Capítulo 5

(Ponto de Vista de Aria)

Fiquei grata por Regis não ter feito perguntas enquanto me levava de volta para casa.

Ele se ofereceu para me conduzir até o interior do condomínio, mas recusei e esperei que ele partisse antes de suspirar e entrar na casa. A residência estava tomada por empregadas que correram em minha direção no instante em que ouviram a porta se abrir, mas ergui uma das mãos para impedi-las de se aproximar.

Visto que… Eu já não era mais a senhora daquela casa.

Passei por todas sem falar nada, seguindo para o meu quarto, considerando que Adam e eu só dividíamos o mesmo espaço quando ele desejava satisfazer seus impulsos. Nessas noites, ele se enfiava na minha cama e cobria meu corpo de beijos até que eu cedesse, e essa era a única ocasião em que me sentia desejada por ele. Ao entrar no quarto, evitei encarar a cama por mais tempo do que devia, com medo de que as lembranças de nós dois enredados nos lençóis, com ele mergulhado dentro de mim, destruíssem minha determinação. E, naquele momento, eu tinha apenas uma certeza: deixar Adam para sempre.

Comecei a arrumar minhas coisas enquanto ainda me sentia forte o bastante para isso, sem parar nem por um instante para pensar no fato de que eu não tinha para onde ir. No entanto, não suportava a ideia de passar mais um dia debaixo do mesmo teto que Adam, sabendo o quanto sua traição havia me dilacerado. Logo, separei apenas o que era essencial, prometendo a mim mesma que voltaria mais tarde para buscar o restante, quando o divórcio fosse oficializado.

Enquanto ainda organizava tudo, ouvi uma voz conhecida, aquela mesma que sempre foi capaz de congelar minha espinha. Naquele instante, senti o pavor me atravessar de forma tão intensa que fui obrigada a interromper o que estava fazendo.

A mãe de Adam, Elodie, e sua irmã Eva haviam chegado.

Com um suspiro longo, procurei controlar minha respiração para manter os pensamentos terríveis longe da minha mente. Depois de inspirar profundamente algumas vezes e recuperar o equilíbrio, voltei a organizar tudo. Quando terminei, arrastei a mala pesada para fora do quarto e segui até a sala de estar, onde Elodie e Eva estavam sentadas em um dos sofás, com as pernas cruzadas, como se fossem donas do lugar.

Elodie exibia sua típica carranca, que nem sequer desapareceu quando me curvei para cumprimentá-la.

— Por que está aqui? — Perguntou Elodie, levantando-se. Fiquei confusa com a pergunta, e minha incapacidade de respondê-la fez com que ela soltasse um muxoxo, com o rosto se retorcendo na mais pura expressão de desprezo.

— Quase esqueci o quanto você é burra. — Disse ela. "Burra." Sua palavra preferida para me insultar como bem entendia, e, claro, aquilo ainda doía. Na verdade, doía ainda mais agora que eu percebia que, além de conviver com a indiferença de Adam, eu também suportava o ódio e a total falta de respeito da mãe dele. E, durante todo esse tempo, minha única resposta havia sido o silêncio ou pedidos de desculpas que ela nunca mereceu.

— Por que está aqui e não no escritório? Não vai me responder? — Ela zombou e continuou. — Meu filho trabalha dia e noite para ganhar dinheiro e sustentar uma sanguessuga como você. Tudo o que ele pede é que você cumpra seu trabalho como secretária e nem isso você é capaz de fazer? Acha que tem direito ao dinheiro dele só porque é esposa dele?

Ela me feriu com palavras que atingiram meu peito como golpes certeiros, e a cada frase, meus nervos eram despedaçados lentamente. Logo, uma força começou a surgir dentro de mim, uma presença constante que até então eu conseguia manter sob controle…

Para piorar, Eva, a irmã esnobe de Adam, fez questão de se intrometer:

— Ela não passa de uma farsante que iludiu meu irmão, que é bem inocente, e para piorar, por que ainda não está no escritório? Que preguiçosa! Nem sei como o vovô aceitou uma vagabunda sem um tostão como parte da nossa família de elite!

— Eu tive que ir ao funeral da minha avó. — Respondi de forma simples, esperando que a carranca no rosto dela sumisse, mas ela apenas se intensificou, acompanhada de um bufar debochado. "Elodie e Eva sequer sabiam que minha avó havia morrido?"

— Está morta mesmo ou isso é apenas encenação? — Eva teve a audácia de perguntar, então lancei-lhe um olhar fulminante.

Elodie continuou:

— Claro, então esse é o seu pretexto para ser uma vadia preguiçosa. Me diga, foi sua avó quem te ensinou a viver às custas dos outros ao invés de trabalhar?

Aquilo que crescia em mim desde o instante em que vi a mãe de Adam finalmente atingiu o auge. Era raiva. Vermelha, pura e ardente, dominando cada parte do meu ser a ponto de eu não conseguir pensar em nada além de proteger o nome da minha avó.

— Não fale da minha avó desse jeito! — Gritei, e ela se sobressaltou, surpresa com meu rompante.

— Você gritou comigo? — Disse ela, dando um passo à frente, mas eu não recuei enquanto mantinha o olhar firme.

Então, a Eva se aproximou e berrou:

— Você gritou com a minha mãe?

