Entrei em casa com o corpo cansado e a cabeça ainda mais. A porta rangeu ao fechar, e aquele silêncio denso me envolveu como um cobertor pesado demais. Era estranho como às vezes o silêncio era mais barulhento do que qualquer fala atravessada.
Fui até a bancada da cozinha, larguei as chaves e me apoiei por um segundo. Pensei em ligar para minha mãe. Ou para minha irmã. Qualquer coisa que me conectasse com alguém que me conhecesse desde sempre. A saudade bateu sem avisar — fina, insistente, como uma garoa que molha aos poucos. Peguei o celular com essa intenção.
Mas o que vi na tela me travou.
Outra chamada perdida de Mauro.
Meu coração deu um pulo desajeitado no peito. O nome, ainda salvo ali, piscava como se estivesse zombando da minha tentativa de recomeço.
Sentei na beira do sofá, com o aparelho ainda na mão. A garganta apertou. Aquela sensação conhecida de nó por desatar. O que ele queria agora?
Fazia meses. Desde o fim abrupto, desde a última conversa atravessada, desde que cada