A manhã da exposição começou com café preto e mãos trêmulas.
Sophia insistia que tudo estava sob controle — as obras foram entregues no dia anterior, a galeria já tinha montado tudo, os nomes estavam corretos nas placas. Mas ainda assim, havia algo dentro de mim que parecia correr por dentro da pele, como se as veias carregassem tinta em vez de sangue.
— Allegra Bianchi — ela disse, encostada no batente da porta com uma caneca na mão. — Você é oficialmente uma artista parisiense. Precisa de uma música de entrada.
— Preciso de um calmante, talvez.
— Nada disso. Vai vestir aquele vestido azul. O das mangas largas. E vai colocar aquele batom que assusta homens inseguros.
— E encanta mulheres decididas?
— Exatamente.
Enquanto me arrumava, pensei em tudo que tinha acontecido desde que cheguei a Paris. Desde que fugi de Nápoles com uma mala pequena, um coração quebrado e a sensação de que eu mesma tinha me apagado.
Agora, eu estava aqui.
No espelho, vi meu reflexo. Os olhos já não eram mais