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🌑 Capítulo 3

Onde as Marcas NĂŁo Se Veem

A mansĂŁo tinha um silĂŞncio antigo.

NĂŁo era o silĂŞncio da ausĂŞncia.

Era o silĂŞncio da reverĂŞncia.

Como se até o ar soubesse quem andava por ali.

Andei descalça por corredores longos, com janelas que se abriam para jardins que pareciam ter sido tocados por alguma magia ancestral. Tudo ali era cuidadosamente conservado, mas vivo — como se respirasse junto com os que moravam ali. Ou com ele.

Meus dedos deslizaram pelas paredes, sentindo cada imperfeição da madeira escura. Eu ainda usava a camisola leve que alguém — talvez Rafael — havia colocado em mim. Ela colava ao meu corpo como uma segunda pele, revelando mais do que escondendo. E ainda assim, eu não me sentia vulnerável.

Sentia-me… observada.

Mas não com ameaça.

Com desejo.

Ou seria a minha imaginação?

Parei diante de uma porta entreaberta. A luz ali dentro era baixa, dourada. Velas. Muitas. O aroma de resina, couro e vinho preenchia o espaço. Um escritório talvez. Mas parecia mais um santuário.

E lá estava ele.

Rafael.

Sentado em uma poltrona de couro vermelho escuro, pernas cruzadas, um livro antigo nas mĂŁos. O olhar dele encontrou o meu antes que eu pudesse me anunciar.

— Não precisa bater — disse, com a voz grave e doce ao mesmo tempo. — Essa casa sente quando você se aproxima.

Minha pele arrepiou inteira.

A casa sente.

Ele sente.

Dei um passo para dentro, hesitante.

— Desculpe invadir...

— Você não invade o que já é seu, Alice.

Meus olhos se arregalaram. Ele falava como se soubesse algo que eu ainda não sabia. Ou como se já tivesse aceitado algo que eu ainda lutava para entender.

— Eu não sou sua, Rafael. — Minha voz falhou um pouco. — Nem sei quem sou agora...

Ele fechou o livro com calma, levantando-se com uma lentidão calculada, como se cada gesto fosse uma dança de domínio.

— E ainda assim está aqui — respondeu, se aproximando de mim.

Meu corpo enrijeceu. NĂŁo por medo. Mas porque algo em mim acordava quando ele se aproximava. Algo que nĂŁo acordou nem mesmo por Marco.

— Eu só... não tinha pra onde ir — sussurrei.

— Claro que tinha. Mas escolheu vir até mim.

Ele parou tão perto que meu corpo captava o calor do dele antes mesmo do toque. Seu cheiro me invadia de novo — vinho tinto, madeira, noite e algo masculino demais pra ser descrito.

— O que você quer de mim? — perguntei, tentando manter o controle. O sangue pulsava entre minhas pernas com uma intensidade incômoda. Meu lobo interior rosnava, inquieto.

Rafael inclinou o rosto. Seus olhos verdes eram como labirintos.

— Quero que você se veja com os meus olhos.

— Isso é perigoso — murmurei.

Ele sorriu. Um sorriso lento, Ă­ntimo, quase sujo.

— Você também é.

Meu coração disparou. A tensão entre nós era algo vivo, feroz, sexual. Eu podia sentir minha pele suar, minha respiração falhar. Meu corpo pedia um toque. Um gesto. Um descontrole.

E, como se ouvisse meus pensamentos, ele ergueu a mão — e tocou meu braço. Um toque leve, quente, que queimou como ferro em brasa.

— Você carrega marcas — ele disse. — Mas nem todas estão visíveis.

Eu sabia que ele falava de Marco. Da rejeição.

Mas por um momento, me perdi no toque.

Seus dedos subiram devagar pelo meu braço, até o ombro. Depois pelo pescoço, parando na base da minha mandíbula. O gesto foi lento, íntimo, sem pressa.

— Posso mostrar quem você realmente é — ele sussurrou.

Minhas pernas fraquejaram.

O ar ficou denso.

E entĂŁo, como se o universo prendesse o fĂ´lego, ele nĂŁo me beijou.

Ele parou a um centĂ­metro da minha boca.

O calor, a tensĂŁo, a urgĂŞncia... tudo estava ali.

Mas ele esperava por mim.

— Se me tocar agora... — comecei, sem saber terminar a frase.

— Eu não a toco sem permissão, Luna.

"Luna".

Ele me chamou assim.

Como se já reconhecesse o que Marco recusou ver.

Minhas mĂŁos subiram por instinto, tocaram o peito dele. Forte. Quente. Pulsante. Meu corpo respondeu antes da minha mente.

E entĂŁo, num sussurro trĂŞmulo, eu disse:

— Me mostra.

Foi tudo o que ele precisou.

Seus lábios tomaram os meus com uma fome contida há séculos. Não houve delicadeza. Houve entrega. Sede. Pressa de alma. E quando suas mãos desceram pelas minhas costas, me puxando contra ele, senti algo mais forte do que desejo:

ConexĂŁo.

NĂŁo era como Marco.

Era como se, ao me tocar, Rafael reconstruĂ­sse cada parte que Marco havia quebrado.

Eu estava sendo marcada de novo.

Mas agora... pela escolha.

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