Era a primeira noite em duas semanas que voltava ao meu quarto. Deitei na cama grande, a que agora era só minha outra vez, e o vazio ao meu lado era um abismo físico. O colchão não cedia do jeito certo, os lençóis cheiravam apenas a limpo, não àquele misto de suor, terra e algo que era simplesmente ele.

Havia uma dor surda no peito, uma pontada de abstinência que nenhum remédio poderia curar. Eu, que tinha dormido sozinha a vida toda, me descobrira viciada no calor de outro corpo. Nos seus suspiros tranquilos durante a noite, no peso do braço dele jogado sobre a minha cintura, ancorando-me na realidade, impedindo que os pesadelos me arrastassem para o porão da memória.

A solidão era um som. Um zumbido agudo no ouvido, por baixo do crepitar da lareira lá embaixo. Era o eco de um espaço que deveria estar ocupado.

Fechei os olhos, forcei. A mente, traiçoeira, projetou a memória dele ali. O contorno do seu corpo sob o edredom, a curva do ombro, a te