Capítulo 2 (Parte 2)

— Não me importo de morrer aqui, não darei o gosto a Russo de concluir seus planos, então faça o que precisa fazer e me descarte como lixo. É assim que vocês veem, não é? A garota impura, tocada por outro homem, é a escória desse mundo. Fiz o que precisava para me salvar; se quer me matar, faça de uma vez. — Seus lábios tremem quando ela termina a frase, e por mais que ela tente demonstrar controle, é apenas uma menina assustada.

Suas palavras me fazem recuar, refletir sobre o que ela dizia, e me fazem sentir tão sujo quanto Donatel foi um dia. Seria um grande erro da minha parte acreditar que sou miseravelmente diferente dele?

— Você não tem amor na porcaria da sua vida, garota. Sinceramente, não sei se confia muito na sorte ou se realmente acredita que não vou destruí-la lentamente. — Digo. Minha voz agora mais baixa, mas ainda carregada de uma ameaça velada.

Ela baixa o olhar em silêncio, suas defesas finalmente começando a ruir.

— Se quer o mínimo de chance de sair daqui com vida, comece a responder minhas perguntas e explicar por que entrou em nosso país sem permissão. — Aperto as mãos contra a madeira da cômoda, sentindo a paciência se esvair.

Ela mantém o silêncio, mas noto a postura de derrota ao tocar nesse assunto. Eu a questiono novamente, mas ela permanece em silêncio, sua resistência quase palpável. Decido pressioná-la um pouco mais, pois aprendi que a persuasão pode ter efeitos positivos nessas situações.

— Então não tenho outra escolha a não ser concluir o que comecei. — Digo, afastando-me o suficiente para desabotoar o cinto da calça, observando a tensão que isso provoca nela.

— Colabore e podemos conversar amigavelmente com seu irmão. Resolveremos essa situação da melhor maneira possível. — Tento apelar para a razão, mas seus olhos desesperançosos se voltam para mim, cheios de um pedido oculto de socorro ou misericórdia. Estou consumido por raiva, por ser submetido a uma situação tão ridícula e descabida. Não pondero a situação da fera enjaulada à minha frente, que no momento parece uma presa fácil.

— Eu me recuso a voltar para a Rússia, prefiro morrer aqui. — A certeza em suas palavras me faz encará-la com um misto de surpresa e indignação. Ninguém havia me enfrentado com tanta garra antes, mas também ninguém havia destruído minha vida com apenas uma frase. Aquela garota irritante era, na verdade, meu verdadeiro tormento.

— Que seja! — Puxo o cinto da calça e seu corpo se retesa, mas quando dobro o cinto em dois para colocá-lo sobre a poltrona à minha esquerda, suas pernas finas cedem e ela cai de joelhos, protegendo o rosto com as mãos amarradas.

Aquela reação me choca de tal maneira que observo seu corpo encolhido e trêmulo por longos segundos. A persuasão que considerei usar não era essa, mas parece que ela esconde muito mais do que selvageria e garras afiadas.

Respiro profundamente, tentando manter a calma e a compostura. Quando me aproximo um pouco mais, ela se espreme contra a cômoda com tanto vigor que parece querer se fundir à mobília. Seu corpo encolhido em uma bola, protegendo o máximo que pode seu rosto e órgãos vitais, expondo suas costas.

Sua reação me desarma. Essa garota era tão fodida quanto eu e meus irmãos. Nessa porcaria de vida, ninguém é diferente de ninguém. Por um instante, sinto vontade de ampará-la, de segurar seu corpo pequeno em meus braços e acariciar seus cabelos, sussurrando que tudo ficaria bem. Mas nada estava bem e, provavelmente, só ficaria pior.

Um gemido de angústia escapa de sua garganta enquanto ela tremia de medo de que eu lhe espancasse sem piedade. E por mais que minha vontade seja machucá-la cruelmente por suas mentiras, eu simplesmente não consigo agir.

