A Loba Dentro do Espelho
O dia amanheceu cinzento, mas não frio.
O calor vinha de dentro.
Do meu corpo. Do meu sangue. Do que agora pulsava em mim.
Não era só desejo — era energia selvagem.
Uma força que rosnava debaixo da pele, como se cada célula soubesse que já não era completamente humana.
Caminhei até o espelho antigo do quarto, com as pernas ainda trêmulas da noite anterior. Toquei a moldura esculpida, que parecia vibrar quando meus dedos se aproximaram.
A madeira reconhecia. A casa reconhecia. Eu me reconhecia.
E então, olhei.
Não era mais a mesma.
Meus olhos estavam mais claros, mais dourados. Os traços do rosto — mais definidos. O cabelo negro caía em ondas soltas, mas agora havia um brilho prateado ali, quase invisível, como poeira lunar grudada nas mechas.
E por um instante, apenas um… vi outra versão de mim.
A mulher no espelho me encarava com os mesmos olhos, mas ela estava semi-transformada.
As pupilas felinas. As presas visíveis. As unhas longas como garras