5

Enquanto saiam do apartamento, Malú observava cada parte da casa, uma construção moderna e luxuosa que chamava atenção. Talvez nunca tivesse entrado em um apartamento tão bonito. Foi impossível não se perguntar se ele morava ali, pois se tratava de uma construção grande apenas para uma pessoa. Outra dúvida era aquela que lhe tomava o tempo todo, sobre por qual motivo ele a levou ali, nada fazia sentido.  Também percebeu o quanto Dante estava inquieto. Então, o telefone dele tocou, ainda estavam em direção à saída, e o viu atender.

— Pronto — por algum motivo a ligação o deixara mais irritado que o normal. — Mas como assim não encontraram? — Houve uma pausa na ligação para ouvir do outro lado e ele não gostou nada do que lhe foi falado. — Não me importo o que precisa fazer, e nem o quanto vou ter que gastar, mas a encontre!

Malú estremeceu ao ouvir a forma rude com a qual ele falava enquanto entravam no elevador. No entanto, não pôde deixar de prestar atenção, Dante estava procurando por alguém, mais específico, uma mulher. Aquilo a deixou inquieta, seria mais uma refém? Talvez tivesse fugido? Mas sua pergunta não teria resposta tão rápido. Chegaram a um hall, assim que saíram do elevador ele apertou o controle e ela viu um carro tão luxuoso quanto o apartamento tocar um bip destravando. Ainda notou que tinha mais dois carros e uma moto, todas caras, no estacionamento. Na parede, ela viu placas com o nome e sobrenome dele, o que significava que aqueles bens pertenciam a Dante. Ficou curiosa por não ter o sobrenome do governador, já que o ouviu dizer que dera a ele.

— Entre — ordenou.

Ela se perguntou se ele estava acostumado a dar ordens a todos, pois não fazia outra coisa desde que o conheceu.

Quando o carro saiu do estacionamento, uma multidão de pessoas cobriu o veículo, pareciam jornalistas e fotógrafos. Malú ficou agitada e apavorada ao mesmo tempo.

— Não podem vê-la, os vidros são escurecidos.

No entanto, ela não se acalmou, a cada instante tudo era mais assustador, e de alguma forma desejava ter sido vista, assim teria uma chance de sair daquele inferno.

Enquanto ele dirigia, um silêncio torturante invadiu o ambiente, o fato de Dante não lhe dar explicações a deixava muito angustiada. E todos aqueles repórteres em volta do apartamento era intrigante. Agora, já afastados dali, Malú chegou a sentir um frio no estômago ao pensar que talvez ele estivesse lhe enganando, e que seu pai não estivesse em um hospital assim como falava, e que aquilo fosse parte de um plano para enfim acabar com sua vida. Temia o que ele pretendia fazer com ela, passou por sua cabeça a ideia de abrir a porta e pular, mesmo com o carro em movimento, talvez fosse uma alternativa. Quando ela ergueu a mão para ter qualquer ação, ouviu:

— Nem pense nisso — a voz dele soou ríspida.

Um tremor percorreu todo seu corpo com a voz rude de Dante e ela encostou no banco. Malú ficou indignada, afinal, parecia que ele tinha lido seus pensamentos. Aquilo era um absurdo, pois Dante estava concentrado na direção e nem ao menos olhava para o lado. Como era possível aquilo?

Ainda nervosa, sentiu seu corpo ser lançado para frente quando ele freou de uma só vez.

Ela gemeu assustada, pensou que tivessem sofrido algum acidente. Ainda com o coração quase saindo pela boca, o viu sair do carro pleno. Enquanto Dante dava a volta, Malú ficou assustada, não sabia o que ele pretendia. A porta foi aberta abruptamente, e ele praticamente lhe arrancou do carro, puxando seu antebraço. Suas costas tocaram a lataria fria do veículo, ele se colocou à sua frente, acabando com qualquer limite entre ambos. O coração de Malú bateu numa intensidade absurda, foram milhares de sentimentos, medo, surpresa, pressão...  Respirou rápido ao sentir ele tão perto, seus corpos estavam a milímetros de distância. Aquela foi a primeira vez em que ele olhou dentro dos seus olhos. Por um instante, se esqueceu de que era uma vítima de sabe-se lá o quê, e se perdeu na imensidão cor de folhagens do outono, tão frias quanto a estação. Não podia negar que Dante era um homem incrivelmente atraente, daqueles sexy e que faziam qualquer mulher perder o juízo, entretanto, ele era algum tipo de mafioso, perigoso, havia assassinado o próprio tio de forma tão impassível, além do mais, não parecia ser do tipo que se atraia por uma moça como ela, e sim daquelas dignas de capa de revista cheias de procedimentos estéticos, mas ela não estava mesmo a fim de que fosse atrativa deforma alguma para ele, por isso, se recompôs, então, pôde ver uma imensa parede posta entre suas íris, algo impenetrável, obscuro e assustador, que a fizeram retornar ao momento sentindo o medo novamente lhe tomar.