— Se não queria que eu lhe tocasse, não se oferecesse para mim daquela maneira. Você é ingênua demais. Humilhou seu irmão na frente de outro chefe, tirou a autoridade dele, e só está viva porque Dante é muito misericordioso, e eu também. Se fosse outro, você já teria uma bala no meio da testa ou estaria sangrando sobre um tapete qualquer após ser abusada por mais de um homem. Ingênua de achar que aqui estaria segura, que em qualquer lugar estaria segura. Tola por me prender a você para fugir quando não sabe o peso que suas palavras causam entre nós e seu irmão. Você incitou uma guerra e eu realmente deveria lhe ensinar uma boa lição, mas a merda da sua sorte é que realmente não somos os monstros que deveríamos ser. Então, aprenda a lidar com o fato de que você está presa nesta casa até conseguirmos reverter essa merda, pois foi você que nos enfiou nisso. Entendeu?

Ela demora um pouco, mas finalmente balança a cabeça em concordância, seus olhos ainda cheios de uma mistura de medo e compreensão. O silêncio que se segue é pesado, mas também oferece uma pequena abertura para algo que possa ser construído a partir do caos. Ambos estamos presos em uma situação na qual ela nos enfiou e, talvez, apenas talvez, possamos encontrar uma maneira de sobreviver a isso juntos.

— Ótimo. Vou te soltar. Você tomará um banho, vestirá uma roupa e dormirá. Amanhã conversaremos pacientemente, e você abrirá a porcaria da boca para me contar exatamente tudo o que eu perguntar, ou deixarei a porra das minhas crenças de lado, e eu juro que não serei gentil. — Minha voz é firme, mas há uma promessa de compreensão se ela cooperar.

Ela não responde, mas vejo sua postura relaxar um pouco, sinalizando que, pelo menos por agora, ela está disposta a seguir as regras. Abaixo-me em sua frente, retirando um canivete do coldre preso em minha perna.

— Se tentar fugir, eu te entrego para o seu irmão. Se atacar ou ferir alguém, eu mesmo mato você. Temos crianças nesta casa, e Eva e Jessye são gentis demais para ver a fera contida embaixo da pele de cordeiro assustado. — Digo, tentando transmitir a seriedade da situação.

— Não vou machucar ninguém. — Ela comprime os lábios, erguendo o olhar acuado para o meu. — Não queria machucar a médica, mas achei que poderia fugir. Não sabia onde estava ou quem eram. — Sussurra, desviando o olhar e, por um momento, vejo a vulnerabilidade por trás de sua bravata.

Corto as cordas que prendem seus pulsos, e ela passa as mãos sobre as marcas avermelhadas, quase roxas. Vejo pequenos cortes em seus pulsos e me levanto, seguindo para o banheiro.

Sei que não deveria demonstrar qualquer ternura, mas ela tem escoriações pelo corpo todo. Pego uma pequena cartela de comprimidos e uma pomada, voltando para o quarto onde a encontro na mesma posição.

— Tome um comprimido e passe a pomada, vai melhorar a ardência. — Estendo a pomada e os comprimidos para ela. — E não faça mais besteiras, pois você não terá uma segunda chance.

— Obrigada! — Sussurra e volto meu olhar para ela, vendo sinceridade naquelas palavras.

— Não me agradeça. — Respondo secamente, tentando manter a fachada de dureza.

— Você não é como eles. — Ela afirma e suas palavras me pegam de surpresa.

— Como pode ter tanta certeza disso? — Questiono com ironia, mas, no fundo, estou intrigado com a garota à minha frente.

— Se fosse, não estaríamos tendo esta conversa, não é mesmo? — Ela sorri com um olhar triste e sou obrigado a rir, apesar de mim mesmo, dando as costas para ela para sair do quarto.

— Não jogarei meu bichinho de estimação fora tão facilmente. — Olho por cima do ombro enquanto destranco a porta, vendo-a torcer os lábios em uma linha fina de tristeza e mágoa.

Giro a maçaneta, saindo do quarto e, antes de fechar a porta, ouço-a dizer:

— Você realmente não é como eles.

E talvez ela tenha razão, talvez eu não seja, mas nem mesmo eu tenho tanta certeza disso. Prefiro ignorar, mas suas palavras ficam comigo enquanto me afasto, plantando uma semente de dúvida e reflexão que não posso simplesmente apagar.

[1] Significa “entre!” em russo.

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