Abramovitch provou que é nosso aliado incondicional até o momento e não se voltará diretamente contra nós. Contudo, ele j**a em nossas costas dois problemas: Anijah e Lazarev, aproveitando-se da situação para nos colocar em uma posição ainda mais complicada. A sala está mergulhada em uma tensão quase insuportável, cada um de nós ciente de que as decisões tomadas agora terão repercussões duradouras.
Meus irmãos e eu trocamos olhares, conscientes de que estamos em um ponto crítico. Precisamos encontrar uma solução que minimize os danos e preserve o pouco de controle que ainda temos sobre a situação. O silêncio que se segue é pesado, carregado de incertezas sobre o que virá a seguir.
— Espero que essa versão mais desenvolvida atenda às suas expectativas! Se precisar de mais ajustes ou quiser explorar outros aspectos, estou aqui para ajudar.
— Abramovitch, está jogando suas responsabilidades em nossas costas. Trouxemos sua irmã de volta, intacta. Ela não foi tocada. Jamais tocaria nela, não assumirei essa responsabilidade. — Afirmo, tentando manter a calma enquanto a tensão na sala cresce.
— Não me importam os seus motivos, Lobo. Lazarev não aceitará uma mulher que teve o corpo tocado por outro homem. Ele é bem específico nessas questões. Vê-la nua seria suficiente para iniciar uma guerra, independentemente da situação em que ela se encontrava. — Abramovitch rebate, sua voz fria e implacável.
— Isso mesmo! Você me viu nua! Você mesmo confirmou... — Anijah j**a gasolina na fogueira e sinto minhas mãos se apertarem ao lado do corpo, o ódio ameaçando transbordar. Preciso me acalmar, ou eu mesmo quebraria o pescoço dela, tal é a raiva que me consome no momento.
— Assuma a responsabilidade e fique com ela, pois acredito que você não quer iniciar uma guerra. Ou quer? Isso pode manchar o meu nome, mas com certeza manchará ainda mais o do seu irmão. Então, pense bem no que você decidirá. — Ele encerra a ligação, deixando-me perplexo, olhando para a tela sem saber como reagir.
— Mas que grande confusão! Caspita[1]! — Dante resmunga, quebrando o silêncio pesado que se instalou.
— Explica o que aconteceu, pois não entendi exatamente nada. — Jack diz e Royal concorda, ambos confusos com a situação.
— Por favor, me desculpa... — Ela sussurra e perco a compostura, segurando seu braço com força, a raiva fervendo dentro de mim.
— Vou mostrar que você fez a pior escolha da sua vida. — Sussurro, ficando cara a cara com ela. — Você tem medo do seu irmão e de Lazarev?? Deveria ter muito mais de alguém que nem conhece!!! — Extravaso minha fúria, puxando seus pulsos amarrados, obrigando-a a se levantar e caminhar em direção à porta.
— Max, solte-a. — Dante ordena, colocando-se entre nós.
— Saia da minha frente. — Mannaggia! Va via! Dai![2] Cuspo com raiva, minha paciência se esgotando.
— Você não é assim, não vai machucá-la. Seja lá o que aconteceu, vamos resolver. — Royal diz, tentando apaziguar a situação.
— Solte-a, Max. Conversarei com Abramovitch pessoalmente, mesmo que eu precise ir até a Rússia para isso, mas preciso que você explique o que aconteceu corretamente. Entendi partes da conversa, mas não tudo. — Dante insiste, tentando trazer a razão para o caos.
— Ele não vai aceitar acordo nenhum. Sabe que, se essa conversa sair daqui, manchará a reputação dele. Ele não consegue controlar nem a irmã, foi humilhado por ela, que rebaixou sua autoridade. Agora saia da minha frente que ensinarei a essa garota que eu também posso ser o demônio que ela tanto teme.
— Max… — Royal tenta tocar meu ombro, mas eu o empurro, minha mão indo para a arma. — Se um de vocês ousar interferir, vou atirar para machucar.
