O Sangue Que Trai
O vento dançava entre os corredores de pedra da ala norte como uma serpente inquieta. Os vitrais da mansĂŁo projetavam feixes de luz lunar sobre o chĂŁo de mĂĄrmore, e o som de passos apressados quebrava o silĂȘncio quase sagrado da madrugada.
Eu voltava do templo com o espĂrito ainda pulsando com a imagem de Marco em correntes. Ainda sentia seu olhar me alcançando no plano espiritual, um lampejo de quem ele havia sido. Aquilo me dava forças. Mas tambĂ©m me feria.
Ele estava vivo dentro de si. Mas acorrentado.
Ao cruzar o påtio interno, senti. Uma presença errada. Como uma folha podre entre flores. O cheiro de medo e hesitação. Perto demais.
â Saia da sombra â ordenei, a voz firme, mesmo que meu peito martelasse.
Um vulto se moveu, saindo por trĂĄs da coluna de pedra. Era Caleb. Um dos jovens lobos que Rafael havia acolhido em sua guarda. Havia algo inquietante em seu rosto â uma palidez excessiva, um suor frio na testa, e o olhar⊠dividido.
â Senhora Luna â ele disse, ten