A biblioteca estava silenciosa — não o silêncio desconfortável que costuma preceder algo ruim, mas aquele que me fazia sentir como se o mundo lá fora estivesse pausado, só por um instante. As paredes forradas de livros antigos me cercavam com um cheiro familiar de páginas gastas, couro e tempo. Era quase reconfortante. Quase.
Eu caminhava devagar entre as prateleiras, sem pressa. Cada passo ecoava baixo sobre o chão de pedra. A luz suave das lamparinas mantinha o lugar em uma penumbra acolhedora, e por um momento, me senti fora do tempo. Como se estivesse andando entre memórias que não eram minhas — mas que, de algum modo, também eram.
Encontrei o volume onde sempre esteve: na terceira fileira à esquerda, perto do vitral azul. Era um livro grosso, de capa escura e textura áspera, quase como pele ressecada. Não tinha título na lombada. Só uma runa gravada em baixo relevo que reconheci de imediato. A mesma que vi esculpida na base do altar, no dia em que tudo começou a mudar.
Sentei na