Capítulo 6 - Pouca Pausa

Camila empurrou a porta e entrou sorrindo, apanhou o copo de café da Alice e bebeu um gole. 

-Zuri vai chegar daqui a pouco - disse Camila apoiando o copo na mesa - Vai pegar seu biquíni. 

Alice saltou da cama, se inclinou e me deu um beijo suave, apanhou o copo de café e saiu do quarto. Camila me lançou um olhar malicioso. 

-Você é lésbica - Disse Camila com uma feição de espanto - E está com a Alice. 

-Sim. 

-Aquele abraço que nós demos é de amizade, tá? - Camila perguntou. 

-Tá bom. 

-Apenas estou esclarecendo para que não haja nenhum conflito de interesses - disse Camila. 

-Não se preocupe, você não faz meu tipo. 

-Que bom - Camila suspirou - Qual é seu tipo? 

-O tipo que gosta de mulher. 

-Ah, sim, isso é importante. - disse Camila com um sorriso tímido. 

-Ser heterossexual não te faz querer transar com todos os homens que você conhece. Você tem suas preferências. 

-Sim - Camila concordou. 

-Ser homossexual é parecido, eu me atraio por mulheres, mas não tenho vontade de transar com todas as mulheres que conheço, também tenho minhas preferências. 

-Não sente atração por suas amigas? - Camila perguntou. 

-Não, só a Alice. 

-A propósito, não crie espectativas com a Alice - disse Camila enfiando o biquíni na mochila - ela é bonita, inteligente, gentil e tem seu charme, mas tem uma alma livre, vai fugir assim que sentir que você está se apegando. Nao tem relação com a sexualidade, acho que é trauma de algum relacionamento do passado. 

-Obrigada pela dica. 

-Agora pega seu biquíni, vamos para praia. 

-Me desculpa mas, estou com dor de cabeça, acho que vou ficar por aqui.

-Toma uma aspirina - disse Camila - É uma tradição, todo mundo vai. 

-Eu sei, mas prefiro ficar.

-Quer que eu fique com você? - Camila perguntou - Ou a Alice? 

-Não, vão se divertir. 

Camila me lançou um sorriso gentil, jogou a mochila nos ombros, apanhou o casaco e saiu pela porta correndo. Ouvi o carro da Zuri se aproximar, estava com o som alto e tocava a música "Aquela - Anaju". Inclinei o corpo e através da janela assisti Camila saltar para dentro de uma range rover evoque preta com teto branco e vidros fumê. As meninas deram um grito para os meninos que passaram em um Audi e-tron Performance azul e saíram em alta velocidade em direção a estrada. Apanhei o notebook, desci as escadas, atravessei a porta e muitos carros passaram por mim, eles levam muito a sério essa tradição. Desci a rua, atravessei a praça e me sentei na grama ao lado de uma árvore. Apoiei as costas no tronco, coloquei o notebook sobre os joelhos, puxei a tela para cima, escolhi um filme de comédia e apertei o play. Meu rosto desceu lentamente em um cochilo subto, arregalei os olhos empurrando o rosto apra cima. Levei as mãos ao rosto e esfregue os olhos, estava na hora do almoço. Desci a tela do notebook, apoiei as mãos no chão ficando sobre os pés, bati as mãos na calça para limpar a terra e grama. Caminhei até o refeitório e me surpreendi pois estáva fechado. 

-Eles levam muito a sério essa tradição estranha - Sussurrei. 

Dei as costas, caminhei sobre a grama, subi a escada e desci a rua até o café que também estava fechado. 

-Merda - Sussurrei. 

Virei o rosto passando os olhos ao redor, vou ter que recorrer aos chocolates e refrigerantes das máquinas. Bati as maos no bolso. 

-Merda - Sussurrei. 

