Dois meses. Era estranho dizer isso em voz alta. Dois meses desde os dias intermináveis no hospital, desde os olhares trocados em silêncio entre mim e Enzo, cheios de medo e esperança. Dois meses desde que a vida finalmente começou a nos devolver aquilo que ela havia tirado sem aviso: a paz. Ou pelo menos, um pouquinho dela.
Aos poucos, tudo estava voltando ao lugar. Não exatamente ao mesmo lugar, é claro, porque algumas coisas mudam para sempre. Mas estávamos aprendendo a viver com essa nova configuração, mais delicada, mais sensível e talvez até mais bonita.
Estava na cozinha, cortando os legumes para o jantar, quando senti dois bracinhos finos envolverem minhas pernas. Abaixei o olhar e vi aquele rostinho que era metade meu, metade Enzo, me olhando com aquele sorriso que fazia qualquer cansaço do dia simplesmente desaparecer.
— Mamãe, o papai vem hoje?
A pergunta veio com aquele tom de voz doce, quase como se ele estivesse pedindo permissão para sonhar.
Sorri, acariciando os fios m