(Ponto de Vista de Aria)
Ao entregar as flores para uma das empregadas, pedindo que as colocasse em um vaso ou algo semelhante, Adam limpou a garganta, numa tentativa frustrada de esconder o constrangimento que sentia diante da mãe, da irmã e das empregadas.
— As flores não eram para você. — Disse, com a voz dura, lançando um olhar breve na minha direção.
Eu mal senti qualquer coisa quando ele disse aquilo, porque, sinceramente, eu já havia perdido o interesse. Apenas queria sair daquela casa o mais rápido possível e não retornar jamais, nem mesmo me importando com o que ainda não havia arrumado. No fundo, só desejava fugir daquela vida horrível…
No mesmo instante, ouvi Eva conter uma risada.
Adam, por sua vez, parecia querer dizer algo, mas acabou desistindo e voltou-se para a mãe.
— Mãe, por favor, devolva a pulseira para ela.
Ela bufou e balançou a cabeça com teimosia.
— Não vou deixá-la sair com isso.
Logo, Adam soltou um grunhido, um sinal claro de que estava começando a perder a paciência.
— Eu nunca vi essa pulseira antes, mãe. Ela pertence à Aria. Por favor, devolva.
A mãe de Adam não se moveu de imediato, mas, quando o fez, foi com um resmungo irritado ao jogar a pulseira em minha direção. Segurei-a com as mãos enquanto ela voltava para o sofá, ocupando o mesmo lugar em que estava quando entrei na sala.
Em seguida, caí de joelhos diante da bagunça que as empregadas haviam feito com minhas roupas e comecei a arrumá-las de novo, apressada, querendo terminar logo para poder sair dali e acabar com aquela sequência constante de humilhações.
Diante de tudo, Adam continuava parado, apenas me observando enquanto eu recolhia os estragos da mãe dele, sem que nenhuma das duas sequer se desculpasse, o que só aumentava o constrangimento que crescia dentro de mim.
Quando terminei, me levantei e o encarei diretamente. Então, olhei para a roupa que ele ainda usava, a mesma do cemitério, e me lembrei de todos os motivos pelos quais eu estava prestes a tomar a melhor decisão da minha vida.
— Como eu disse antes, acabou entre nós. Os papéis do divórcio e minha carta de demissão logo chegarão até você. — Falei, ignorando o modo como o rosto dele se contraiu. — Adeus, Adam.
Virei-me antes mesmo de escutar qualquer resposta, uma vez que não queria mais olhar para o seu rosto.
Logo, afastei-me dele, indo direto até a porta e girando a maçaneta, torcendo para que fosse a última vez.
No entanto, mal dei um passo para fora quando a mão forte de Adam agarrou meu braço e me virou com firmeza para encará-lo.
Foram sete anos ao lado dele, quatro dos quais atuando como secretária, tempo suficiente para eu entender bem o tipo de homem que Adam Miller era: sempre controlado e com uma expressão neutra, como se estivesse acima de tudo.
Mas naquele momento, Adam não estava controlado, muito menos sereno. Parecia alguém que perdera completamente o domínio, e o significado das palavras não fazia mais sentido algum para ele, enquanto apertava meu braço com força.
Lutei para me soltar do seu aperto.
— Me solta. — Rosnei, mas Adam apenas estreitou os olhos, com a raiva queimando através do azul dos seus olhos.
— Você não pode simplesmente ir embora, Aria. — Rosnou.
— Você não manda mais em mim, Adam… E isso não vai acontecer nunca mais! Me solta!
— Isso faz algum sentido pra você? — Gritou no meu rosto, soltando meu braço para passar a mão nos cabelos. — Você não pode simplesmente jogar isso em cima de mim desse jeito!
— Não é jogar quando ambos sabíamos, desde o momento em que dissemos os votos, que isso não daria certo. No fim, você apenas destruiu tudo... Nós dois sabíamos que esse casamento nunca deveria ter acontecido. Então, poupe o teatro e me deixe ir. — Falei, praticamente fervendo, antes de me virar mais uma vez.
