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capítulo 4 – quando o corpo gripa e a alma foge

ARRANHA-CÉU / LUKENNE E AAROW

No topo de um dos prédios mais imponentes da cidade, onde os alfa de alta patente dominavam o mercado da engenharia e construção, Lukenne estava em seu escritório. A gravata sufocava o pescoço grosso, os olhos semicerrados sobre o computador. Ao lado, o som de copos e risadas masculinas ecoava pela copa de vidro: Aarow, seu melhor amigo e... o alfa portador de genes lúpus latentes, casado com uma ômega comum.

— Tá me ouvindo, Mike? — Aarow disse, rindo baixo. — Tá distante. Pensando em quê? Algum problema com a Younha?

Mike desviou o olhar da janela. Forçou neutralidade.

— Só cansado. Madrugadas com bebê... você sabe.

— Sei nada — Aarow gargalhou. — E nem quero. Criança só dá trabalho. Eu e a Yanika não temos planos pra isso. Ômega comum com Alfa viajante não dá certo. Ela é doce, mas não é loba, sabe?

Lukenne apertou o maxilar.

Yanika. Aquela presença delicada demais para esse mundo de fúria. Seu cheiro era leve, quase invisível para alfas comuns, mas nele — alfa lúpus puro — o rastro doce de baunilha se tornava afrodisíaco. Ameaçador.

"Ela sabe o que faz com aqueles vestidos. Tem que saber."

Imagens o invadiram. Yanika cruzando a sala com o tecido leve colado ao quadril. A curva dos seios sob o pano fino. O jeito submisso, doce, involuntariamente sedutor de uma ômega que não sabia o quanto provocava o instinto dele.

E ela notava. O lobo dele sentia. A pele dela respondia.

Mas nenhum dos dois se movia. Ainda.

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CASA DE YANIKA / NOITE

Yanika saía do banho, cabelos molhados, uma camisola de algodão colada ao corpo. O lobo interior — fraco, mas presente — pedindo contato, calor, toque de alfa.

Aarow estava deitado, mexendo no telemóvel. Um alfa distraído. Gentil demais. Tão diferente de... outro.

— Boa noite — ela disse, passando creme nas pernas.

— Boa noite.

Silêncio.

— Aarow... já pensaste em filhos?

— De novo isso? Combinamos que não era hora. Ainda temos que viver, viajar, curtir...

— E se nunca for hora?

O olhar que ele lançou não era instintivo, nem protetor. Era prático. Frio.

— Você está estranha.

— Talvez eu só esteja cansada de ser invisível. De desejar algo... e não receber nada.

— Isso é sobre filhos? Sobre sexo? Ou sobre o Lukenne?

Ela congelou. O nome ardeu como brasa. Porque era verdade.

Ela queria ser olhada como o lobo de Mike a olhava. Queria sentir a presença dele rosnando sob a pele.

Mas estava ali. Com um homem gentil. Que não via o cio nela. Que não despertava nada além de culpa.

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COBERTURA / MANHÃ

Yanika chegava mais tarde, saía mais cedo. Fugindo. Não da casa. Mas do alfa lúpus que habitava ali.

Lukenne a observava como predador que sabe esperar. Sem correr. Sem avisar.

Ela sentia o cheiro dele como uma parede invisível: denso, masculino, intoxicante.

— Está atrasada — ele disse, sem tirar os olhos dela. Camisa aberta, cigarro nos dedos.

— Tive um compromisso.

— Tem evitado a gente... ou a mim?

— Não estou com tempo pra isso.

— Isso tem nome?

O lobo dele reconhecia nela a recusa como convite. E ela tremia, mesmo de costas.

— Você é o marido da minha amiga.

— E você é só a babá dos meus filhos?

Ela virou. Os olhos dele estavam ali: escuros, possuidores.

— Isso não é um jogo.

— Não. Jogo tem regras. E você vive quebrando todas.

Ela recuou. A voz dele — grave, com notas dominantes — descia pela espinha dela como toque.

— Você já está em brasa, Yanika. Só não sabe onde pôr o fogo.

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QUARTO / VISITA À YOUNHA

Younha falava do marido com risos e orgulho.

— Ele me enlouquece. Quando pega desprevenida... quando morde... sabe exatamente onde tocar.

Yanika tremia por dentro. Aquele homem que ela descrevia não era o marido dela. Era o mesmo que fazia a ômega submissa dentro de Yanika implorar por contato.

— Você e Aarow... se entendem?

— Ele é... delicado.

— Delicado? Eu quero fogo.

Ela entendia. Porque o fogo já a consumia.

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TARDE / ENCONTRO NA COZINHA

Camisola. Corpo ainda em brasa. Ela usou a desculpa dos brinquedos.

Encontrou-o ali. Cozinha em penumbra. Cabelo molhado. Camiseta colada.

O cheiro dele invadiu a sala. Feromônio de alfa lúpus. Alfa puro. Selvagem.

— Posso te abraçar?

Foi a última coisa racional que disse.

O toque veio. O corpo dela se moldou ao dele. A respiração ficou presa.

E então... ela recuou. Porque o cio que nascia ali a deixava fora de si.

— Me desculpa.

Ele não disse nada.

Mas o lobo dele já tinha sentido. Ela era dele.

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DIA SEGUINTE / TENSÃO MÁXIMA

Ela chegou com uma blusa justa. Não por vaidade. Mas ele viu.

— Ajudar... ou fugir?

— Não sei do que estás a falar.

— Sabes sim.

As palavras dele a desnorteavam. E o cheiro dele estava diferente.

Ela sussurrou:

— Aconteceu um erro.

— Um erro?

— Eu sou casada. Tu és casado. Não tem mais conversa.

Ele se aproximou. O lobo rugia em silêncio.

— Então por que tremes? Por que me olhas como se o cio estivesse pra chegar?

Ela recuou.

Ele passou por ela, ombro quase tocando. O cheiro que ficou no ar era de marcação. De posse.

Ela sentou-se no chão com os filhos. Tentava ignorar. Mas o corpo ardia.

Mike voltou. Ficou atrás dela. A observava. O lobo dele não queria silêncio. Queria pele.

— Estás vermelha... pareces que ardes por dentro.

Ela fechou os olhos. Um pedido de socorro. Um limite.

— Vai embora daqui...

E então aconteceu.

O estalo.

A mão dele pousou firme na banda esquerda dela.

Não com violência.

Mas com marca. Instinto. Intenção.

Ela congelou.

Os brinquedos caíram.

As crianças riram.

E o mundo interno dela desabou.

Mike já estava afastado. Encostado na porta. Braços cruzados. Um sorriso breve.

E ali, ela soube: o silêncio não ia durar.

Porque o lobo dele a queria. E o corpo dela... já tinha respondido

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