O trem chegou a Barcelona pouco depois das dez da manhã, atravessando a cidade como uma linha que costura possibilidades.
Allegra desceu com os olhos famintos.
O ar era diferente.
Mais quente, mais salgado, mais elétrico.
Como se cada rua estivesse prestes a contar uma história.
Lucca vinha ao seu lado, sorrindo.
O violino nas costas.
As mãos nos bolsos.
— A cidade parece que dança — ela murmurou.
— Porque dança mesmo.
Mas espera você entrar no ritmo.
O carro que os levou até a casa temporária cruzou bairros com grafites imensos, ruas estreitas com varais coloridos e pátios onde senhores jogavam cartas.
Tudo era vivo.
Tudo era arte.
A casa ficava no bairro de Gràcia — charmoso, boêmio, cheio de cafés que pareciam ilustrações.
Era uma construção antiga, de fachada amarela e janelas com molduras verdes.
No portão, um detalhe em ferro dizia: “Casa de la Llum” — Casa da Luz.
Quando entraram, Allegra prendeu a respiração.
O chão era de ladrilhos hidráulicos, os tetos altos, e a luz…
a luz