Matheus narrando .
A noite não acabou quando fechei os olhos.
Ela ficou presa na minha cabeça, rodando como um filme que eu não pedi pra assistir.
E pior , cada cena tinha gosto de culpa e de algo que eu não queria admitir.
Levantei antes do despertador tocar.
O espelho do banheiro me devolveu uma cara cansada, os olhos um pouco mais fundos do que ontem.
Vesti qualquer camisa, não me importei em abotoar direito, e desci as escadas sem pressa.
A cozinha já estava acordada.
O cheiro de café se misturava ao de pão quente, e as vozes baixas vinham da copa.
Valéria estava sentada à mesa, coque alto, roupa simples, o olhar perdido no café que mexia sem beber.
Clarissa, minha mãe, estava do lado oposto, impecável como sempre , vestido alinhado, cabelo preso, anéis discretos.
Ela olhou pra mim e sorriu.
— Bom dia, filho.
— Bom dia.
Meu olhar passou rápido por Valéria. Ela respondeu com um “bom dia” tão baixo que parecia ter medo que alguém ouvisse. Não ergueu os olhos nem por um