Na manhã da entrevista, Allegra acordou com o som da chaleira apitando.
Lá fora, a neblina cobria o lago como um véu, e o estúdio cheirava a carvão, chá de canela e tinta acrílica.
Lucca entrou no quarto com duas canecas fumegantes.
— Eles chegam às dez. BBC em pessoa.
Tá preparada pra virar ícone nacional?
— Já sou ícone no bairro de Sophia — ela respondeu, rindo. — E Louis é meu agente.
— Então agora é internacional.
Darcy apareceu quinze minutos antes da equipe, organizando o ateliê com uma leveza invejável.
— Não escondam os pincéis sujos.
Nem as partituras amassadas.
É isso que o mundo precisa ver: o processo, não só o resultado.
Quando a equipe da BBC chegou, Allegra sentiu o estômago revirar.
Mas bastaram alguns minutos diante das câmeras — e perguntas feitas com curiosidade genuína — para que ela encontrasse o tom certo da própria voz.
— A arte me salvou de mim mesma — disse ela, olhando para o repórter. — Mas, mais do que isso, me devolveu uma versão de mim que eu achava que