Narrado por Isabella
Ainda me lembro do cheiro do vinho no ar, da forma como o sol aquecia minha pele naquela varanda de pedra e do toque leve da mão de Ares guiando a minha enquanto dançávamos ao som de um violino. Não era um sonho. Era real. Ele tinha feito tudo aquilo por mim. Por nós. Um dia inteiro longe do mundo, como se tudo o que existisse fosse aquele momento suspenso no tempo. E eu, que por tanto tempo fui usada, silenciada, negociada... me vi amada.
Acordei com a luz suave entrando pelas janelas do casarão. O travesseiro ainda guardava o perfume dele. Vesti um robe branco de seda e fui até a varanda. Ares ainda dormia, os traços firmes em descanso, como se ali ele também encontrasse alguma paz. E por alguns minutos eu apenas o observei, sentindo uma estranha sensação de completude e medo ao mesmo tempo.
Porque quando você conhece o que é bom, o medo do fim se instala. O medo de perder, de ver tudo ruir.