— Deixem ele ir, ela disse ao irmão que se entregaria a ele, essa foi a escolha dela. Não entendo os motivos, mas ela não queria retornar e se entregou a outro homem, manchando o orgulho não só do irmão como do noivo prometido. Ela colocou tanto Max como Abramovitch contra a parede. — Dante explica, tentando trazer sentido ao caos, enquanto a confusão toma o rosto dos meus irmãos.
A tensão na sala é quase insuportável, cada um de nós lidando com as consequências de palavras e ações que podem mudar o curso de nossas vidas. A decisão que tomarmos agora é crítica e todos sentimos o peso de algo que está além de nosso controle imediato.
— Isso não te dá o direito de ser um babaca, Max. Vai abusar da garota? — Royal me enfrenta, sua voz carregada de indignação e eu o encaro com raiva, sentindo a tensão aumentar.
— O que acha que devo fazer, irmão? Enfiar uma bala na testa dela e acabar com os meus problemas? Na hora que Russo deu essa opção, parecia um absurdo, mas agora não parece tão ruim assim. — Rosno, minha voz cheia de frustração e desespero, enquanto Royal me desafia.
— Você está cego de ódio. Vamos sentar e conversar, nós vamos te tirar dessa. Vai se arrepender se tocá-la, você sabe disso. Se fizer isso, só piorará a situação. — Royal insiste, tentando me trazer de volta à razão.
— Eu não sou tolo, então saia da minha frente, pois vou levá-la para minha casa na cidade e ensinar a ela o peso que as palavras têm em nosso mundo. — Declaro, determinado a seguir meu plano, mesmo que a raiva me cegue.
— Se quer ensinar algo a ela, vai ser aqui, Max, e se eu ouvir um grito sequer dessa garota, irei colocar a porta do seu quarto abaixo e te jogar em uma cela até que esfrie a porra da cabeça. — Dante diz, sua voz firme e autoritária, fazendo-me parar por um momento.
— Apesar de ser meu chefe, você não dita o que faço ou deixo de fazer da minha vida, irmão. Eu te respeito, mas se terei minha honra manchada injustamente, farei por merecer. — Respondo, abrindo a porta da sala de reuniões e seguindo para as escadas, levando a garota comigo.
— Se continuar me desafiando, vou mostrar por que sou o maldito chefe, Max. Ensine o que quiser para a garota sem tocá-la, e garanto que a devolveremos para Abramovitch, e nada manchará sua honra. Mas se tocá-la, tudo estará perdido. — As palavras de Dante ecoam em minha mente enquanto continuo subindo para o andar superior.
Cada passo que dou é acompanhado por uma batalha interna. A raiva que sinto é avassaladora, mas as palavras de meus irmãos plantam uma semente de dúvida. Passei pelo inferno na terra para construir meu nome e minha posição, e não será uma garota mimada que arrancará isso de mim. Ela aprenderá, por bem ou por mal, que em nosso mundo, cada pequeno gesto e ação provocam uma reação, e muitas vezes essa reação é banhada de sangue.
Ao chegar ao andar superior, paro por um momento, olhando para Anijah. Sua expressão é uma mistura de medo e desafio, e vejo nela um reflexo de mim mesmo. Sinto uma pontada de empatia, um reconhecimento de que ambos fomos moldados por circunstâncias que nos forçaram a endurecer.
— Você acha que sabe o que é viver neste mundo, mas não tem ideia do que é realmente necessário para sobreviver. — Digo, minha voz mais calma, mas ainda carregada de intensidade. — Vou te mostrar o que significa realmente lutar por sua vida.
Enquanto a levo para o quarto, me forço a lembrar das promessas que fiz a mim mesmo sobre nunca cruzar certas linhas. A batalha interna continua e sei que preciso encontrar uma maneira de resolver isso sem sacrificar quem sou de verdade.
[1] Interjeição italiana sem tradução para o português. Equivale a “Droga!”
[2] Significa “vai, logo!” Mannaggia é uma expressão típica que transmite a ideia de revolta e desaprovação, ira.