Capítulo 5
Minha mente ficou turva quando o carro me atingiu. A dor invadiu cada parte do meu corpo, mas pior do que isso foi o desespero de me sentir completamente abandonada.

Fragmentos de memória passaram diante dos meus olhos.

Daniel, atrás da mesa, na primeira vez que nos conhecemos, os óculos de armação dourada refletindo um brilho frio. Eu tentei provocá-lo, e ele não demonstrou a menor reação.

Na primeira vez que me prendeu sob ele, chamou-me de "princesa" com aquela voz rouca e áspera.

Eu confundi aquilo com amor. Noites e noites, em seus braços, ouvindo o batimento do seu coração contra meu ouvido, eu acreditei que finalmente tinha encontrado um lar.

Então tudo parou — congelado naquele instante de segundos atrás.

Daniel se lançou em direção a Serena, puxando-a para os braços sem hesitar por um único segundo. E eu? Eu era apenas uma alma perdida, descartada no caminho do perigo.

...

Acordei em uma cama de hospital. O quarto estava tão silencioso que pude ouvir Daniel falando ao telefone.

— Rena, ainda dói?

A voz dele era tão suave que parecia de um estranho.

Serena respondeu com voz fraca:

— Bem melhor. Obrigada, Danny. Se você não tivesse me segurado a tempo, eu poderia ter...

Daniel tentou acalmá-la:

— Não pense nisso. O médico disse que foi só um susto. Nenhum ferimento externo.

— Danny, se tudo acontecesse de novo, você ainda me salvaria primeiro, não é?

Daniel nem hesitou:

— Claro que sim.

— Mas a Freya foi atropelada...

O tom dele permaneceu sereno:

— Ela não tem motivo pra ficar chateada. Eu só ajudei quem estava em condição mais frágil. Ela entende isso.

Fechei os olhos como se uma faca tivesse atravessado direto meu peito. Então, aos olhos dele, eu nem sequer tinha o direito de sentir raiva.

Ouvi passos, e a cortina da cama foi puxada.

Daniel estava ao meu lado. Ao me ver acordada, não demonstrou o menor traço de culpa.

— Acordada?

Respondi com um som rouco.

— O médico disse que foi apenas uma leve concussão. Também há alguns arranhões na perna, nada grave. Mandei chamar a melhor equipe, e vou ficar aqui nos próximos dias pra cuidar de você.

Fiquei olhando pro teto.

— Obrigada. Eu te pago as despesas médicas em dez dias.

Daniel franziu o cenho.

— Do que você está falando? Dez dias?

Virei a cabeça pra ele.

— Eu disse que vou pagar os gastos do hospital. E também o custo de ficar na sua casa. Quero acertar tudo.

O rosto dele ficou rígido.

— Freya, você não precisa acertar nada comigo.

Minha voz se manteve calma:

— Por que não? A gente não tem nenhum tipo de relação, tem?

O silêncio se instalou por alguns segundos.

Ele parecia prestes a dizer algo, mas apenas murmurou:

— Descanse.

Ele realmente ficou no hospital pra cuidar de mim nos dias seguintes. Passava sempre nos mesmos horários pra verificar como eu estava, certificava-se de que as enfermeiras me medicavam na hora certa e até me alimentava ele mesmo.

Mas eu mantive distância, sem lágrimas, sem crises, sem manha. Tratei-o como um estranho gentil: educada, mas fria.

Daniel parecia inquieto com isso.

...

Na terceira tarde, ele estava sentado ao lado da cama, me observando folhear uma revista.

— Freya — ele disse.

— Hm? — Respondi sem erguer os olhos.

— Sobre aquela noite... — Ele hesitou.

— Eu salvei a Rena primeiro, não porque não queria salvar você. Ela é frágil, não teria suportado o impacto. Foi a melhor escolha.

Coloquei a revista de lado e o interrompi:

— Eu sei.

Daniel me encarou, algo indecifrável nos olhos.

— Você não está com raiva?

— É isso que você quer?

Nesse momento, ouviu-se um tumulto no corredor.

— Rápido! Levem-na pra emergência!

— O que aconteceu?

— A Srta. Jarman caiu da escada! Está muito ferida!

A expressão de Daniel mudou na hora. Ele se levantou apressado.

— Preciso resolver uma coisa.

Antes de sair, olhou pra trás:

— Eu volto pra ver você depois.

Ouvi seus passos se afastando pelo corredor e fechei os olhos, exausta.

Mais uma vez, Serena conseguira afastar Daniel de mim. E eu já não tinha forças pra disputar nada.

De qualquer forma, dentro de uma semana, ele estaria livre pra ficar com ela.

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