Isadora Alencar
A água da torneira caía nas minhas mãos, mas era como se não me tocasse de verdade. Eu as esfregava com força — dedos, pulsos, braços — tentando apagar algo que não saía com sabão. Algo que não estava na pele, mas entranhado na carne.
Ainda sentia as pernas trêmulas.
As marcas dos dedos dele, quentes, firmes, estavam na minha cintura como ferro em brasa. E o gosto... Meu Deus, o gosto ainda estava na minha boca. E o pior era saber que eu jamais o beijei. Ele nunca me beijou. Dante Tavares me tomou com a boca e com as mãos como se eu fosse dele, e mesmo agora, vestida, limpa, profissional, me sentia suja.
Olhei meu reflexo no espelho. A touca recolocada, o cabelo preso, a dolma branca ajustada. Por fora, eu era a mesma. Por dentro... eu estava em pedaços.
Como eu pude?
Essa pergunta não era nova. Eu me fazia ela desde a primeira vez em que ele me encostou, desde o primeiro olhar que me despiu, desde o primeiro choque elétrico no meio da rotina. Mas agora... agora eu tin