Prédio da LUKCORP – Moscou, Rússia
Andar 47 – Sala de Reuniões Executiva
— Lukenne? Cara? — Aarow estalou os dedos na frente do amigo, com as sobrancelhas erguidas. — Eu tô aqui há dez minutos falando sobre os contratos da filial da Alemanha e você… tá em Marte?
Lukenne ergueu os olhos lentamente, os dedos ainda entrelaçados sobre a mesa de vidro. Seu maxilar cerrava e descruzava sem ele perceber.
— Estou ouvindo. — mentiu.
Aarow o olhou com desconfiança.
— Ah é? Então qual foi a última coisa que eu disse?
Mike o encarou. Longamente. Em silêncio.
— É isso que eu pensei. — Aarow soltou um suspiro e se recostou. — Quer me dizer o que tá acontecendo? Desde que voltou de viagem, você tá com esse olhar de lobo faminto.
Mike não respondeu de imediato.
Na verdade, sua mente estava a quilômetros dali, naquele momento específico.
A palma da sua mão ainda lembrava da textura. A tensão. O impacto.
O som seco do tapa na pele da Yanika.
E o jeito como ela travou o corpo, como se não esperasse — ou como se esperasse, mas tentasse negar.
Foi perfeito.
— Tive… um desentendimento com alguém. — disse ele, vagamente, como quem não quer dar nomes.
— Desentendimento? — Aarow arqueou uma sobrancelha. — Ou você fez merda?
Lukenne sorriu com canto dos lábios. Um sorriso que era quase um aviso.
— Foi só um toque. Uma lembrança. Algo que… ela precisava sentir.
Aarow bufou.
— Você tá falando de quem cara? Da Tatya? — disse direto. — Eu sabia que tinha alguma coisa ali.
Mike ficou em silêncio. Mas o silêncio dele dizia tudo, ele não precisava desmentir ou provar nada.
— Cara… — Aarow cruzou os braços. — Ela é a sua secretária, uma inferior, vai mesmo trocar a sua esposa?
Mike se levantou. Ajustou o paletó, depois passou uma mão nos cabelos escuros.
— Claro que não.
Aarow franziu o cenho.
— Então por que continua com isso?
Mike se virou de costas para ele, observando a paisagem nevada de Moscou pela janela panorâmica. Os olhos não viam nada ali. Só repetiam a imagem dela de costas, o salto dos ombros, o som do impacto.
— Porque é viciante. E da próxima vez… vai ser mais forte. E fundo. Ela precisa aprender que me negar não adianta.
---
Quatro dias depois – Mansão dos Lukenne –
Younha estava deitada sob ele, ofegante, com as pernas ainda trêmulas depois da terceira investida. Mike se movia com uma força incomum, o corpo tenso, os olhos… perdidos em algum lugar.
— Mmm… Mike… você tá diferente. — ela murmurou, arfando.
Mas ele não respondeu. Seus olhos estavam abertos, sim. Mas não a viam.
A visão dele se nublava com outra silhueta. Outro tom de pele. Outro cheiro. Outra mulher que não era a esposa debaixo dele.
Ele via Yanika. E via ela rendida, entregue, com a respiração presa. Com os olhos desafiadores e a boca mordida, tentando manter a postura mesmo quando ele a invadia sem piedade.
Ele colocou Younha com os braços presos acima da cabeça, as suas mãos já envoltas na gravata de Mike, enquanto ele a tomava com o corpo todo. Os quadris batendo contra os dela com força, sem ritmo romântico, só fome.
— Mike… ah…! O que… que tá dando em você…? — ela arfava, entre gemidos e tentativas de compreensão.
Mas ele não respondeu. Sua boca estava contra o pescoço dela, e não beijava — mordia. Deixava marcas. O cheiro do suor, o calor da pele, o som dos gritos abafados. Tudo contribuía para uma cena mais de dominação do que de prazer.
Mike a segurava pelos quadris com força suficiente pra deixar hematomas. Suas palavras vinham entre dentes cerrados, como se falasse sozinho, como se falasse com outra.
— Você não foge de mim. Não me nega. Eu te faço aceitar. Te quebro por dentro até implorar por mais.
Younha não entendia. Mas recebia. Quase com medo.
Porque nunca o viu assim. Porque… aquilo não parecia por ela. Era como se ele estivesse usando o corpo dela pra exorcizar outra presença.
E estava.
Na mente dele, quem gemia era Yanika.
Era o corpo dela que arqueava sob suas mãos.
Era ela quem ele queria ver rendida, ofegante, arrepiada, marcada.
Younha era só uma substituição temporária para um desejo que queimava de forma errada — e cada vez mais forte.
Seria assim? Seria melhor?
O corpo de Younha se arqueava sob o dele, tentando acompanhar o ritmo quase animalesco.
— M-Mike… por favor… você tá… diferente hoje…
Mas ele só a segurou mais forte. As mãos dele apertavam seus quadris como se tentassem arrancar dela algo que não existia.
Como se estivessem em outro corpo.
Em outro nome.
Em outra mulher.
