Mundo de ficçãoIniciar sessãoEthan
Trinta dias. Trinta malditos dias até eu perceber que a casa estava vazia de verdade. Eu estava no escritório da mansão, terminando uma ligação com o pessoal de Manchester, quando o Marius bateu na porta e entrou com um envelope na mão. Jogou em cima da mesa sem dizer nada. Abri. Fotos. Ruby saindo de um restaurante, sorrindo. Ruby de mãos dadas com um homem. Ruby com a cabeça encostada no ombro dele. — De onde tirou isso? — perguntei, voz calma demais. — Saiu nos jornais hoje, chefe. Dizem que ela vai se casar de novo. Eu ri. Um riso seco, sem graça. — Casar? Com quem? Ela é casada comigo. Marius engoliu em seco. — Andrew Sinclair. O copo de uísque na minha mão se partiu. O vidro cortou a palma, sangue pingando no tapete caro, mas eu nem senti. Só fiquei olhando a foto. Ela estava linda. Linda e feliz. Com outro. A porta se abriu de novo. Astrid entrou, salto batendo no chão, perfume forte. — Ethan, o que aconteceu com sua mão? — Nada que você precise saber. Ela se aproximou, tentou tocar meu braço. Eu recuei como se queimasse. — Sai — ordenei. — Todo mundo. Agora. Marius saiu correndo. Astrid hesitou, depois bateu a porta atrás dela. Fiquei sozinho. Peguei o celular, disquei o número dela. Chamou. Chamou. Caiu na caixa postal. Liguei de novo. Mesma coisa. Eu achava que ela estava evitando minhas ligações esse tempo todo. Achava que estava trancada no quarto, como sempre. Nunca subi pra ver. Nunca perguntei. Agora o silêncio da casa me engolia. Liguei pro meu advogado. — Eu quero o meu contrato de casamento com a minha esposa nas minhas mãos em cinco minutos. — “Senhor Storm… o senhor assinou o divórcio há trinta dias. Eu mandei a cópia pro seu e-mail. Está tudo legal.” Eu gritei tão alto que a secretária do outro lado da porta deve ter surtado. — Eu não assinei divórcio nenhum, caralhø! Ele enviou o documento na hora. Abri no notebook. Minha assinatura. Clara. Inconfundível. A lembrança bateu como um soco… Ruby entrando no escritório, colocando um envelope na mesa, eu falando com Astrid no telefone, assinando sem olhar, virando a cadeira pra janela. Eu assinei minha própria sentença. Liguei de novo para o advogado: — Fala que tem como anular esse divórcio. Ela não pode ter feito isso. — “Não tem nada que eu possa fazer, senhor Storm.” Quebrei a garrafa de uísque na parede. O vidro voou. O cheiro forte encheu o ar. Sentei no chão, costas na mesa, e bebi direto do gargalo de outra garrafa até o mundo girar. Dois dias depois eu ainda estava lá. Dentro do escritório. Mesma roupa. Barba crescida, olhos vermelhos. Astrid entrou sem bater. — Você ainda vai continuar pensando nela? — perguntou, a voz cortante. — Ela te deixou. Vai casar com outro. Eu levantei o olhar devagar. — Eu nunca parei de pensar nela. Só demorei pra perceber. Ela cruzou os braços. — Você é patético. Ela era sua esposa, se divorciou e te abandonou. É uma vagabunda. Agora podemos oficializar o que a gente tem. Eu me levantei. Andei até ela devagar. Encostei meu corpo no dela, senti ela tremer. — Cuidado com o que diz da minha mulher. Ela riu, amarga. — Sua mulher vai casar com outro hoje à noite. Eu segurei o queixo dela com força. Apertei até ver os olhos dela marejarem. — Então ele que reze pra estar pronto pra perder ela quando eu chegar. Soltei. Ela cambaleou pra trás. A porta se abriu. Marius de novo, cara de quem não queria estar ali. — Senhor… hoje é a festa de noivado deles. No Savoy. Ele saiu correndo antes que eu jogasse alguma coisa. Fiquei parado no meio do escritório destruído, garrafa na mão, sangue seco na palma. Peguei o celular. Disquei pro motorista. — Prepare o carro. Terno preto. E gravata preta. E descubra o endereço exato dessa maldita festa. Desliguei. Olhei a foto dela com Sinclair mais uma vez. O inferno está a caminho, Ruby. E eu sou o diabo que você conhece. O carro cortava Londres à noite, luzes borradas pela chuva fina no vidro. Eu estava no banco de trás, paletó aberto, gravata frouxa, uísque ainda queimando na garganta. — Ela é minha — murmurei, voz rouca. — Sempre foi minha. Sempre vai ser. O motorista olhou pelo retrovisor. Encontramos os olhos por um segundo. Ele desviou rápido, fingindo ajustar o GPS. Sabia que não era pra responder. — Minha — repeti, mais alto, batendo o punho no joelho. — Ruby Storm. Minha mulher. Minha esposa. Ninguém toca no que é meu. Fechei os olhos e deixei o álcool me arrastar pra trás. Primeira lembrança: ela de camisola branca na noite de núpcias, joelhos no chão, olhos implorando. Eu senti o sangue descer na hora, o corpo inteiro endurecendo. Tive que virar as costas pra não agarrar ela ali mesmo. Segunda: vestido vermelho colado, jantar preparado, ela esperando no meu escritório. O decote subindo e descendo com a respiração nervosa. Eu quase larguei tudo e joguei ela em cima da mesa. Terceira: chuva forte, camisola preta de seda molhada, seios marcados, mamilos durinhos aparecendo. Ela sussurrou “sou sua esposa” e eu quase rasguei aquela seda com os dentes. Todas as vezes eu quis. Todas as vezes meu corpo gritou por ela. Queria saber o gosto da boca dela, o som que ela faria quando eu entrasse fundo, como ela tremeria quando eu segurasse aquele cabelo ruivo enquanto ela gozasse. Mas eu estava cego por Astrid. Achava que era amor. Achava que era lealdade. Então eu neguei. Neguei pra Ruby. Neguei pra mim mesmo. Idiota. Cego. Covarde. Eu me odeio. Odeio cada segundo que deixei ela esperando. Odeio cada noite que dormi com outra enquanto minha mulher estava no quarto esperando, virgem, me querendo. — Chefe, chegamos — o motorista falou baixo. Abri os olhos. O Savoy brilhava na frente, portas abertas, tapete vermelho. Respirei fundo. Hoje acaba essa palhaçada. Eu vou entrar ali, vou pegar minha mulher e vou trazer ela pra casa. Se Sinclair tentar impedir, eu mato ele na frente de todo mundo. Se ela resistir, eu arrasto ela a jogando no meu ombro se precisar. Ruby é minha. Sempre foi. E hoje ela vai lembrar disso.






