Dante Tavares
Isadora parecia deslocada. Ou talvez forçada a estar ali.
Sorria com os lábios, mas não com os olhos. E esses, ah, seus olhos... vagavam pelo ambiente como quem foge de si mesma. Não tinha o brilho confiante de uma chefe, nem a leveza de uma convidada. Ela carregava um desejo escondido — sufocado sob a armadura social, enterrado sob as convenções que tentavam, inutilmente, contê-la.
Quando ela atravessou o salão, deixando meu sobrinho entretido no grupo de amigos, abandonei discretamente a roda de empresários com quem discutia cifras e contratos. Ainda segurava minha taça, que depositei sem pressa na bandeja de um garçom. Toquei levemente o ombro dele ao passar.
— Não deixe ninguém ir até a cozinha. Até que eu saia de lá. — minha voz saiu firme, fria, quase um sussurro.
O rapaz me olhou surpreso. Encarei-o como se minha ordem fosse lei. E era. Ele assentiu, em silêncio.
Segui o rastro daquela mulher que me envenenava os sentidos. Que me perturbava. Que me excitava justam