anunciar