Me escondi no quarto do hotel por uma semana, para me recuperar física e emocionalmente, ou apenas tentar lidar com as dores da carne e do peito. Minhas feridas estavam cicatrizando lentamente, as dores aos poucos se tornaram suportáveis, minhas mãos se fechavam com dificuldade, mas o hospital se tornou uma lembrança distante. Minha mãe precisava retornar para nossa cidade, por questões de trabalho, já que é a melhor dentista da cidade. Frustrada por não conseguir me convencer a retornar, decidiu me acompanhar para a universidade e conferir pessoalmente minha adaptação. Fomos direto até a sala da coordenação, nos sentamos diante de uma mesa de madeira envernizada. A Cordenadora é uma mulher de meia idade, cabelos loiros na altura dos ombros, pele clara com marcas de expressão, olhos grandes esverdeados, óculos redondo apoiado na ponta do nariz, blaser de linho cinza, camisa social branca, maquiagem discreta e longos brincos de ouro. Ela se inclinou e apoiou os cotovelos e antebraços
Virei o rosto e avistei Zuri com um grupo de amigas no topo da escada, saltei da mesa e caminhei lentamente até o grupo.-Preciso falar com você em particular.Zuri balançou a cabeça de forma positiva, deu as costas para o grupo e desceu as escadas em silêncio. Sentei sobre a mesa de pedra e Zuri sentou-se a meu lado.-Você se lembra que está me devendo um favor, não é? - perguntei.-Você prometeu que nunca mais tocaria no assunto.-Esperava não precisar chegar a esse ponto - comentei.-O que você quer? Dinheiro? Drogas? Sexo?-Eu quero que você reverta o estrago que fez com aquele vídeo - respondi.Zuri me lançou um olhar confuso.-Faça o vídeo desaparecer - eu disse com voz firme - e faça as pessoas respeitarem a Sarah.-Como?-Use sua influência - respondi.-Eu te dei tudo Mack, dei amigos, festas, popularidade, até uma namorada.
O sol pincelou o horizonte de laranja como em um lindo quadro, a noite puxou seu véu negro e se curvou ao esplendor do novo dia. Saltei da cama, tomei um longo banho, vesti as roupas com as cores da universidade, passei perfume e corri até o quarto da Sarah. Bati na porta com o dedo indicador dobrado, Sarah abriu a porta e me lançou um sorriso animado, estava radiante, com calça jeans azul marinho, blusa de moletom com zíper no peito, cabelos presos com elástico e uma bolsa de couro preta.-Bom dia-Bom dia - ela respondeu com uma voz suave.Agarrei sua mão e a puxei para o corredor, descemos as escadas, atravessamos a porta principal e saltamos para a rua, por entre a multidão. Hoje é dia de campeonato de futebol, por essa razão não teremos aula mas todos somos obrigados a assistir o jogo. O time oficial da universidade vai enfrentar o time de uma universidade Alemã, a qual eu não consigo pronunciar o nome. Descemos a rua lentamente seguindo os g
A noite demorou a passar, a cada segundo minha mente mergulhava na expressão confusa de Sarah, parecia um iceberg, onde eu conhecia apenas a ponta fora da água, mas o corpo maior em baixo da água é um grande mistério. De repente ouvi duas batidas tímidas na porta, foi tão baixo que achei que foi o efeito da noite em claro. Então a batida surgiu novamente, agora mais alta. Saltei da cama, girei a chave no trinco e puxei a porta, Sarah surgiu diante de mim, com um sorriso tímido, segurando dois copos descartáveis e a sacola de papel da cafeteria.-Está com fome?-Sim - respondi.Sarah deu um passo a frente, apoiou os copos e a sacola na mesa, sentou-se na cadeira.-Trouxe capuccino e um muffin de banana para você.-Obrigada - comentei - Vou tomar um banho e já volto.Desci a escada pulando os degraus, entrei no banheiro, tomei um banho rápido, escovei os dentes, passei perfume, vesti calça jeans e uma blusa com o
Passamos a tarde toda brincando nas águas do lago, mas ainda sentia dores nas costas e nas mãos, então decidi sair antes de anoitecer. Subi as escadas, tirei o biquíni, tomei um banho rápido, vesti o moletom pois estava esfriando, tomei um analgésico e desci para ajudar na cozinha. Phelipe me lançou um sorriso largo e animado, mas recusou minha ajuda, como é um chefe que está prestes a se formar em gastronomia, tem suas preferências na cozinha. Sentei no banco próximo a ilha no centro da cozinha, Phelipe me serviu uma taça de vinho tinto.-Você está bem?-Sim - respondi - estou me recuperando de algumas facadas.-Nossa, mas quem te esfaqueou?-Chance - respondi.Phelipe arregalou os olhos, parecia realmente surpreso com a informação.-Sinto muito por sua amiga.-Obrigada - respondi.O silêncio se deitou sobre nós como uma névoa densa, Phelipe deu as costas e se preocupou com o jantar, eu
