Enzo Albuquerque
Descer aquelas escadas com Ana Luiza ao meu lado, depois de colocar nosso filho na cama, era como experimentar um tipo de paz que eu não sentia havia tempos. A noite lá fora estava serena, e o leve tilintar das taças de vinho sobre a mesa ecoava como uma trilha sonora suave para o momento que se desenhava.
Ela se sentou no sofá, cruzando as pernas devagar, vestindo aquele moletom velho que eu sabia que só aparecia quando ela realmente estava à vontade. Peguei as duas taças e a garrafa de vinho que repousava no aparador. Servi o líquido rubro com calma e me acomodei ao lado dela.
— Por que você está me olhando assim? — perguntou ela, sorrindo por trás da taça.
— Porque você é linda — respondi, sem pensar. Era uma daquelas verdades que não exigiam floreios.
Ela balançou a cabeça, rindo baixinho. Bebeu um gole e repousou a taça sobre o joelho.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. O momento era bom demais para arriscar estragá-lo, mas havia algo me corroendo por dent