Ele falou de forma intimidadora.

— Olha aqui, estou farto desse seu joguinho. Se eu quisesse te matar, já o teria feito. E eu deveria! — sua voz soou rude e rouca, se impondo a ela.

Então, Dante ficou em completo silêncio, era como se tivesse se perdido por um instante. Enquanto estava tão perto, sentiu um calor queimar suas veias. Os olhos de Malú eram comuns, apesar da leveza que carregavam, porém, algo ali o deixava inquieto, agitado, desejando experimentar algo novo, e ele não gostava nada daquilo. Assim, a soltou. Não foi com nenhum tipo de delicadeza. Malú sentiu a mão bruta dele se afastar, causando um alívio imediato à sua pele. Ele estava com raiva. Parecia tentar conter algo dentro dele.

Sua única reação foi chorar em meio ao turbilhão de emoções que sentia.

— Eu não acredito em suas palavras... — ela falou e Dante se virou para ela.

— Não estou te pedindo para que acredite. — Falou, tornando-se áspero novamente.

Ela fungou.

— Me deixe ir, não aguento mais... — Malú suplicou.

O vento bateu em seu rosto, agitando seus cabelos.

Dante fitou novamente seus olhos, obrigando-se a si mesmo a manter o foco.

— Não! — se aproximou novamente, mas desta vez decidiu não tocá-la. — Entenda de uma vez, a sua vida e a do seu pai se devem a mim. A partir de agora, você só vai respirar se eu quiser que você respire! Só vai falar quando eu autorizar, e se fizer qualquer coisa que eu desaprove, não responderei por mim. Então, seja uma boa menina, por causa do seu pai, e não acabe com a porra da minha paciência!

Naquele instante, Malú ficou quieta, afinal ele falava de seu pai com convicção. Dante estava com ele, havia mesmo uma chance de que Gil estivesse vivo. Então, em meio àquele inferno, notou que havia uma luz no fim do túnel. Se seu pai estivesse vivo, valeria a pena, e por ele, cedeu. Limpou o rosto, respirou fundo e se recompôs.

— Está bem... Eu prometo me comportar.

Ele bufou cheio de incredulidade, no fundo, o que mais incomodava Dante era que sabia que aquilo não seria fácil. Malú não parecia ser o tipo de mulher que aceitava ser domada. Assim que passasse toda a adrenalina e ela descansasse, tinha certeza de que lhe daria trabalho. Mas, por enquanto, aquilo era o suficiente.

Obediente, Malú entrou no carro completamente em silêncio. Dante se sentou no banco do motorista. Foram cerca de dez minutos em mais um completo silêncio.

Aquele se tratava de um hospital particular renomado. Malú sabia que não tinha o mínimo de condições para pagar se quer um café na lanchonete daquele hospital, que mais se parecia com a área de alimentação de um shopping. Quanto mais uma internação. As pessoas ao redor eram tão elegantes que chegavam a incomodar. Ela seguiu Dante e chegaram ao segundo andar do prédio. Um homem vestido de terno, porém mais simples, veio ao encontro de Dante, mas olhou de canto para ela, visivelmente curioso.

— Senhor, bom dia.

— Bom dia, Pedro. Alguma nova informação?

Naquele instante, Malú sabia que ele se referia a outro assunto, talvez fosse a respeito da pessoa que estavam procurando.

— Não.

— E sobre... — Dante fez um gesto com. A cabeça se referindo ao CTI.

