O restaurante que escolhi, pertence ao meu amigo Erick, eu nao me sentaria na mesma mesa que um homem como João se não conhecesse o ambiente. O lugar era de luxo, mas o clima entre nós estava longe de ser refinado. Luzes suaves, garçom discreto, vinho caro… um cenário cuidadosamente escolhido para parecer civilizado. Mas eu sabia exatamente o que João queria com aquele convite: confronto. Ele estava sentado à cabeceira da mesa como se ainda comandasse o mundo. Terno impecável, sorriso ensaiado. Mas os olhos… os olhos traíam sua verdadeira intenção: raiva. — Ronaldo — disse, estendendo a mão com aquela arrogância natural —, obrigado por vir. Apertei sua mão com firmeza, mantendo o olhar. Meu sorriso foi mínimo. Cordialidade, apenas o suficiente. — Quando um concorrente nos convida para jantar, é sempre por um bom motivo — respondi, puxando a cadeira. João riu, tentando disfarçar o incômodo. Mas não demorou. — Vou direto ao ponto — disse ele, recostando-se —. Você casou com
Margarida Não posso dizer que a presença dos pais de Ronaldo me incomodou. Pelo contrário, senti-me acolhida. A mãe dele tem a mesma gentileza cativante que vejo em Emma, mas com um toque curioso — ela age como se já me conhecesse de outras vidas. Seus olhos me observam com um calor que ultrapassa a mera cordialidade. É como se ela enxergasse em mim algo que nem eu mesma consigo ver. Emma… ah, essa pequena dama! Ela tem o dom de transformar qualquer manhã cinzenta em primavera. Seu jeito doce, suas risadas espontâneas, o modo como segura minha mão como se fosse a coisa mais natural do mundo… ela está me conquistando mais do que jamais imaginei possível. Hoje, bem cedo, Ronaldo recebeu uma ligação urgente. Antes mesmo do café da manhã, ele se aproximou com um ar de pressa. — Preciso sair agora — disse, com aquele olhar que tenta disfarçar a culpa por nos deixar tão de repente. Notei os olhos atentos dos pais dele, perscrutando cada detalhe, cada gesto. Entendi o que esperavam.
Ronaldo Logo cedo, meu telefone tocou. Era meu assistente. A voz dele estava animada, quase ofegante de tanta urgência. Quando cheguei no prédio da empresa, meu advogado estava lá, me aguardando. — O documento está pronto. Só falta sua assinatura… e a da Margarida. Por um segundo, fiquei em silêncio. Era isso. O passo decisivo. Um movimento que mudaria tudo. — Foi mais rápido do que imaginei — murmurei, com os olhos fixos nas folhas que ele me entregou. — Sim, mas só foi possível porque Margarida é filha de quem é… e porque João, bem… ele está cada vez mais isolado entre os diretores da empresa — explicou meu advogado, com aquele tom contido de quem sabe que está presenciando o fim de um império. — Felizmente, para mim — respondi, quase como um pensamento alto. — Você sabe que isso vai gerar um caos, certo? Ele vai descobrir. Logo. E quando isso acontecer... não vai ser bonito. Fechei os olhos por um instante. Eu sabia. E mesmo assim... — Ele não precisa gostar. Ele s
Margarida Não consegui dormir. Passei a madrugada inteira relendo os documentos que Ronaldo havia deixado comigo. Cada linha, cada assinatura, cada número… Era real. Mas o que isso realmente significava? Era só uma jogada de negócios… ou algo mais? Quando finalmente peguei no sono, já era quase manhã. E mesmo nos meus sonhos, algo insistia em me chamar. — Margarida? Eu voltei… — dizia uma voz infantil, cheia de vida, rindo. Aquela voz me invadia como um eco antigo, familiar… doce e doloroso ao mesmo tempo. Eu não conseguia ver o rosto do menino, mas algo dentro de mim dizia que ele era importante, essencial. Como se fizesse parte de mim… como se um dia tivesse feito falta. Mas antes que eu pudesse entender, outra voz me puxou de volta à realidade. — Margarida? Você está bem? — era Emma, parada na porta do quarto, os olhos arregalados de preocupação. Sentei-me rapidamente na cama, ainda meio confusa. — Emma, querida… estou bem, só tive um sonho estranho. — Filha, o qu