Estou sem moedas, enfiei as mãos nos bolsos, joguei meus olhos para o chão e caminhei em direção a meu dormitório. Levantei o rosto e Sarah estava sentada em um banco de pedra próximo da escada da praça, como não tinha visto ela? Virei o corpo para trás e voltei a descer a rua, o que eu deveria fazer? Não tem nada lá embaixo, preciso ir para o quarto pegar as moedas. Virei o corpo novamente e voltei a subir a rua, Sarah sentiu minha presença e levantou o rosto. Empurrei o canto dos lábios e lancei um meio sorriso, meu corpo esfriou, minhas pernas amoleceram, como se eu estivesse esquecido como se caminha. Passei por ela o mais rápido que consegui, então me ocorreu que talvez ela conheça algum restaurante que esteja aberto hoje. Virei o corpo para ela e sorri gentilmente. 

-Oi. 

-Oi - Sarah espondeu confusa. 

-Você conhece algum restaurante que esteja aberto hoje? 

Sarah jogou os olhos para cima como se procurasse na memória. 

-Conheço um restaurante japonês - disse Sarah - Serve? 

-Sim. 

-O endereço e o número do telefone estão no meu celular - disse Sarah - no dormitório. 

-Ah, tudo bem. 

-Eu vou lá pegar - disse Sarah ficando sobre os pés. 

-Posso te acompanhar? 

Sarah balançou a cabeça de forma positiva, subimos a rua, entramos em um prédio antigo, subimos três lances de escada, atravessamos um longo corredor, nos aproximamos do quarto número 33. Sarah enfiou a chave no trinco e girou, empurrou a maçaneta para baixo, empurrou a porta e entrou. Fiquei na dúvida se poderia entrar, apenas esperei na porta. Sarah se inclinou sobre a mesa, escreveu em uma folha de caderno, virou o corpo e estendeu a mão com o papel entre o dedo indicador e o médio. Dei alguns passos para frente, puxei o papel da sua mão e a agradeci. Dei as costas e caminhei para o corredor. Agarrei a maçaneta e antes de puxar a porta senti um impulso. 

-Já almoçou? - perguntei. 

-Não. 

-Quer ir lá comer? - perguntei. 

-Melhor não. 

-Tudo bem - Sussurrei.

Puxei a porta a fechando, joguei meus olhos para o chão e continuei parada pensando no motivo que ainda me faz insistir. De repente ela puxou a porta, abri a mão soltando a maçaneta. Sarah me lançou um olhar confuso. 

-Desculpe - Sussurrei - Já estou indo. 

Dei as costas e atravessei o corredor. 

-Espera - Sarah gritou se aproximando - Eu vou com você. 

Lancei um sorriso tímido, descemos a escada, caminhamos até o estacionamento, Sarah se aproximou de um hb 20 sedan branco com vidros fumê, abriu a porta e saltou para dentro. Puxei a porta do passageiro, me inclinei e entrei delicadamente, o cheiro adocicado dela invadiu minhas narinas e me deu uma sensação gostosa de paz. Assim que Sarah deu a partida do carro, o som ligou e começou a tocar a música "Perigo - Jade Baraldo", virei o rosto e assisti ela virar o volante com apenas a mão esquerda enquanto o carro se afastava do prédio, não sei se foi o ar condicionado, mas senti meu corpo se arrepiar. O caminho até o restaurante foi longo, assim que a música terminou, começou a tocar "Pouca pausa - Clau, Cortesia da Casa, Haikaiss", joguei meus olhos para a janela e sorri com a letra da música, parecia um tapa na cara da Sarah, ela suspirou e virou o botão do volume deixando a música bem baixinha. Apertei minhas mãos esfregando os dedos, meu corpo esfriou se arrepiando. 

-Eu gosto dessa música - Sussurrei. 

-É bonita. 

Lancei um sorriso malicioso, Sarah me lançou um olhar tímido e seu rosto ficou corado. Ela gosta de mim. Estacionamos na frente do restaurante, saltamos do carro, atravessamos a porta e nos sentamos a mesa. O som tocava a música "Pra quem duvidou - Quebrada Queer, Apuke". O garçom se aproximou, pedimos o barco de sushi, ele sorriu e se afastou. Lancei um sorriso gentil. 

