DANTE TAVARES
Acordei cedo demais. O silêncio da casa de hóspedes me irritava. Talvez porque eu soubesse o motivo real daquele incômodo: ela não veio.
Isadora.
A mulher que implodi com os dedos, com a língua, com o olhar.
A mulher que arfou meu nome como se fosse uma oração — e depois fugiu como se eu fosse o próprio demônio.
Talvez eu seja.
Cheguei sozinho à mansão. Meu pai já estava no jardim.
Precisava ocupar a mente, e por que não na casa da serra?
Convidei-o para ir comigo, mas ele recusou, alegando dores nas costas, idade, lembranças.
Lembranças. A estrada parecia um recado mudo do passado.
Dirigi até lá como quem volta ao próprio berço de guerra.
Não era uma ofensa meu pai ter olhos apenas para Álvaro.
O filho mais novo, do segundo casamento.
Mais doce. Mais obediente. Mais “perfeito”.
Eu era a sobra do nome. A sombra do que restou.
Mas ainda assim me importava.
Não sabia amar, mas ainda tentava cuidar. Mesmo que ele nunca pedisse.
Cheguei à serra com o dia ainda nasce