Alice Narrando.
O hospital tinha aquele mesmo cheiro de sempre: desinfetante, silêncio forçado e uma urgência que pairava no ar.
Quando acordei ali, atordoada, com dores pelo corpo e o som dos monitores apitando em volta, a primeira pessoa que vi foi ele. Otávio. Parado na porta do quarto, o olhar perdido, mas ainda assim... presente.
Não era por mim. Eu sabia. Mas por um segundo, vi algo no rosto dele. Talvez cansaço, talvez compaixão. Talvez só o reflexo de tudo que estava desmoronando ao redor dele.
Naquele instante, algo pesou em mim.
Eu passei dos limites.
Foi a primeira vez que pensei isso com clareza.
Não era pra ter ido tão longe.
Não era pra ter deixado minha raiva me transformar em alguém que machuca.
Durante os dias que se seguiram, essa culpa foi crescendo, silenciosa, como uma mancha que eu não conseguia limpar. Eu revivia tudo o que tinha feito, dito, ameaçado. Eu tinha jogado sujo. Tinha tentado controlar alguém que claramente já não me pertencia. E, no fim… fu