Sempre que podia, ela tentava me rebaixar, e naquela hora agarrou meu braço com tanta força que eu estremeci de dor. Elodie, por sua vez, sorriu, claramente aproveitando a situação. Sem hesitar, empurrei Eva com a outra mão, fazendo-a cair no sofá, chocada, pois eu costumava aceitar as humilhações, mas, naquele momento, finalmente reagi.

— Esqueceu seu lugar? Você não passa de uma…

— Interesseira que se casou com seu filho por dinheiro? Já entendi! — Interrompi, exausta dos mesmos insultos repetidos. — Mas não precisam mais se preocupar com isso, porque eu já dei entrada no divórcio. Estou deixando seu filho, então pode se deleitar com todo o dinheiro dele, por mim.

Me virei para sair, bufando enquanto arrastava a mala pesada comigo, mas Elodie cravou a mão sobre a alça para me impedir. Em seguida, olhou para a mala com diversão.

— Nossa, você está mesmo indo embora! — Ela nem disfarçou a alegria na voz.

— Sim, então, faça-me o favor e me deixe ir.

Ela balançou a cabeça.

— Não tão rápido! Você não pode simplesmente sair assim. — E então fez um sinal para duas das empregadas que haviam assistido a tudo em silêncio.

— Revistem ela! — Ordenou quando se aproximaram. Elas hesitaram por um instante, mas Elodie rapidamente lançou-lhes um olhar fulminante que as fez recuar.

— Não ouviram? Ela não é mais a senhora da casa. Revistem-na agora!

Fiquei tão atônita que não consegui reagir quando as empregadas arrancaram minha mala das mãos. No mesmo instante, Eva tentou me segurar, impedindo que eu a tomasse de volta.

— O que pensa que está fazendo? — Perguntei, com a voz trêmula.

— Não posso deixá-la sair assim. Vai saber o que está escondendo nessa sua bolsa infecta que roubou do meu filho.

Sem conseguir articular uma frase coerente, minha boca se abriu e fechou várias vezes, enquanto eu apenas observava minhas coisas sendo jogadas ao chão durante a revista agressiva. As lágrimas de humilhação queimavam meus olhos, e eu finalmente cedi ao aperto de Eva, que me encarava triunfante.

— O que é isso? Entregue. — Indagou Elodie quando uma das empregadas encontrou uma pulseira de ouro dentro da mala: a pulseira da minha avó... A única lembrança que me restava dela.

— Não! — Corri para impedir, mas já era tarde. A mãe de Adam já segurava e examinava a peça.

— Nossa! Mãe, você encontrou mesmo algo que ela roubou do Adam! — Eva exclamou, e então me puxou com força, arremessando-me contra o mármore. Meu nariz bateu com força e, assim que o toquei, percebi que sangrava, então limpei rapidamente antes de me levantar num salto.

— Eu sabia! Então, realmente pegou alguma coisa que não te dava direito. Foi meu filho quem te deu isso? Quem te deu o direito de sair com algo que ele te deu, mesmo depois de pedir o divórcio? — Elodie esbravejou.

— Isso não pertence ao seu filho! É meu, e eu gostaria que devolvesse.

No entanto, ela fez o oposto, continuando a me acusar de ladra, até que a porta se abriu e Adam entrou. Não senti alívio ao vê-lo, como costumava sentir sempre que sua mãe me tratava daquele jeito. Em vez disso, só consegui sentir raiva... Quis gritar o quanto o odiava.

Logo, seu rosto se contorceu em confusão ao ver a cena.

— O que está acontecendo aqui? — Perguntou, avançando para dentro da casa e alternando o olhar entre a sua mãe e eu.

— Ainda bem que chegou, filho. Essa parasita estava prestes a fugir com algo que claramente não é dela. — Respondeu a mãe dele.

— E ela me agrediu! — Eva acrescentou, quase chorando, tentando arrancar compaixão dele.

Dessa vez, Adam ficou tão chocado que sequer me perguntou por que eu agredi sua querida irmã. Acreditei que, como de costume, ele exigiria que eu me desculpasse, mas, para minha surpresa, não fez absolutamente nada. Por isso, passei a me perguntar o motivo daquela mudança.

Meus olhos começaram a lacrimejar sem motivo aparente, e me perguntei por que a presença de Adam havia disparado aquela reação. Ainda assim, sorri por entre as lágrimas.

— Adam, você poderia, por favor, dizer à sua mãe que nunca recebi nenhum presente seu?

Adam hesitou, sem palavras por um instante, encarando as próprias mãos. Acompanhei seu olhar e, então, compreendi por que meus olhos ardiam e por que meu nariz se preparava para um espirro daqueles. Lírios! Eu era alérgica a lírios!

Mesmo enquanto as lágrimas insistiam em cair, comecei a rir alto, ignorando completamente os olhares inquisidores, que provavelmente achavam que eu havia enlouquecido. Entre uma risada e outra, espirrava, mas nem assim consegui parar de rir enquanto me virava para a mãe de Adam.

— Estou casada com seu filho há três anos e ele nem sequer sabe que sou alérgica a lírios, e você acha mesmo que ele me deu essa pulseira?

Em seguida, balancei a cabeça diante da triste realidade que era a minha vida.
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