Ela Tem Um Nome
O céu estava cinzento quando partimos.
A mansĂŁo ficou para trĂĄs como um sussurro antigo â uma lembrança quente, mas jĂĄ distante.
Rafael conduzia o carro preto com precisĂŁo. As mĂŁos firmes no volante, os olhos atentos Ă estrada, mas com a mente... em mim. Eu sentia. Como se o calor do seu pensamento tocasse minha pele mesmo sem olhar.
A floresta se aproximava pela estrada como um véu de sombras.
â Estamos quase lĂĄ â ele disse, sem me encarar.
Assenti, com o coração descompassado.
A cada quilĂŽmetro, algo dentro de mim se agitava mais.
â Ă como se ela estivesse me chamando â murmurei, olhando pela janela.
â Ela estĂĄ.
â Ela quem?
Rafael respirou fundo.
â A sua loba. Ela estĂĄ inquieta desde que vocĂȘ começou a mudar.
Mas agora⊠ela quer mostrar quem é.
Fechei os olhos.
E ali, no escuro dos meus pensamentos, ouvi.
Um sussurro baixo.
Rouco. FĂȘmea. Selvagem.
Como uma voz enterrada nas raĂzes do mundo.
â Meu nome... Ă© Selyra.
Minha respiração falhou.
â Selyra â repeti, baixinho.