Sarah estacionou diante de meu dormitório, me deu um beijo macio com sabor de menta, apanhei a bolsa e saltei do carro. Subi os degraus, empurrei a porta e deixei meu corpo cair sobre a cama. Agarrei um copo que estava sobre a mesa, lancei dois comprimidos de aspirina efervescente, bebi em apenas um gole. Deixei meu corpo relaxar aos poucos, o cansaço me trazia mais dor nas costas e nas mãos, parecia que apanhei outra vez. Fechei os olhos e deixei o sono me abraçar, sonhei com os lábios da Sarah sorrindo de forma maliciosa, mergulhando em seus olhos verdes como oceano, seus braços protetores me apertando com força. De repente o celular acendeu e me trouxe a realidade, saltei da cama, tomei banho, vesti roupas confortáveis e quentes, passei perfume e segui até o quarto da Sarah que já estava me esperando. Descemos a rua por entre a multidão enfrentando rajadas de ventos que vinham de todas as direções. De longe avistei Zuri de braços cruzados conversando com Cassie, ambas me lançaram
Depois de espernear como uma criança, apoiei os braços no volante, apoiei a testa e chorei em silêncio. Minha mente confusa girava sobre a vida da Sarah, agora que sei o que me escondia, entendo sua dificuldade em me contar. Mas inexplicavelmente não pensei em fugir, desistir dela ou desaparecer. Meu peito doía como um golpe de uma lâmina de dois gumes, a raiva e o medo se misturavam e deslizaram por meu rosto suavemente, O que devo fazer? De repente ouvi duas batidas no vidro, joguei meu corpo para trás com o susto e apertei as mãos no peitos. Nanda apontava para baixo com o dedo indicador pedindo para baixar a janela. Balancei a cabeça de forma negativa, não estou pronta para lidar com o namorado dela agora. Nanda insistiu, bateu outra vez no vidro e falou alguma coisa sobre droga. Minha curiosidade foi maior que o sentimento de raiva, apertei o portão e o vidro baixou.-Lucca também foi drogado no dia do vídeo, por isso estava vomitando - disse Nanda - Você precisa ou
Uma enfermeira entrou no quarto animada, aplicou uma medicação em Sarah e trouxe o almoço. Apoiou uma bandeja sobre as pernas de Sarah, apoiou um prato fundo de porcelana branco com tampa de plástico. Assim que a enfermeira puxou a tampa revelando uma sopa rala, a decepção atravessou o rosto de Sarah automaticamente. A enfermeira apoiou um copo de suco de laranja e um copo descartável de café com gelatina verde. Sarah arrastou os olhos por cada centímetro da bandeja procurando seu almoço, que poderia estar escondido atrás daquela sopa sem graça. A enfermeira saiu do quarto rapidamente após seu celular soltar um som agudo. Sarah apanhou a colher de plástico e enfiou dentro da sopa procurando o macarrão ou talvez arroz, mas sua decepção foi visível.-O médico disse que poderá ir para casa hoje a noite - eu comentei - prometo te comprar um lanche com tudo que tem direito.Sarah me lançou um olhar animado, a sopa que antes seria a única coisa que a sustentaria pa
Caminhei pelo corredor do hospital com a borboleta no ombro, empurrei a porta do quarto, Sarah já estava pronta para ir embora, me lançou um largo sorriso, se aproximou e me deu um beijo. Assim que afastou o rosto percebeu a borboleta que desceu as asas se exibindo.-É de verdade?-Sim - respondi.Sarah estendeu a mão e tocou a ponta do dedo indicador na asa direita da borboleta.-É linda.-Acredito que ela não goste de ser tocada - comentei.-Ela?-A borboleta - respondi.Sarah apertou a sobrancelha confusa, de repente arregalou os olhos e esbranquiçou.-Carson - disse Sarah agarrando a bolsa - Temos que buscá-la.Eu sorri orgulhosa, Sarah é muito inteligente, não me surpreende perceber os sinais tão rápido. Entramos no elevador praticamente correndo.-Assim que perceberem que fugimos, vão ir atrás da Carson.-Sim, foi isso que a Amanda vei