— A cirurgia para retirada da bala foi bem, no entanto, ele continua no mesmo estado — o tal Pedro olhou para Malú de canto discretamente, ela notou que ele tinha ciência de que se tratava de seu pai e que por algum motivo a conhecia.

— Tudo bem. Vou falar com o doutor. Peço que fique com... — pela primeira vez, Malú viu Dante constrangido, por algum motivo ele se intimidou em chamá-la pelo nome: — A senhorita.

Mas, num impulso, Malú tocou seu braço, e naquele instante Dante ficou imóvel. Seus olhos se encontraram de imediato, mas rapidamente ele quebrou, se recusando a aceitar a força que exerceu aquele contato em ambos.

— Eu imploro... Me deixe falar com o médico também...

Pedro fitou o chão, era nítida sua lealdade e descrição. Certamente era o homem de confiança de Dante.

Dante respirou fundo, como se desejasse negar. Mas pensou um pouco e concordou.

— Venha.

Então, o acompanhou aliviada.

Um homem bem uniformizado lhes recebeu, era o médico, cumprimentou Dante com atenção e intimidade, ficando visível que o conhecia bem.

— Olá, Dante.

— Olá, doutor César.

— Eu sinto muito por sua perda — o médico completou e Malú ficou surpresa. — Seu tio era um homem fenomenal.

Então, algumas coisas começaram a fazer sentido para Malú. Os repórteres da entrada do apartamento e os pêsames que o doutor acabava de dar a Dante. Já havia sido noticiada a morte do governador. Aquilo foi um gatilho para despertar nela todo o pânico que estava lhe atormentado, se recordou de assistir à cena em que Dante atirou em seu tio, e ficou apavorada, principalmente por vê-lo atuar ali naquele momento como se realmente não tivesse participado daquilo.

— Sim, uma perda lamentável.

Ao ver o estado de Malú ficando pálida, Dante associou imediatamente, mas como sempre tinha controle de tudo, conseguiu resolver a situação facilmente.

— Estão, doutor, esta é Maria Lúcia, filha do senhor Gilberto. Ela está assim, abalada, porque está preocupada com seu pai.

Malú não conseguiu definir o que mais a deixou surpresa, se era a forma gentil com que Dante se comportara naquele momento ou se por ele saber tanto sobre ela e seu pai, como seus nomes. A cada instante, tudo ficava ainda mais intrigante, porém uma coisa era certa: Dante atuava muito bem.

— Sou doutor Cesar Gouveia, cardiologista e cirurgião, fui eu quem operou seu pai. Agora fique calma.

O doutor gentilmente seguiu a um frigobar e pegou uma garrafa de água para ela. Enquanto ele se virava de costas, Dante lançou um olhar, ordenando que ela se contivesse.

Ela segurou as lágrimas, entretanto, não conseguia controlar o seu corpo que tremia. Dr.César entregou a garrafa na sequência.

— Beba, assim ficará mais calma.

Ela levou a garrafa até a boca, observando Dante por cima do gargalo.

O doutor falou:

— Olha, a cirurgia para remoção da bala foi um sucesso, entretanto atingiu uma veia importante e subsequente parte do pulmão, por isso, foi necessário entubá-lo. As próximas horas serão fundamentais.

Aquela enxurrada de lágrimas desceu, afinal, Malú estava feliz por seu pai estar vivo e que ainda houvesse uma chance para ele. Aquela era a melhor notícia que tivera nas últimas horas, não poderia negar isso e muito menos que devia a Dante, só não entendia por qual motivo estava fazendo aquilo.

Dante completou seu teatro como se verdadeiramente se importasse.

— Ela está emocionada com a notícia, em meio a tantas coisas que passamos nas últimas horas, é um alívio, doutor Cesar.

Doutor ainda falou alguns detalhes sobre a cirurgia e, mais uma vez, Malú se surpreendeu quando Dante pediu que o doutor autorizasse que ela entrasse para ver o pai. Foi inevitável não olhar para ele e, mais uma vez naquele dia, seus olhos se cruzaram, as sensações causadas por aquele olhar a deixavam cada vez mais confusa com o que estava acontecendo. No entanto, estava muito satisfeita por poder ver seu pai. Naquele momento, ela se animou e seguiu o doutor para as higienizações e preparações para entrar no CTI.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App