Mackenzie entra na Universidade São Antônio para reencontrar sua antiga paixão Sarah, e quando não é bem recebida pela mesma, Mack se vê entre antigas amizades e muitos segredos perturbadores que vão fazê-la perder o sono. Quem diz a verdade? Qual o terrível segredo que Sarah esconde?
Ler maisO sol surgiu no horizonte lentamente, lançou seus raios por entre as frestas da janela de madeira, tocando suavemente a pele do meu rosto. Meus olhos cansados presos no teto, fruto de uma noite sem dormir acompanhavam a escuridão se curvar perante a magestosa luz do dia. Impulsionei meu corpo para cima me sentando sobre a cama, inclinei meu rosto para baixo procurando o celular. Virei o rosto e admirei as malas prontas, senti uma pontada na boca do estômago, estou fazendo a coisa certa? Saltei da cama, caminhei pelo corredor silencioso desenhado por quadros e enfeites, empurrei a porta do banheiro e meu reflexo surgiu no espelho me encarando. Apoiei as mãos na pia, puxei o ar até meus pulmões se encherem completamente e soltei lentamente. O reflexo não parecia ser meu, tinha meus traços, mas não a minha essência, como uma máscara de silicone ocultando minha alma. Entrei no box, abri o chuveiro e enfiei a cabeça em baixo da água, fechei os olhos e senti a água quente deslizar por meu corpo, como se empurrasse meu cansaço para o ralo. Sai do banheiro enrolada na toalha, atravessei o corredor, empurrei a porta do quarto e minha mãe surgiu sentada em minha cama.
-Acordou cedo - disse ela com um sorriso gentil - Não quer mesmo que seu pai te leve?
-Não mãe, posso ir sozinha.
-Você que sabe - disse ela se afastando.
Vesti uma calça jeans azul escura, blusa preta, sapato all star branco e pentiei meu cabelo curto para o lado direito. Apanhei as malas e desci as escadas, sorri para meus pais na cozinha, empurrei a porta da sala e joguei as malas no porta malas do carro. Voltei para dentro de casa, sentei a mesa e me preparei para tomar o último café da manhã em família.
-Pegou o carregador de celular, chaves e documentos?
-Peguei mãe.
-Logo você será médica e trabalhará comigo - disse meu pai com um largo sorriso.
Balancei a cabeça de forma positiva e voltei a comer. Meu pai contou algumas histórias do hospital, mal podia controlar a felicidade de ver sua filha seguir seus passos e estudar medicina, já que meu irmão mais velho foi para o exército, sou a única esperança dele. Me despedi dos meus pais de forma calorosa, entrei no carro e afastei vendo meus pais desaparecerem no retrovisor. No som do carro tocava a música "Breakaway - Kelly Clarkson", antiga mas descrevia exatamente meus sentimentos. As lágrimas deslizaram por meu rosto enquanto a cidade se escondia atrás das montanhas da estrada, se perdendo no espelho retrovisor. Dirigi por cinco horas até enfim me aproximar da Universidade de São Antônio, a referência em medicina e direito. Estacionei diante do prédio vermelho, subi as escadas, empurrei a porta e uma garota surgiu diante de mim.
-Oi
-Oi - respondi.
-Você deve ser a Mackenzie.
-Sim, mas pode me chamar de Mack - respondi.
-Eu sou a Camila, escolhi minha cama, mas se você quiser, podemos trocar.
-Não - respondi - posso ficar com a outra cama.
Minha colega de quarto é interessante, pele negra, cabelos pretos de dread com cera, olhos castanhos escuros, maquiagem discreta, blusa marrom, calça bege e sandálias. Nas paredes pôsteres de paisagens e símbolos budistas.
-Zuri me falou de você - disse Camila - Vocês foram amigas não é?
-Sim, mas não a vejo há cinco anos.
Virei o relógio de pulso digital para meu rosto e notei que estava na hora do meu encontro.
-Sabe onde fica a estátua? - perguntei.
-Sim, é só seguir a feixa amarela no chão.
Agradeci e saltei para o corredor, desci as escadas, sai do prédio e segui a faixa amarela. Andei por cinco minutos até enfim encontrar a estátua, sorri aliviada, sentei no banco voltado para a porta central da universidade, enfiei a mão no bolso e apanhei um pingente em forma de medusa. Minha mente voltou no tempo, por cinco anos até uma tarde fria, eu estava sentada em uma toalha de mesa, em baixo de uma grande árvore, com as costas apoiada no tronco. Ao meu lado Sarah Sorria gentilmente dizendo o quanto nossa amizade era importante para ela. Uma garota linda, cabelos ruivos cacheados, pele branca com sardas, olhos verdes e aparelhos nos dentes. Vestia calça jeans surrada, blusa azul clara, jaqueta jeans e sapatos all star brancos. Ela tirou um pingente de medusa do bolso da calça e me entregou.
-É uma água viva - comentei.
