Fiquei parada ali, com o cheiro do bolo se misturando ao nó na garganta. O barulho das galinhas d’angola lá fora parecia até zombar da minha indecisão. “Tô fraca”, elas gritavam. Eu também, minhas amigas. Eu também.
— Vai querer outra fatia? — a voz de Dona Gertrudes cortou o ar, suave, mas firme.
Me virei devagar. Ela estava encostada na pia, braços cruzados, um sorrisinho sapeca no canto dos lábios. Olhar de quem tinha assistido o filme inteiro com pipoca na mão.
— A senhora viu isso, né? Ele nem me deixou falar!
— Só vi dois jovens inteligentes tropeçando nos próprios sentimentos como dois pintinhos tontos. Nada demais.
Revirei os olhos, sentando de novo.
— E então? O que a senhora acha que eu devo fazer?
Ela pegou um pano e começou a secar uma caneca que nem estava molhada.
— Ah, Alice… vocês, jovens de hoje, adoram complicar o que é simples. Parece que se não doer, não vale. Quer um conselho? — Pausou, erguendo a sobrancelha. — Não vou dar.
Arregalei os olhos.
— Como assim não va