-Lembra quando a gente comprava Sushi e fingiamos ser ricas - comentei - a gente nem gostava de sushi. 

-Ah, eu gostava. 

-Não gostava - Sussurrei. 

-Verdade, não gostava. 

O garçom se aproximou, apoiou um copo de cerveja diante de mim e um copo de suco de laranja diante da Sarah. 

-Como seu pai está? - perguntei. 

-Ele morreu dois anos depois que você foi embora. 

-Sinto muito - comentei. 

-Obrigada. 

-Você mudou de cidade? - perguntei. 

-Não, fui morar com a minha avó. 

-Vocês começaram a se dar bem? - perguntei. 

-Não. 

A vó de Sarah é uma idosa peculiar, sempre com um cigarro nos lábios e um maço no sutiã, um copo de cerveja entre os dedos e um pacote de erva nos bolsos. Roupas dois números menores que seu corpo, longo decote e com as pernas sempre a mostra. Voz rouca de quem fuma a muito tempo, dedos e dentes amarelados, olhos fundos, cabelos desgrenhados e um cheiro de fumo persistente. Estatura baixa, sobrepeso e uma força absurda. Minha mente me levou aos treze anos, Sarah não foi a escola então eu e Zuri fomos a casa de sua Vó. Batemos na porta mas ninguém atendeu, demos a volta no terreno até a janela do quarto onde a Sarah costumava ficar. Subi sobre um galão de ferro, puxei a janela para cima e epiei por entre a cortina. Senti alguém agarrar a gola da minha blusa e me puxar para cima. 

-O que pensa que está fazendo?

-Nada Senhora Rita - respondi amedrontada. 

-Por quê está olhando pela janela? 

-Estou preocupada com a Sarah - respondi. 

Rita me arrastou e me lançou sobre uma cerca de arame farpado que pareceu me abraçar e se enrolar em meu corpo. Quando voltei para casa, disse para meus pais que tinha caído de bicicleta, e nunca contei a verdade para Sarah. De repente me percebi novamente no restaurante, levantei os olhos e Sarah parecia admirar minhas expressões faciais. 

-Sua Vó é uma mulher única - comentei. 

-Agora ela vai a igreja e se tornou uma fanática inconsequente. 

-Parou de fumar, beber e usar drogas? - perguntei. 

-Não, mas agora ela se preocupa em esconder os vícios e finge ser uma devota santa e livre. 

Lancei um sorriso sarcástico, o garçom trouxe o barco de Sushi.

-Obrigada - Sussurrei. 

Ele balançou o rosto e se afastou. 

-Antes de morrer, meu pai me deu uma foto da minha mãe e disse seu nome - disse Sarah escolhendo o sushi. 

-Como é o nome dela? 

-Lindsay Armstrong - Sarah respondeu. 

-Escocesa, faz todo sentido. 

Sarah me lançou um sorriso divertido demonstrando entender a relação que eu fiz entre a Escócia e cabelos ruivos. No som começou a tomar a música "Só o amor - Preta Gil, Glória Groover" que pareceu nos envolver. 

-Você a procurou? - perguntei. 

-Sim, ela é dentista, está casada com um dermatologista e tem um casal de filhos de aproximadamente dez anos. 

-Que notícia boa - comentei - Você falou com ela? 

-Não. 

-Por quê? - perguntei. 

-Eu não sabia o que dizer. Fiquei sem graça de aparecer de repente e dizer, "Oi mãe, lembra de mim? Sou a filha que você abandonou há quinze anos atrás." 

Apertei os lábios e empurrei a sobrancelha para direita para cima. No som a música mudou e começou a tocar "Resiliência - Tribo da Periferia". Sarah lançou seus olhos para a parede de vidro do restaurante. 

-Nos finais de semana, ela leva as crianças e o cachorro para um parque, faz piquenique e brinca com eles até entardecer - disse Sarah com os olhos fixos no vidro. 