---
Manhã seguinte – Closet da suíte principal
Younha se olhava no espelho com uma expressão misturada de orgulho e espanto. Vestia apenas um robe leve, mal fechado, e o cabelo preso de qualquer jeito.
Mike ajeitava os botões da camisa social, já de saída.
— Você tava diferente ontem. — ela disse, com a voz leve. — Nunca te vi assim… tão selvagem.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Selvagem?
— É. — Ela se virou. — Você me marcou. E não tô falando das mordidas. Eu tô falando de como… você me segurou. Parecia que tava me reivindicando, como se quisesse me possuir de verdade. Tipo… animal mesmo.
Mike ficou em silêncio.
Porque não era com ela. Não era por ela. Não era dela.
Era pelo que ele sentia quando pensava em Yanika.
O desejo de deixá-la tremendo. De dobrá-la. De arrancar dela cada respiração contida. E de ouvi-la dizer que não — só para ele poder provar que ela mentia.
Porque ele era o vício que ela fingia rejeitar.
E ele sabia que voltaria para ela.
Ou ela voltaria para ele.
E da próxima vez… não haveria só um tapa.
---
Mais tarde, naquele mesmo dia na cozinha da cobertura
Yanika preparava suco natural para as crianças, com os cabelos presos num coque alto e o avental sujo de purê de cenoura. Já tinha dado banho nos dois filhos de Younha, arrumado a mochila escolar, separado as roupas prontas para mais tarde e posto o jantar para aquecer.
Tudo isso, sem receber um centavo.
Porque Younha dizia que "família não se paga".
E porque ela ainda acreditava que, de algum modo, era sua função manter aquilo de pé.
— Yani… — a voz da melhor amiga surgiu atrás dela, mais baixa que o normal.
— Hum?
— Aconteceu uma coisa com o Mike. — Younha disse, puxando uma cadeira. — Algo… estranho.
Yanika não se virou de imediato. Ficou mexendo o suco, tentando manter a respiração regular.
— Estranho como?
— Ele me pegou como nunca antes. — confessou Younha, corando. — Eu sei que somos casados há quase 1 ano, mas foi diferente. Ele me virou, me segurou, me mordeu… Ele estava fora de si. Territorial. Como um animal.
Yanika travou a mão.
O copo de suco escorregou um pouco da borda. Algumas gotas caíram.
— Você tá bem? — fingiu preocupação, enquanto o coração batia alto nos ouvidos.
— Eu tô… eu acho. — Younha olhou para os dedos. — Mas ele não tava pensando em mim. Eu senti. O olhar dele… tava longe. Parecia com raiva. Ou com fome. Uma fome que eu não sabia como preencher.
Yanika respirou fundo. Tentou sorrir.
— Vocês deviam conversar. Talvez ele esteja estressado com o trabalho…
— Não, Yani. — Younha interrompeu. — Ele falou coisas. Como se estivesse… castigando alguém. Me disse coisas que eu nunca ouvi dele. E depois ficou em silêncio por horas. Não me abraçou. Nem dormiu na cama.
O silêncio entre as duas pesou.
— Será que ele tá com outra? — Younha perguntou, fraca. — Eu saberia se fosse outra, né? Eu conheceria os sinais.
Yanika desviou o olhar.
Você não saberia, Younha. Porque a outra… é a mulher que cuida dos seus filhos. A que não cobra nada pra estar aqui. A que tem vergonha até de olhar nos olhos dele. E que, mesmo assim, ainda sente quando ele chega perto.
---
Sala de estar
Mike entrou sem anunciar. Estava de terno, cheiro de perfume amadeirado e aquela aura de homem que nunca precisa pedir licença. Yanika estava de joelhos no tapete com as crianças, montando um quebra-cabeça.
Ela não olhou.
Mas sentiu.
Ele se aproximou devagar. Parou atrás dela, em silêncio. Observando a curva da coluna, a maneira como os fios do cabelo dela escapavam do coque, o som baixo da sua voz com os pequenos.
— Boa tarde. — ele disse.
— Boa noite. — ela corrigiu, sem virar. A voz firme.
Ele sorriu. E deu mais um passo.
Ela então se ergueu, com cuidado. De frente pra ele. O olhar sério.
— Fique longe de mim, Mike. — disse com controle. — Já basta o que aconteceu. Já basta o que você fez.
— Eu não fiz nada que você não quisesse. — respondeu ele, sem mudar o tom. — O que você não admitiu querer.
— Eu sou casada. — Ela ergueu a voz.
— E ainda assim… pensa em mim toda vez que se toca sozinha. — ele disse, baixo.
O ar saiu dos pulmões dela como um golpe.
Yanika o empurrou.
Mas ele segurou seu pulso. Forte. Olhos nos olhos.
— Eu vou te fazer admitir, Yanika. Nem que tenha que quebrar cada barreira sua. Devagar. Parte por parte.
E então… ele soltou. E saiu.
Ela ficou ali, tremendo. Com raiva. Com vergonha.
Com o corpo latejando e o coração preso na garganta.
Porque ele estava certo.