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🌑 Capítulo 2

O Cheiro de Vinho e Poder

A manhĂŁ chegou tĂ­mida, filtrando-se por entre as copas espessas da floresta. Mas eu nĂŁo a vi.

NĂŁo naquele momento.

Meus olhos estavam fechados.

Meus sentidos, despertos.

E minha pele... ainda sentia o calor daquele abraço.

Eu não sabia quanto tempo havia passado desde que fui acolhida por aquele corpo firme, envolta nos braços de alguém que não me disse seu nome — mas que eu sentia como se o conhecesse há mil vidas.

O cheiro dele ainda estava impregnado em mim.

Madeira antiga, vinho escuro e algo mais... algo primal.

NĂŁo era o aroma de Marco. NĂŁo era o toque dele.

Mas, de algum modo, esse novo toque me acalmava mais do que qualquer palavra que Marco poderia ter dito um dia.

Era estranho. Injusto, talvez.

Como alguém que surge do nada poderia me afetar tanto?

E ainda assim... ali, nos braços do desconhecido, pela primeira vez desde minha rejeição, eu respirava.

Quando finalmente abri os olhos, a luz era suave, dourada, morna. E Ă  minha frente nĂŁo havia mais floresta.

Havia mármore.

Cortinas pesadas de veludo vinho.

Lustres de cristal.

Estátuas antigas e móveis de madeira nobre polida.

Uma mansĂŁo.

Velha, mas perfeita. Rica em cada detalhe. Silenciosa, mas viva como se respirasse. Como se tivesse histĂłrias demais guardadas entre aquelas paredes para se entregar ao tempo.

Eu estava deitada sobre lençóis negros.

Meu corpo envolto por uma camisola leve, de tecido macio.

Alguém havia me trocado.

Mas eu nĂŁo me sentia violada. Sentia... cuidada.

Houve um leve som. Passos. Lentamente, me ergui, sentando na enorme cama de dossel. O quarto era amplo, e a porta de madeira escura se abriu com suavidade.

E entĂŁo, ele entrou.

Alto. Forte.

Trajava roupas em tons profundos de vinho e preto, perfeitamente alinhadas a seu corpo esculpido. Seus cabelos eram tĂŁo negros quanto a noite. Os olhos...

Verdes.

TĂŁo verdes que me fitaram como se pudessem atravessar cada camada da minha alma.

Meu coração bateu mais rápido.

— Você está desperta — disse ele, com a voz calma, profunda, segura.

Eu nĂŁo consegui responder de imediato.

Fiquei olhando. Tentando juntar o homem Ă  lenda.

Era ele. Tinha que ser.

— Rafael? — minha voz saiu como um sussurro.

Seus lábios se curvaram levemente. Um quase sorriso, que mais parecia um feitiço.

— Sim.

O nome dele em minha boca teve gosto de algo antigo, sagrado. Como se eu o tivesse dito em outro tempo, em outro lugar...

Ou em todos eles.

— Por que... — tentei começar, mas minha garganta ainda doía com tudo que tinha passado.

Ele caminhou até mim com passos lentos. Elegante como uma sombra nobre.

Seus olhos nĂŁo desviaram dos meus.

— Porque você foi jogada no escuro, Alice. E eu sou aquele que governa a noite.

Minha pele arrepiou.

— Você me seguiu? — perguntei, tentando entender. — Me conhecia?

Ele parou perto da cama. TĂŁo perto que pude sentir seu calor. Seu cheiro.

Tudo nele era poder contido. Força escondida atrás da elegância.

— A Lua me mandou. E sim... eu já conhecia você. Mesmo antes de você se conhecer.

Eu tremi. NĂŁo de medo.

Mas de algo que nascia entre nĂłs. Um fogo lento, silencioso. Diferente do que eu sentia com Marco. NĂŁo era sĂł desejo. Era gravidade.

— Ele me rejeitou — confessei, como se isso ainda doesse mais do que deveria.

Rafael assentiu.

— Marco é forte. Mas força sem visão é apenas brutalidade.

— E você? O que vê? — perguntei, desafiando-o.

Ele inclinou o rosto. Seu olhar afiado como lâmina, mas cheio de calor.

— Eu vejo o que você ainda não descobriu em si mesma. E vou estar aqui quando você descobrir.

Ou... se permitir.

Fiquei em silĂŞncio.

Minhas mãos tremiam sobre o lençol. Meu corpo, frágil e cheio de marcas da noite anterior, agora era observado com olhos que me admiravam — não como a rejeitada, mas como algo raro. Valioso.

— Você vai me proteger? — perguntei, num fio de voz.

Ele se aproximou mais e, com uma delicadeza que contrastava com sua aura dominante, tocou meu queixo, erguendo meu rosto até que nossos olhos se encontrassem por inteiro.

— Eu não sou seu escudo, Alice.

Sou a lâmina que ninguém ousa levantar contra você.

Aquelas palavras...

Elas me quebraram e me ergueram ao mesmo tempo.

Eu podia sentir.

Algo dentro de mim estava mudando.

E quando Rafael se afastou lentamente, deixando seu perfume e sua presença como uma promessa no ar, eu soube:

A rejeição não foi o fim.

Foi o começo da minha verdadeira história.

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