Ela parecia ver sua mãe brincar com as crianças diante de seus olhos, o reflexo do vidro parecia distorcido por um defeito na parede. Seus olhos lacrimejaram e uma única lágrima deslizou por seu rosto tocando suavemente suas sardas formando uma linha fina de ressentimento. 

-Ela pode ter um motivo plausível para justificar a atitude que teve - comentei. 

Sarah levou a mão no rosto e secou a lágrima. 

-Está tarde, melhor voltarmos - Disse ela jogando uma nota de cem na mesa. 

Saímos do restaurante e entramos no carro. No som tocava a música "Fica - Anavitoria", lancei meus olhos para fora da janela, meus desejos mergulhavam por entre as palavras da música e se desmanchavam no ar como pétalas se espalhando ao vento. Sarah estacionou diante do meu prédio, apertei o botão do cinto que se soltou. A música do som mudou e começou a tocar "Brasa - Jade Baraldo". 

-Quer subir? - perguntei. 

-Melhor não. 

Me inclinei sobre ela, toquei meus labios no seu rosto suavemente, levei minha mão até seu queixo e puxei seu rosto até seus lábios tocarem os meus. Empurrei a mão para sua nuca, por entre os fios de cabelo e apertei seu rosto contra o meu, meus lábios se movem numa melodia quente, saboreando seus lábios macios e adocicados, deslizei minha língua sobre sua língua tímida. Senti seu corpo esquentar, sua respiração ficar pesada, seus lábios dançavam com os meus, sua língua acariciou a minha com força. Desci minha mão por seu ombro, deslizei por sua blusa até as costas puxando seu corpo contra o meu. Enfiei a mão em baixo da sua blusa verde musgo e acariciei suas costas com a ponta dos dedos. Puxei a mão até seu seio e empurrei o sutiã para cima com a ponta dos dedos, esfregue a palma da mão no mamilo e apertei seu seio pequeno e lindo. Desci meu lábios por sua pele até seu pescoço, beijei suavemente e continuei descendo até seu seio direito, toquei a ponta da lingua em seu mamilo que estava endurecido, ela soltou um gemido abafado. Esfregue a língua em seu seio desenhando suas linhas, o saboreando, sugando o mamilo e o beijando. Ela deixou o corpo descer abrindo as pernas para mim, desci os lábios beijando sua barriga e deslizando a língua por uma cicatriz próxima do umbigo. Abri o botão da sua calça jeans preta, desci o zíper gentilmente e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa ela me empurrou para trás.

-Para - ela Sussurrou como se não pudesse respirar. 

-Está tudo bem? 

-Sim - disse Sarah enquanto fechava a calça - Preciso ir. 

Ela parecia assustada, com os olhos arregalados voltados para frente, as mãos trêmulas e respiração ofegante. Me inclinei e dei um beijo em seu rosto, empurrei a porta do carro. 

-Foi muito bom passar o dia com você - comentei. 

Ela manteve os olhos longe de mim, saltei do carro e assisti Sarah se afastar. Subi as escadas com a música "Pouca Pausa - Clau, Cortesia da Casa, Haikaiss" ecoando em minha cabeça. Sorri lembrando de seu corpo reagindo com desejo ao meu beijo. 

-Ela me quer - Sussurrei. 

Deixei meu corpo cair na cama, um sorriso bobo atravessou meu rosto e não queria se desfazer. Aquele beijo foi diferente, intenso, quente, saboroso, macio e parece que me transportou para um mundo onde só nós existiamos. Parece que despertou alguma coisa dentro de mim, uma sensação de prazer e felicidade, meu coração acelerado, meu peito parece que expandiu, eu ainda sentia seus lábios nos meus, seu corpo quente colando no meu, seu cheiro doce e sensual, sua respiração ofegante e seu gemido abafado fazia meu corpo arrepiar. Eu precisava beijar seus lábios de novo, precisava sentir seu desejo e o sabor do seu prazer. 

-Ela vai ser minha - Sussurrei - para sempre. 


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