-É uma Turritopsis nutricula, uma medusa imortal. Mesmo que você tenha que se mudar, mesmo que fiquemos por anos sem nos falar, nossa amizade nunca vai morrer. Assim como a medusa, nossa amizade vai rejuvenescer e voltar a ser tão forte quanto é agora.
Eu sorri, a inteligência de Sarah me espantava e ao mesmo tempo me deslumbra.
-Daqui a cinco anos, vamos nos encontrar na estátua da universidade de São Antônio e unir nossos pingentes de medusa, e não importa o que aconteça, nossa amizade vai recomeçar.
Sarah se inclinou e me deu um beijo, foi simples, seus lábios apenas tocaram os meus, mas aos treze anos pareceu uma declaração de amor. Ela deitou sua cabeça em meu ombro e assistimos o sol se pôr atrás das montanhas deixando o céu alaranjado. De repente voltei para universidade, nem percebi que já tinha escurecido e eu estava sozinha. No celular tocava a música "Without me - Halsey", parecia cair como uma luva na minha situação. Sarah não apareceu, isso não faz sentido, essa universidade era o sonho dela. Inclinei o corpo para baixo e esfregue as mãos no rosto como se tentasse acordar daquele sonho ruim, onde ela está? Saltei do banco e caminhei lentamente acompanhando a batida da música, minha mente desenhava o rosto de Sarah em cada pessoa que passava por mim, como uma estranha pareidolia. Entrei no meu prédio, subi as escadas, empurrei a porta e Camila surgiu diante de mim discutindo no telefone.
-Garota, você precisa se trocar - disse ela - temos uma festa para ir.
-Eu acabei de chegar.
-Nem tente arrumar desculpa, você vai sim - disse ela me empurrando sobre a mala.
Descemos a escada e caminhamos até uma caminhonete vermelha estacionada na esquina. Camila ria e dizia o quanto Zuri me elogiava. De repente uma garota passou por mim e bateu seu ombro no meu peito, meu corpo foi empurrado para trás, virei o rosto confusa. Eu conhecia aquele perfume.
-Sarah? - perguntei.
Ela parou ainda de costas para mim, ficou alguns segundos sem se mover, como se questionasse se deveria se virar. Vestia uma blusa preta cumprida que cobria quase todo seu corpo. Ela virou lentamente e seus olhos subiram do chão como se lutassem contra a situação.
-Oi Mack.
-Eu fui no nosso ponto de encontro hoje - comentei - você não foi.
-Eu fui, a data do encontro era ano passado.
-Não - respondi - foi hoje.
Sarah arrastou os olhos para Camila.
-Preciso ir - disse Sarah - a gente se vê.
Sarah deu as costas e se afastou, apertando a blusa na frente do corpo. Eu lancei meus olhos para o chão, tentava lembrar a data que marcamos, parecia errado. Camila se aproximou e tocou meu braço.
-Fica longe dela - disse Camila.
-Por quê?
-Ela é problema - Camila respondeu.
Acompanhei Sarah desaparecer na escuridão, enfiei a mão no bolso e senti o pingente de medusa. O que aconteceu? Por que ela foi tão fria?
-Vamos para a festa - disse Camila me puxando para dentro do carro.
A música da Halsey ecoava em minha cabeça, eu criei muita espectativa em nosso reencontro e agora estava confusa, perdida em sua atitude gélida e seu olhar vazio. Inclinei o rosto para baixo e deixei a música levar meus pensamentos para além das montanhas, por entre o horizonte, para os lábios macios e quentes de Sarah.
-Por quê você disse que Sarah é um problema?
-Esquece isso Mack, só curte a festa de boas vindas dos meninos do futebol - disse Camila jogando seus olhos para fora da janela.
Um clima tenso se formou no ar e parecia se despejar sobre meu rosto, Camila engoliu a seco e apertou os dentes, demonstrando ressentimento. Alguma coisa aconteceu entre a Camila e a Sarah, e foi algo muito ruim. Mas eu certamente não descobrirei nada hoje com a Camila. Apoiei a nuca no encosto do banco e suspirei, amanhã tento conversar com a Sarah, agora vou apenas tentar relaxar na tal festa.
