Depois que Sophia saiu para o trabalho, deixei o envelope sobre a escrivaninha do ateliê e fiquei encarando a luz que atravessava a pequena janela triangular. Era uma daquelas manhãs que pareciam querer sussurrar alguma coisa para quem estivesse disposto a ouvir.
Outra exposição.
Quatro obras.
Duas já estavam quase prontas, encostadas em cavaletes improvisados e manchadas de tinta, como se tivessem nascido do caos — e talvez tivessem mesmo. Mas as outras duas? Ainda eram só ideias soltas, imagens desorganizadas dentro de mim.
Respirei fundo.
Peguei o caderno e sentei no chão, entre pincéis espalhados e vestígios de tinta nos dedos. Rabisquei formas sem pretensão, como quem busca uma voz entre os traços. Um fio de cabelo caiu no papel e eu ri sozinha. Era isso que minha vida tinha virado: uma bagunça delicada e, estranhamente, minha.
Louis se espreguiçou no tapete, bocejando alto, como se me lembrasse que o tempo passava — e que, no fim, tudo o que eu precisava era continuar. Uma pince