Pizza e cigarro

NARRAÇÃO DE LARA GASPAR...

Eu não queria estar ali. Na verdade, eu nem deveria ter olhado na direção dele.

Matias claramente se lembrava do meu rosto. O mesmo que ele viu no dia em que nos cruzamos no elevador — com as mãos dele cobertas de sangue.

Tenho certeza de que, no fundo, ele sabe. Ele sabe de tudo.

E eu sou péssima em esconder o nervosismo.

— Gostam de carpaccio? Estou preparando... — ele disse.

— Mas é claro! Sou italiano, amor. Amo carpaccio! — Andrea respondeu, animado, acomodando-se por conta própria no sofá de couro.

Matias sorriu enquanto servia o vinho na taça dele.

Ok, eu morro de medo desse homem, tudo bem. Mas também não posso negar: que assassino lindo. Tão charmoso.

Os cabelos ondulados caíam sobre o rosto dele enquanto servia o vinho. Eu estava há tempo demais parada, o observando, quando nossos olhos se cruzaram. Azul diamante. Um arrepio percorreu minha espinha.

— Posso te servir? — ele perguntou, ainda me olhando.

— Eu não bebo — menti.

Não vou beber nem comer nada naquele lugar. Meu instinto de sobrevivência gritou alto.

— Claro que ela bebe! Lara, para de ser arisca. Sirva pra ela — Andrea retrucou.

— Eu não bebo durante a semana — respondi, encarando Andrea como se pudesse espancá-lo com o olhar.

Ele apenas sorriu com sarcasmo e ergueu a taça.

— Bom, então fique à vontade — disse Matias.

— Claro. Eu vou embora. Amanhã trabalho cedo. E também... não gosto de carpaccio. Não consigo comer carne crua — falei, com o estômago embrulhado, ainda mais depois de Andrea ter comentado sobre a série do Jeffrey Dahmer. A única coisa que me vinha à mente era que ele estava servindo carne das próprias vítimas.

— Aaah, Lara, para com isso — Andrea resmungou.

Arregalei os olhos para ele, implorando em silêncio para que viesse comigo. Ele respirou fundo e virou a taça inteira.

Matias continuava me fitando. Sem piscar. Aquilo sim me fazia tremer.

— Podemos nos encontrar no fim de semana, Matias? Posso te convidar para um jantar na casa da Lara.

— Claro. Combinado. Foi breve, mas foi bom conhecer vocês — ele respondeu, direto.

— Obrigada — murmurei, pálida. Gelada.

Abri a porta do apartamento dele. Ao pisar no corredor, soltei um suspiro de alívio. Andrea me acompanhou, com cara de poucos amigos.

— Você é muito estraga-prazeres! Eu estava tentando flertar com ele. Céus, que homem maravilhoso. Você viu aqueles olhos? Pena que é muito branco... gosto de homens mais bronzeados — comentou, caminhando ao meu lado.

— Acho que ele não gosta da mesma fruta que você. Me parece bem hétero... — comentei.

Andrea parou, caindo na risada.

— Claro que não, amor. Tenho certeza que ele não vai resistir a um italiano maravilhoso como eu.

Ri, passando por ele e abrindo a porta do meu apartamento.

— Você é maluco, Andrea! Me forçou a entrar naquela casa e ainda o convidou pra jantar aqui. Você enlouqueceu?!

— Não. "Noite dos amigos". É bom pra você tirar essa paranoia da cabeça. O cara é só rico e culto, não é um psicopata. E se for... ah, se for, eu teria a Síndrome de Estocolmo todinha por ele. Iria implorar pra ser sequestrado. Ia chorar pedindo pra ele me amarrar e dar na minha cara! — Gargalhei alto. Apesar das maluquices, adoro a amizade do Andrea. Ele me salva da depressão.

— Beleza. Já que tenho que fazer esse jantar chique, vou pedir pizza. Não sei preparar essas comidas de gente rica e culta. Além disso, todo mundo ama pizza.

— Pelo visto vai demorar pra se casar. Homens não vivem só de pizza! — ele disse, se despedindo com um abraço. — Amanhã apareço no seu trabalho só pra te infernizar.

Sorri. Não demorou para ele ir embora. Tranquei a porta, suspirando.

— Homens não vivem só de pizza... — resmunguei sozinha, rindo.

Abri a geladeira, peguei uma fatia de pizza da noite anterior e a coloquei no micro-ondas.

Na sala, sentei no sofá e abri o celular. Rolei a rede social como de costume, apenas matando tempo, assistindo vídeos aleatórios.

Até que parei de sorrir. Uma notificação apareceu:

Pedido de amizade: Matias Lopes.

Olhei para a parede que separa nossos apartamentos. Um arrepio me percorreu. Voltei o olhar para a tela.

Que loucura. Que medo... e ao mesmo tempo, não.

Obviamente, fucei o perfil dele. Ele não posta muita coisa, mas tem um vídeo na academia... e, olha, está de parabéns. Que abdômen. Andrea precisa ver aquilo.

O micro-ondas apitou. Levantei, deixei o celular no sofá, peguei a pizza e fui até a janela. Amo comer olhando a Lagoa.

Estava tranquila — até sentir o cheiro de cigarro.

Inclinei o corpo e meu coração quase parou: Matias estava na varanda, fumando e também olhando a Lagoa. Por sorte, ele não me notou. Fugi da janela, encolhi o corpo e terminei a pizza em silêncio.

Decidi dormir. Espero não sonhar com ele. Às vezes tenho. A imagem das mãos dele cobertas de sangue está gravada em mim.

Mesmo assim, a burra aqui não conseguiu dormir. Os olhos dele me causaram insônia. A forma como me encarou... foi assustador. E delicioso.

Me levantei, na esperança de vê-lo pela janela mais uma vez.

Claro que não. Ele já tinha saído. Aposto que tem coisas bem mais interessantes pra fazer do que ficar tomando conta da minha vida.

Acho que estou ficando doente. Ou louca...

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP