NARRAÇÃO DE MATIAS LOPES
Não atendi.
Como poderia? A voz dela me desarmaria. O som da sua respiração seria suficiente para desmoronar o que eu ainda tentava sustentar com os cacos que restaram de mim. Eu não tinha coragem de dizer o que de fato aconteceu com seu pai. Ainda me lembrava do seu último pedido: que eu trouxesse sua tia e seu pai são e salvos. Falhei. Falhei a ponto de não conseguir aceitar aquela ligação.
Guardei o celular no bolso como se fosse uma arma prestes a explodir nas minhas mãos. Dei as costas para o quarto e caminhei pelo corredor sujo de sangue, ouvindo apenas o ranger do piso e o zunido surdo da minha própria raiva.
Todo o meu corpo ardia. O sangue de Emma ainda latejava nas minhas juntas como brasa recém-acesa. Eu queria destruí-la. Não por mim. Não mais. Era por Miguel. Por Petrina. Por Lara.
Principalmente por Lara.
Encostei-me na parede do corredor e respirei fundo, mas não havia alívio — apenas um abismo escuro e cada vez mais fundo onde minha consciênci