ARRANHA-CÉU / LUKENNE E AAROW
No topo de um dos prédios mais imponentes da cidade, onde os alfa de alta patente dominavam o mercado da engenharia e construção, Lukenne estava em seu escritório. A gravata sufocava o pescoço grosso, os olhos semicerrados sobre o computador. Ao lado, o som de copos e risadas masculinas ecoava pela copa de vidro: Aarow, seu melhor amigo e... o alfa portador de genes lúpus latentes, casado com uma ômega comum. — Tá me ouvindo, Mike? — Aarow disse, rindo baixo. — Tá distante. Pensando em quê? Algum problema com a Younha? Mike desviou o olhar da janela. Forçou neutralidade. — Só cansado. Madrugadas com bebê... você sabe. — Sei nada — Aarow gargalhou. — E nem quero. Criança só dá trabalho. Eu e a Yanika não temos planos pra isso. Ômega comum com Alfa viajante não dá certo. Ela é doce, mas não é loba, sabe? Lukenne apertou o maxilar. Yanika. Aquela presença delicada demais para esse mundo de fúria. Seu cheiro era leve, quase invisível para alfas comuns, mas nele — alfa lúpus puro — o rastro doce de baunilha se tornava afrodisíaco. Ameaçador. "Ela sabe o que faz com aqueles vestidos. Tem que saber." Imagens o invadiram. Yanika cruzando a sala com o tecido leve colado ao quadril. A curva dos seios sob o pano fino. O jeito submisso, doce, involuntariamente sedutor de uma ômega que não sabia o quanto provocava o instinto dele. E ela notava. O lobo dele sentia. A pele dela respondia. Mas nenhum dos dois se movia. Ainda. --- CASA DE YANIKA / NOITE Yanika saía do banho, cabelos molhados, uma camisola de algodão colada ao corpo. O lobo interior — fraco, mas presente — pedindo contato, calor, toque de alfa. Aarow estava deitado, mexendo no telemóvel. Um alfa distraído. Gentil demais. Tão diferente de... outro. — Boa noite — ela disse, passando creme nas pernas. — Boa noite. Silêncio. — Aarow... já pensaste em filhos? — De novo isso? Combinamos que não era hora. Ainda temos que viver, viajar, curtir... — E se nunca for hora? O olhar que ele lançou não era instintivo, nem protetor. Era prático. Frio. — Você está estranha. — Talvez eu só esteja cansada de ser invisível. De desejar algo... e não receber nada. — Isso é sobre filhos? Sobre sexo? Ou sobre o Lukenne? Ela congelou. O nome ardeu como brasa. Porque era verdade. Ela queria ser olhada como o lobo de Mike a olhava. Queria sentir a presença dele rosnando sob a pele. Mas estava ali. Com um homem gentil. Que não via o cio nela. Que não despertava nada além de culpa. --- COBERTURA / MANHÃ Yanika chegava mais tarde, saía mais cedo. Fugindo. Não da casa. Mas do alfa lúpus que habitava ali. Lukenne a observava como predador que sabe esperar. Sem correr. Sem avisar. Ela sentia o cheiro dele como uma parede invisível: denso, masculino, intoxicante. — Está atrasada — ele disse, sem tirar os olhos dela. Camisa aberta, cigarro nos dedos. — Tive um compromisso. — Tem evitado a gente... ou a mim? — Não estou com tempo pra isso. — Isso tem nome? O lobo dele reconhecia nela a recusa como convite. E ela tremia, mesmo de costas. — Você é o marido da minha amiga. — E você é só a babá dos meus filhos? Ela virou. Os olhos dele estavam ali: escuros, possuidores. — Isso não é um jogo. — Não. Jogo tem regras. E você vive quebrando todas. Ela recuou. A voz dele — grave, com notas dominantes — descia pela espinha dela como toque. — Você já está em brasa, Yanika. Só não sabe onde pôr o fogo. --- QUARTO / VISITA À YOUNHA Younha falava do marido com risos e orgulho. — Ele me enlouquece. Quando pega desprevenida... quando morde... sabe exatamente onde tocar. Yanika tremia por dentro. Aquele homem que ela descrevia não era o marido dela. Era o mesmo que fazia a ômega submissa dentro de Yanika implorar por contato. — Você e Aarow... se entendem? — Ele é... delicado. — Delicado? Eu quero fogo. Ela entendia. Porque o fogo já a consumia. --- TARDE / ENCONTRO NA COZINHA Camisola. Corpo ainda em brasa. Ela usou a desculpa dos brinquedos. Encontrou-o ali. Cozinha em penumbra. Cabelo molhado. Camiseta colada. O cheiro dele invadiu a sala. Feromônio de alfa lúpus. Alfa puro. Selvagem. — Posso te abraçar? Foi a última coisa racional que disse. O toque veio. O corpo dela se moldou ao dele. A respiração ficou presa. E então... ela recuou. Porque o cio que nascia ali a deixava fora de si. — Me desculpa. Ele não disse nada. Mas o lobo dele já tinha sentido. Ela era dele. --- DIA SEGUINTE / TENSÃO MÁXIMA Ela chegou com uma blusa justa. Não por vaidade. Mas ele viu. — Ajudar... ou fugir? — Não sei do que estás a falar. — Sabes sim. As palavras dele a desnorteavam. E o cheiro dele estava diferente. Ela sussurrou: — Aconteceu um erro. — Um erro? — Eu sou casada. Tu és casado. Não tem mais conversa. Ele se aproximou. O lobo rugia em silêncio. — Então por que tremes? Por que me olhas como se o cio estivesse pra chegar? Ela recuou. Ele passou por ela, ombro quase tocando. O cheiro que ficou no ar era de marcação. De posse. Ela sentou-se no chão com os filhos. Tentava ignorar. Mas o corpo ardia. Mike voltou. Ficou atrás dela. A observava. O lobo dele não queria silêncio. Queria pele. — Estás vermelha... pareces que ardes por dentro. Ela fechou os olhos. Um pedido de socorro. Um limite. — Vai embora daqui... E então aconteceu. O estalo. A mão dele pousou firme na banda esquerda dela. Não com violência. Mas com marca. Instinto. Intenção. Ela congelou. Os brinquedos caíram. As crianças riram. E o mundo interno dela desabou. Mike já estava afastado. Encostado na porta. Braços cruzados. Um sorriso breve. E ali, ela soube: o silêncio não ia durar. Porque o lobo dele a queria. E o corpo dela... já tinha respondido