A quinta-feira amanheceu nublada em Paris, como se o céu estivesse segurando a respiração junto com ela.
Allegra acordou antes do despertador, tomou um banho demorado e vestiu um suéter cinza claro — o mesmo que usou quando pintou Resposta ao Silêncio.
Era sua armadura macia.
Na cozinha, Sophia preparava café e fingia não estar nervosa.
— Tá tudo certo, Allegra. É só uma entrevista.
— Ao vivo.
Na rádio mais ouvida da França.
Com perguntas que eu não faço ideia.
— Você já respondeu perguntas muito mais difíceis.
Tipo: “Você quer continuar viva?”
Allegra soltou um riso trêmulo. Sophia estava certa. Como sempre.
— Só… me escuta hoje? Mesmo de longe?
— Eu vou estar colada no rádio. E Louis vai miar na hora dos aplausos.
A sede da France Culture ficava no coração de Paris, cercada por cafés antigos e prédios com janelas elegantes.
Lucca a acompanhou até a porta, de mãos dadas com ela o tempo todo.
— Vai dar certo.
— Eu sei.
— E se não der, também vai.
Porque você não precisa ser perfeita.