— E o vovô? Vai dar um passo desses sem sequer conversar com o homem que armou tudo isso? O mesmo que sempre foi bom com você?
Me virei de volta para ele, irritada com aquela tentativa patética de me fazer sentir culpada.
Meus pensamentos foram até o avô dele por um breve momento, e tentei imaginar como ele reagiria ao saber que eu estava pedindo o divórcio. Ele realmente me tratava com carinho... Mas eu não me abalaria, tampouco deixaria que isso interferisse na minha liberdade.
Recusava-me a colocar o desejo de outra pessoa acima da minha própria felicidade.
— Eu vou falar com ele. Acredite, você não tem com o que se preocupar. — Afirmei e tentei sair mais uma vez, mas claro que Adam não desistiu.
— Eu não vou assinar, Aria. Não vou assinar droga nenhuma!
— O que diabos há de errado com você? — Gritei, exasperada. — Por que não pode simplesmente me deixar ir?
Ele me encarou com os olhos em brasa, determinado.
— Eu não vou assinar os papéis. Também não vou aceitar sua demissão. A empresa tem regras que você precisa seguir. Não pode apenas decidir sair sem aviso prévio, especialmente com tanto trabalho acumulado. Eu te pago para isso!
Soltei uma risada seca, indignada com a ousadia dele.
Era inacreditável o quanto Adam conseguia ser egoísta e completamente insensível ao que havia feito.
— Você tem a Sophia, não tem? — Disparei, vendo a testa dele se franzir.
— O que você está insinuando?
— Todos adoram a Sophia. Ela é inteligente, bonita e pode cuidar do seu trabalho por você. E ah, quase me esqueci: também está grávida do seu filho. Que coincidência perfeita, não é?
A mãe de Adam se levantou num pulo, claramente surpresa. Pelo visto, acabava de descobrir que teria um neto.
— Adam, é verdade o que ela está dizendo? Você vai ter um filho? — Eva perguntou, empolgada.
Sem revelar nenhuma emoção, Adam não voltou os olhos para a mãe ou para a irmã, permanecendo com o olhar fixo em mim.
— Aria, o que aconteceu entre mim e a Sophia não foi intencional, só…
— Nem se atreva a inventar desculpas por ela! Quem se importa com o que ela pensa? A Sophia sempre foi quem você mereceu. A única mulher digna de ser minha nora. — Interrompeu a mãe dele, lançando um olhar repulsivo para mim.
Mas aquilo já não me abalava mais.
Apenas dei de ombros para Adam, como quem dizia: "Está vendo? Eu tinha razão."
Todos queriam Sophia, até ele. — E nem sequer tinha coragem de negar.
No entanto, ele continuou ignorando a mãe.
— Aria, foi um acidente. — Repetiu, e eu apenas assenti, como se concordasse.
— Três anos atrás, você não pensou assim. Não achou que dormir comigo foi um acidente, achou que eu tinha te drogado para conseguir isso. O que mudou, Adam? Porque tudo o que vejo agora é um maldito hipócrita. Um covarde que prefere culpar os outros pelos próprios erros.
Dessa vez, quando me virei, não parei.
Muito menos, hesitei.
— Aria! Aria, volta aqui enquanto eu ainda estou sendo compassivo! Aria, juro por Deus, se você sair por essa porta, não te aceito de volta nem de joelhos! Você precisa de mim, Aria. Você não vai sobreviver sem mim!
Adam gritou atrás de mim, mas eu continuei caminhando. No fundo, suas palavras arrogantes só alimentavam minha vontade de ir embora.
Ignorei o resto do que ele dizia ao abrir a porta e, enfim, receber minha paz e minha liberdade.
Nunca mais voltaria para aquela realidade miserável!