Meus pais me buscaram em casa e me levaram até a casa do lago. Desci do carro diante da casa, respirei fundo sentindo um frio na barriga, minhas mãos suavam e tremiam. Minha mãe ficou diante de mim com um sorriso largo e lágrimas nos olhos.-Está linda.-Obrigada mãe.Meu pai me abraçou controlando as lágrimas.-Estou orgulhoso de você filha - disse ele.-Obrigada Pai. Quem vai entrar comigo?-Nós vamos entrar com você - disse minha mãe.Meu pai ficou do meu lado direito e minha mãe ficou do meu lado esquerdo, pegaram em meu braço e caminharam comigo, demos a volta na casa e diante de nós surgiu um lugar lindo, cheio de flores, fitas coloridas, uma banda tocava a música "Se eu não te amasse tanto assim - Geórgia Castro" e o lago ao fundo. Caminhei com as pernas trêmulas até o juiz de paz que me lançou um sorriso orgulhoso.-Oi - cumprimentei.-Oi - Ele respondeu.E
Eu, Peny, Pedro e Phelipe fomos comprar carne no açougue enquanto nossos demais amigos foram para a casa do lago pois faríamos um churrasco para comemorar a vida é a liberdade. Pedro e Phelipe discordavam de qual carne seria mais macia enquanto Peny de braços cruzados balançava o corpo de um lado para outro demonstrando estar ansiosa. Seu olhar perdido deslizava sobre o vidro da vitrine como se procurasse uma resposta por entre as peças de carne.-Está tudo bem? - perguntei.-Sim.Seria emoção reprimida do momento emocionante que tivemos?-Precisa conversar? - perguntei.-Não se preocupe.-Não pode guardar tudo pra você, pois uma hora isso vai acabar te sufocando.-Estou confusa - Disse Peny - agora que nossa empresa cresceu e conseguimos o apoio do governo estamos ajudando muitas pessoas, mas também conhecendo muitas histórias tristes.-Entendo.-Recentemente uma criança de n
Lindsay trouxe os filhos para a Sarah conhecer na semana seguinte, a ligação entre os irmãos foi instantânea, o amor transbordou o coração de Sarah e escorreu por seu rosto iluminado. Desde então vamos almoçar na casa de Lindsay todo o domingo. Robert abraçou a ideia de ter Sarah como filha e aceitou Ian como seu neto, ele é sempre atencioso e prestativo, e tenta estar sempre presente na vida do neto. O bebê da Carson nasceu em poucos meses, saudável e linda. May escolheu o nome e a pequena Amanda se tornou a alegria da família, e por coincidência a primeira palavra que ela disse foi "Manda". Alice e Peny abriram uma empresa para qualificar pessoas transexuais para o mercado de trabalho, também da total apoio psicológico e financeiro para as pessoas que são expulsas de casa pelos pais. Pedro e May abriram uma academia e ensinaram defesa pessoal para mulheres e homens que precisavam se sentir mais confiantes depois de algum trauma. Pedro e Taylor tiveram filhos gêmeos, dois meninos,
Depois de algumas horas andando de um lado para outro, ansiosa, desesperada para ver Sarah e o bebê, senti um toque no ombro. A mesma enfermeira que nos recebeu quando chegamos me lançou um sorriso.-Calma Mãe - disse ela - Eles estão bem, mas a mamãe precisa descansar.-Eles vão sair ainda hoje? - perguntei.-Esta previsto para recebermem alta hoje a noite - disse ela.Eu precisava ir para casa, pois a cadeirinha foi instalada no meu carro. Minha mãe disse que ficaria no hospital com a Sarah, e me manteria informada. Eu, meu pai e nossos amigos fomos para casa, pedimos comida, passamos o dia conversando e ao entardecer voltei sozinha para o hospital. Passei na floricultura, comprei uma cesta com flores, ursinho de pelúcia, chocolates e muffin. Saltei do carro no estacionamento, subi de elevador até a recepção, uma enfermeira me acompanhou até o quarto da Sarah. Empurrei a porta lentamente, Sarah estava pronta para sair, com jeans, cas
Passamos o dia conversando, contamos tudo para meus pais, desde a Zuri ter incendiado a casa da Amanda, até as prisões. Minha mãe ouviu tudo em silêncio, meu pai movia o corpo na cadeira de forma agressiva demonstrando estar inconformado.-Nunca gostei daquela garota - disse minha mãe sobre a Zuri.Assim que terminamos de comer e atualizar meus pais, Sarah saiu da mesa, caminhou até o quintal atrás da casa, se sentou em um banco de madeira, preso a viga do teto por correntes. Sai da casa, me sentei ao seu lado, agarrei sua mão e entrelacei os dedos.-Sinto muito por ter que reviver tudo outra vez.-Tudo bem - Sarah respondeu.Ao longe tocava a música "Fugitivos - Day Limns". Puxei seu corpo, a abracei com força.-Vou ter que aprender a lidar com isso assim como lidamos com os ataques.-Sim - respondi - Nos sempre estaremos com Você.Sarah apoiou o rosto em meu peito, suspirou e deixou o e
A semana se seguiu regada por denúncias e prisões, mas de trezentas pessoas foram a delegacia em nome da Medusa e mais de cento e oitenta foram presas dentro e fora do país. A polícia voltou a cabana, cavou por alguns dias e encontrou a ossada de doze pessoas e dez bebês traficados foram resgatados e entregues para suas respectivas famílias. A universidade São Antônio postou um comunicado se sensibilizando com as vítimas e garantindo que ressarciria cada aluno e família, mas declarou Falência poucos dias depois. O domingo amanheceu quente com o céu limpo, decidimos fazer um churrasco para comemorar a Revolução que causamos. vestimos roupas de banho e passamos o dia tomando sol e relembrando nossos últimos dias, orgulhosos por enfrentar nossos demônios, aceitá-los e seguir em frente. Ao entardecer uma viatura se aproximou da casa, o delegado saltou do carro e nos chamou para conversar. Nos reunimos na sala ansiosos por novidades.-A investigação ainda não termi
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