Ponto de Vista: Annabelle
O quarto ainda carrega o cheiro dela.
Eu paro diante da cama onde Mara dormiu pelas últimas noites, e um silêncio pesado toma conta de mim. Os lençóis ainda estão um pouco bagunçados, como se ela tivesse acabado de se levantar. Sobre a cadeira, o vestido azul que ela usou no jantar da última noite ainda está dobrado. Eu quase posso ouvir sua risada suave ecoando pelos corredores.
E a dor aperta — doce, porém profunda — como se alguém estivesse apertando o meu coração com a palma das mãos.
Minha filha.
Minha menina.
A pequena que me foi arrancada dos braços antes que eu pudesse vê-la abrir os olhos pela segunda vez.
E agora ela está crescida. Uma mulher. Com seus próprios desejos, sua própria vontade, seu próprio lar.
Eu deveria estar feliz. E estou.
Mas é uma felicidade que vem misturada com saudade.
Me sento na beira da cama e passo a mão sobre o travesseiro ainda com o perfume dela. Um perfume suave, de mel e brisa da manhã. O perfume da lua.
Não importa