Ronaldo Documentos assinados. Tudo pronto para a nova fase da minha vida. Agora, eu e Margarida somos oficialmente donos de metade da companhia — aquela que, por tanto tempo, eu quis apenas para mim. No começo, era pura ambição. Queria tirar de João. Queria que fosse minha em sua totalidade. Mas agora… agora também é por ela. Por Margarida. Algo dentro de mim mudou — ou está mudando. No jantar, minha mãe e Margarida conversavam animadamente. As duas pareciam esquecer o tempo, rindo, trocando confidências. Minha mãe… ela não é de se apegar fácil, e ver as duas assim, tão cúmplices, me desconcertava de um jeito bom e ruim ao mesmo tempo. — Ronaldo — a voz do meu pai me tirou dos pensamentos. Levantei a cabeça e o encarei. — Está tudo bem? — Sim, claro — respondi, automático. — Depois daqui, gostaria de falar a sós com você. — Tudo bem. Emma tentava se enturmar na conversa das mulheres. Margarida se esforçava em traduzir cada assunto para o mundo infantil dela, com paciên
Margarida O travesseiro parecia… diferente. Algo firme, quente. Abri os olhos devagar, ainda meio tonta de sono. E então percebi. O que estava sob minha cabeça… não era um travesseiro. Era um braço. O braço de Ronaldo. E eu… eu estava com o braço ao redor dele. O susto subiu como um choque. Meu coração disparou e, por reflexo, afastei o braço, como se tivesse encostado em algo proibido. O que ele pensaria? O que Ronaldo pensaria ao me ver assim, enlaçada nele? — Se assustou? — ele perguntou, a voz baixa, ainda rouca da manhã. — Ahh! — ofeguei, sentando meio de lado. — Desculpa, eu… não quis… — Eu não quis te assustar — disse com calma. — Você parecia com muito sono. — Espera… você já estava acordado? — perguntei, quase sem acreditar. — Há quase meia hora — respondeu, com uma expressão tranquila demais para quem estava com alguém dormindo em cima de si. — Ah… eu… — comecei, sem saber onde queria chegar. — Dormiu bem? — perguntou. A pergunta saiu como uma tentat
O dia que deveria ser de celebração se tornou o pior da minha vida.– Se você estiver mal, posso ficar em casa com você. – ofereci, me sentia mal em deixa-lo doente e sozinho em casa.Eu tinha uma viagem de negócios para tratar de uma possível parceria com outra companhia, as meu marido, João, acordou indisposto e doente, então, eu estava dividida entre ficar com ele e comemorar seu aniversário, ou ir nessa viagem.– Não precisa. – respondeu, como sempre, sem humor. – Eu vou ficar bem. Já tem um tempo que João está assim, tão frio e distante, agindo de forma arredia comigo, eu não sei mais o que fazer, já tentei de tudo para recuperarmos aquela chama de amor que nos envolveu quando nos casamos, mas parece que nada do que eu faço é suficiente. – Hoje é seu aniversário, meu amor, eu gostaria... quero dizer, acho que podemos comemorar juntos. – falei esperançosa. Eu esperava que ele pelo menos me desse um abraço, um beijo, me desejasse feliz aniversário, mas as coisas estavam estranha
De repente, tudo o que aconteceu em minha vida amorosa nos últimos anos se tornou uma mentira. E diversos questionamentos passavam pela minha cabeça, quando isso começou? Será que João nunca havia me amado? Enquanto dava passos para trás, minha mente vagava para algumas lembranças que foram sufocadas em meu subconsciente. Minha mente estava longe dali, mergulhada no passado, em cada cena que agora parecia ter um novo significado.Lembro-me com clareza de tudo, eu quem sempre estava atrás de João. Convidando-o para sair, era sempre eu que me oferecia para ajudá-lo com os estudos, tudo era eu, sempre eu. Me lembro que uma vez, ele estava sozinho em uma das mesas do refeitório, estava comendo e eu decidi me aproximar, me matriculei na mesma turma de administração que ele estava. *****lembrança“ – OI, João- cumprimentei eufórica. Já faz um tempo que sou apaixonada por ele, mas João nunca me deu muita bola.– Olá – respondeu como sempre. Nem grosseiro e nem amigável, sempre um tom de e