Capítulo 6
Acordei de um sono profundo com uma pontada aguda no braço. Olhei e vi o sangue voltando pelo tubo do soro. Apertei o botão de chamada.

Uma enfermeira entrou, franzindo a testa ao ver o tubo.

— Ninguém está cuidando de você? Onde está o seu namorado?

— Ele não é meu namorado. Precisou sair.

— Há quanto tempo? — Perguntou enquanto trocava o soro.

Olhei o relógio na parede: duas da manhã. Daniel tinha saído às sete da noite. Já fazia sete horas.

— Faz tempo. — Respondi.

A enfermeira balançou a cabeça:

— Esses ricos são todos iguais. Só ligam pra aparência. Quando realmente importa, nunca estão por perto.

Depois que ela saiu, eu não consegui mais dormir.

Ao amanhecer, decidi me levantar pra caminhar um pouco. Empurrei o suporte do soro pro corredor e ouvi duas enfermeiras cochichando:

— Aquela moça no andar VIP tem sorte. O namorado dela reservou o andar inteiro pra ela.

— Dizem que ele trouxe especialistas do mundo todo. Ela tem cuidados 24 horas.

— O herdeiro dos Falkner trata ela muito bem. Não saiu do lado dela nem um instante.

Parei incrédula. O andar VIP ficava no décimo andar. Eu estava no oitavo, num quarto comum. Apertei o botão do elevador e subi. Todo o andar estava isolado, mas uma das portas estava iluminada. Aproximei-me e olhei pela fresta. Daniel estava ao lado da cama, alimentando Serena com colheradas de mingau. Ela se recostava no travesseiro, pálida, mas satisfeita.

— Ainda dói? — Ele perguntou suavemente.

— Já me sinto bem melhor. — Serena abriu a boca e aceitou mais uma colherada. — Com você aqui, não tenho medo de nada.

Alfred estava sentado no sofá, descascando uma maçã pra ela. Quando ela terminou o mingau, ele lhe deu uma fatia.

— Coma devagar. Cuidado pra não engasgar. — Disse, com voz afetuosa.

Serena sorriu docemente.

— Sr. Seymour, o senhor é tão bom pra mim. É como um pai de verdade.

Ele acariciou a mão dela.

— Você agora é minha filha. A partir de hoje, esta família também é sua.

Daniel também sorriu e alisou o cabelo de Serena.

— Ainda está tonta?

— Não, só um pouco cansada.

Ele fechou as cortinas e apagou as luzes.

— Então durma mais um pouco. Eu fico aqui com você.

Aquela cena — tão terna, tão íntima — foi uma lâmina cravada em meu coração.

Mordi o lábio com força, engolindo o choro. Virei as costas e deixei o andar VIP.

Voltei pro meu quarto. Disse a mim mesma pra não chorar, eu não podia chorar.

Quatro dias antes do meu voo para Velport, recebi alta. Assim que saí do hospital, vi Daniel encostado em um sedã preto, me esperando.

— Entre.

— Vou pegar um táxi.

— Entre. — Insistiu.

O tom dele trazia uma ameaça velada e não deixava espaço pra recusa. Olhei para seu rosto frio e impassível e, no fim, entrei no carro.

— Para onde estamos indo?

— Um lugar pra você esfriar a cabeça. Você ficou tempo demais presa no hospital.

Meia hora depois, o carro parou em frente à Casa de Leilões Whitman, no distrito financeiro.

Olhei para o pôster na entrada.

— Um leilão?

Daniel saiu do carro.

— É um leilão de arte. Você não gosta dessas coisas?

Eu estava prestes a recusar, mas ao pegar o catálogo que ele me entregou, vi algo familiar. O Lote 47: um colar de pérolas.

Minhas mãos começaram a tremer. Eu conhecia aquele colar muito bem.

Era o da mamãe.

Daniel notou minha expressão mudar.

— O que foi?

Apertei o catálogo entre os dedos.

— Nada. Vamos entrar.

...

No banheiro, minhas mãos tremiam quando disquei pro meu advogado.

— Venda tudo o que eu separei. Agora. Imediatamente.

— Mas, Srta. Seymour, são os bens que a senhora pretendia levar pra Velport...

— Mudei de ideia — respondi com urgência. — Quanto conseguimos?

— Cerca de 100 milhões de dólares.

— Ótimo.

Desliguei e respirei fundo.

Eu precisava recuperar o colar da mamãe.

...

Dentro do salão de leilões, Daniel nos levou até os assentos da primeira fila.

Eu estava prestes a sentar quando uma voz conhecida soou:

— Danny!

Ela usava um vestido rosa-claro. Ainda tinha um curativo na cabeça, mas continuava de uma beleza delicada e frágil. Aproximou-se e entrelaçou o braço no dele, com toda a intimidade do mundo.

Serena olhou pra mim e sorriu docemente:

— Freya, você também veio! Eu tinha dito ao Danny que queria me desculpar com você no leilão, mas não achei que ele realmente fosse trazê-la.

Naquele instante, tudo ficou claro.

Daniel não me trouxera pra "arejar a cabeça", nem pra "me animar". Ele só veio porque Serena queria "se desculpar". E eu — eu era apenas um acessório conveniente, um adereço que ele trouxe junto.

Ao encarar o sorriso triunfante de Serena, até o último vestígio de dor em mim desapareceu. Tudo o que restou foi o vazio.
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