Capítulo 4
Só quando a festa realmente começou é que percebi o quanto Daniel estava atento à Serena.

Ele puxava a cadeira pra ela, soprava o pão quente antes de entregar, e quando a alça do vestido dela escorregou, ajeitou com um leve toque no ombro.

Nada disso ele jamais fez por mim. Em dois anos ao lado de Daniel, nunca houve um gesto espontâneo de carinho.

Eu costumava achar que era apenas do jeito dele — frio, contido, acima dessas pequenas gentilezas. Mas não era. Ele só não as tinha comigo.

Em dez dias, Belcaster ficaria para trás. E, com ela, qualquer chance de ele me tratar assim.

Segurei a taça de champanhe, ouvindo Serena rir baixinho enquanto conversava com os outros convidados.

Ela falava sobre sua recuperação em Norvane e como sentira falta de Belcaster, cada frase medida, elegante, perfeitamente adequada.

Ao meu lado, uma mulher comentou em tom cúmplice:

— Rena é uma moça encantadora. Com o Daniel tão atencioso assim, é claro que vão acabar juntos.

Apertei o cabo da taça até os dedos doerem.

O anfitrião subiu animado ao palco:

— Certo, pessoal, hora do jogo! Vamos fazer um "isto ou aquilo"!

O telão se acendeu, e ele explicou as regras:

— Duas imagens vão aparecer na tela, e vocês escolhem a que preferem. Sr. Falkner, como convidado de honra, o senhor começa!

A primeira rodada mostrava dois vinhos tintos. Daniel escolheu o da esquerda — o de teor alcoólico mais baixo, sem hesitar.

— A Rena não pode beber nada muito forte. — Explicou.

A sala explodiu em risadas e aplausos.

Depois vieram dois buquês — rosas e lírios.

Daniel escolheu os lírios.

— Rena prefere flores brancas.

A terceira escolha eram dois destinos de viagem — Maravea e Veylund.

— Veylund. Rena precisa de ar puro para se recuperar.

Cada escolha dele era sobre ela.

Observei Daniel no palco e pensei nos nossos dois anos juntos. Ele nunca perguntou do que eu gostava. Nunca lembrou minha comida favorita, nem do lugar onde eu amava estar.

A voz do apresentador soou animada:

— E agora, a rodada final! Esta é especial — duas mulheres lindas!

O telão mostrou as fotos.

À esquerda, Serena, de vestido branco, sorrindo suavemente num jardim, parecendo um anjo. À direita, eu, em um vestido vermelho, num baile, com o olhar firme e intenso.

Pesou o clima no salão inteiro.

Todos os olhos voltaram para Daniel. Ele ficou ali, parado no palco, encarando as fotos, sem dizer nada por alguns segundos.

Esses segundos pareceram séculos pra mim. Eu sabia que ele escolheria Serena. Mesmo assim, uma parte frágil de mim ainda esperava — por pena, por aparência — que ele me escolhesse.

A voz dele saiu pelo microfone:

— Eu escolho... Rena.

A sala explodiu em aplausos e gritos animados. Coloquei a taça sobre a mesa, virei e saí da sala privada.

No banheiro, fiquei diante do espelho, respirando fundo, tentando me recompor. Eu não devia ter esperado nada desde o início.

Quando finalmente consegui me acalmar, saí do banheiro disposta a voltar.

O corredor era mal iluminado, sombras se acumulando nos cantos. Eu estava virando a esquina quando mais alguns daqueles homens bêbados me bloquearam o caminho.

Um deles se aproximou, fedendo a álcool.

— Ei, gata. Sozinha? Que tal beber com a gente?

Dei um passo pra trás.

— Saiam da frente.

Outro tentou me tocar.

— Não fica assim, a gente só quer te conhecer.

Continuei recuando e, pelo canto do olho, vi Daniel parado na porta da sala, conversando com outro convidado. Lancei um olhar suplicante na direção dele. Daniel me viu. A expressão dele escureceu, e ele começou a vir até mim.

Mas, nesse instante, um grito soou dentro da sala:

— Ai! Meu pé…

Daniel se virou na hora e viu Serena segurando numa cadeira, com o rosto pálido.

Correu até ela.

— O que aconteceu?

Com lágrimas se formando nos olhos, ela parecia frágil e adorável.

— Acho que torci o tornozelo.

Daniel se agachou de imediato para examinar o pé dela, esquecendo completamente que eu ainda estava ali, cercada no corredor.

Serena sussurrou algo pra ele, e sem nem olhar pra trás, ele disse:

— Não se preocupe com ela. Ela sabe se virar.

Naquele instante, algo em mim simplesmente quebrou.

Peguei uma garrafa de vinho tinto da mesa ao lado e a arremessei contra a parede. O som ecoou alto, estilhaços voando. Os bêbados se assustaram.

Ergui o gargalo quebrado, com a ponta afiada apontando para eles.

— Sumam daqui!

Eles viram o olhar em meus olhos e fugiram sem discutir.

Os cacos cortaram minha palma; o sangue pingava no chão. Olhei para o ferimento, senti a ardência e disse a mim mesma que não era nada.

...

Depois da festa, fiquei sozinha na entrada do clube, esperando um carro. Daniel saiu logo depois, guiando Serena devagar.

Ela me viu e veio na minha direção.

— Freya, me desculpe por antes. Eu torci o tornozelo de repente, por isso o Danny não pôde te ajudar. Mas pelo visto, você lidou bem com a situação.

O olhar dela caiu sobre minha mão ferida, e um lampejo de satisfação brilhou em seus olhos.

Dei uma risada fria.

— É. Sempre fui boa em me virar sozinha.

O sorriso dela era puro açúcar.

— Que bom. Pra ser sincera, fiquei um pouco preocupada quando o Danny te trouxe hoje. Afinal, vocês dois...

— O quê? — Perguntei, firme.

Ela se inclinou levemente, a voz quase um sussurro:

— Você não acha mesmo que o Danny tem algum sentimento por você, acha? Freya, ele só sente pena. Você está sem casa, e ele te deixou ficar por bondade. Só isso.

— É mesmo?

Um brilho maldoso apareceu em seus olhos.

— Claro. Você viu o jogo hoje. O coração do Danny sempre foi meu. É assim desde o colégio, e nunca vai mudar.

Foi nesse instante que um sedã preto perdeu o controle e veio em nossa direção, em alta velocidade.

Daniel reagiu no mesmo segundo, avançou, puxou Serena para os braços e a protegeu. O carro atingiu em cheio o meu corpo, me jogando contra o chão.

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