Onde Nasce o Veneno
Acordei antes do sol.
O corpo ainda doía em lugares que palavras não alcançam.
Mas não era uma dor de arrependimento.
Era memória.
Era domínio.
Estava nua sob os lençóis escuros, e por um instante, desejei que o mundo lá fora tivesse desaparecido.
Mas Selyra sussurrou:
> “Levanta.
O sangue ainda não secou.
E o próximo virá com veneno na língua e prata nas mãos.”
Me ergui devagar, envolvi-me num manto vinho e caminhei até a varanda.
A floresta parecia imóvel.
Mas havia olhos entre as folhas.
Olhos que antes me reverenciavam.
E agora… me julgavam.
Desci até o salão principal.
Rafael me esperava junto à lareira, com as mãos cruzadas nas costas e o semblante pesado.
— Alguém entrou nos arquivos da câmara da Lua — disse ele sem me olhar. — E levou os registros das linhagens esquecidas.
— Quem?
— Ainda não sabemos. Mas quem o fez sabia exatamente o que queria.
— E por quê?
Ele se virou.
Os olhos verdes estavam mais escuros, como o mar antes da tempestade.
— Porque agora