Max
Abro a porta do meu quarto, indicando que ela entre, mas ela hesita, me observando com olhos arregalados, cheios de medo e incerteza.
— Mezhdu![1] (Entre) — Digo em russo, após me lembrar de que ela não entende tão bem o italiano. Minha voz é firme, mas não agressiva, tentando transmitir uma autoridade que espero que a faça se mover.
Com relutância, ela dá um passo para dentro. Assim que ela cruza a soleira, fecho a porta e tranco, guardando a chave no bolso da calça. O som do trinco é quase ensurdecedor no silêncio tenso que nos envolve.
Caminho até o closet, onde guardo minha arma no cofre. Enquanto faço isso, retiro minha camisa, tentando acalmar a raiva que ainda pulsa em minhas veias. A acusação dela foi um golpe baixo, uma linha que jamais pensei que alguém cruzaria. Respiro fundo, tentando expulsar o veneno da ira que ameaça me consumir.
Ao voltar para o quarto, vejo que Anijah permanece onde estava, uma estátua de medo e desafio. Seus olhos, embora assustados, não desviam dos meus. Ela é como uma ovelha perdida na toca do lobo, e essa percepção me atinge com uma força inesperada.
Aproximo-me lentamente, cada passo medido e intencional. Quando dou o primeiro passo em sua direção, ela recua instintivamente, trombando com a cômoda atrás dela. Alguns objetos caem no chão com um estrondo, mas ela não desvia o olhar, mantendo-se firme apesar do medo evidente.
— Você acha que pode jogar com palavras e sair ilesa, mas no nosso mundo não funciona assim. — Minha voz é baixa, mas carregada de intensidade. — Você entrou em um jogo perigoso, e agora precisa entender as consequências.
Ela engole em seco, mas não responde, seus olhos ainda fixos nos meus. Há um silêncio pesado entre nós, cheio de palavras não ditas e emoções conflitantes.
— Você precisa entender o que está em jogo aqui.
Ela hesita, o medo em seus olhos lentamente dando lugar a algo que parece ser compreensão.
— Retire suas roupas. — Ordeno, observando enquanto um tremor percorre seu corpo. Ela hesita e minha voz se torna mais brusca. — Agora.
— Minhas mãos... — Ela sussurra, indicando as mãos presas pela corda, seus olhos implorando por alguma forma de compreensão.
— Não vou soltá-la, isso vai ser rápido, então apenas erga a porcaria dessa camisa. — Digo, minha paciência se esgotando, mas tentando manter o controle sobre a situação.
— Por favor, não me machuque. — Ela sussurra, acuada, e eu apoio as duas mãos na lateral da cômoda, ficando cara a cara com ela. Ela se encolhe, apoiando as mãos no meu peito na tentativa de me afastar, sua vulnerabilidade clara e dolorosa.
— Foi você que pediu por isso. — Rosno e ela fecha os olhos, encolhendo os ombros em um gesto de resignação. — Deveria ter voltado para a porcaria do seu país.
— Não estou recusando, só estou pedindo que não me machuque. — Ela ofega, trêmula, mas ainda tenta exercer força em meu peito, uma tentativa desesperada de manter alguma distância.
— Se sabe o que somos, por que tem a falsa esperança de que serei gentil? — Pergunto, minha voz carregada de uma dureza que esconde o tumulto de emoções dentro de mim.
Ela torce os lábios pensativa, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.
— Ingenuidade da sua parte achar que somos melhores do que seu irmão. Que somos gentis. Você achou mesmo que se jogar nos meus braços te livraria do pesadelo que seu irmão destinou a você?
— Apesar de tudo o que ouço sobre os italianos, estupradores e assassinos de mulheres não está na lista, então, sim, vocês são melhores que Lazarev. — Diz convicta e suas palavras me fazem parar. Olho para ela com mais cautela, analisando o que ela disse, tentando montar o quebra-cabeça por trás de sua história com as poucas informações que deixa escapar.
Suas palavras são um desafio, mas também uma admissão de que ela vê em mim algo diferente do que teme. Há uma complexidade em sua situação que me faz reconsiderar minhas ações. O que ela disse ressoa em mim, forçando-me a confrontar não apenas o que os outros esperam de mim, mas também quem eu realmente sou.
— Você realmente acredita que isso é suficiente para nos tornar melhores? — Pergunto, minha voz mais suave agora, mas ainda carregada de tensão.
Ela me encara, seus olhos cheios de uma mistura de medo e esperança. É um olhar que me desafia a ser mais do que apenas o papel que desempenhei até agora.
— Eu não sei. — Ela finalmente admite, sua voz um sussurro. — Mas preciso acreditar que há algo de bom em algum lugar.
O silêncio que se segue é pesado, mas também oferece uma oportunidade de reflexão. Talvez haja um caminho para ambos que não envolva violência ou vingança, mas isso exigirá mais do que palavras. Exigirá escolhas difíceis e um entendimento mútuo que ainda está por ser construído.
— Isso não quer dizer que se livrará do destino que impôs a você mesma. — Digo, minha voz carregada de uma frustração que não consigo conter.
— Tome-me logo e acabe com isso de uma vez por todas. — Seu olhar feroz retorna, uma máscara frágil que tenta esconder o medo por trás do ódio.
— Eu dito a porcaria das regras, vai ser quando e como eu quiser. — Vocifero, tentando reafirmar o controle que sinto escorregar por entre os dedos.
— Como sempre, os homens achando que são melhores e podem humilhar e pisotear em nossas cabeças apenas porque nascemos mulher. — Ela ergue o tom de voz, mesmo trêmula e acuada, suas palavras inflamam minha raiva ainda mais.
— Não, garota. Não acho que sou melhor por ser homem. — Respondo, minha voz agora um pouco mais controlada, mas ainda cheia de intensidade. — Acredito que você ainda não percebeu que, neste mundo complicado, estou alguns degraus acima de você, e que você não está falando com seu irmão ou alguém incapaz de te machucar. Portanto, comece a escolher suas palavras com cuidado, pois não estou com paciência para suportar essa confusão quando você fez a escolha de ligar minha vida à sua. Acusou-me de ter te tocado, quando, na verdade, eu te salvei. Você manchou meu nome, minha honra, minha reputação e também a honra do meu chefe, irmão e família. — Desferi um golpe contra a cômoda, expressando minhas palavras com raiva.
Ela se encolhe com o susto, praticamente sumindo entre meus braços por ser menor do que eu. Um cheiro cítrico invade meus sentidos, e não sei dizer se era uma loção ou o shampoo utilizado por Esther ao banhá-la no leito enquanto se recuperava. De certa forma, isso me faz analisá-la com mais cautela, lembrando que, apesar de tudo, ela ainda é uma mulher.