Capítulo 3

5 anos depois

Layla ainda se lembrava perfeitamente de como aconteceu.

Primeiro a menstruação atrasou.

Depois vieram o enjoo, o cansaço, a tontura que aparecia sem pedir permissão.

Ela tentou ignorar, tentou culpar o estresse, o fim do intercâmbio, a vida virada pelo avesso. Mas quando o teste ficou rosa em segundos, ela sentiu o mundo girar de um jeito que não tinha nada a ver com emoção, e sim com pânico puro.

Grávida.

A palavra soou grande demais, pesada demais, impossível demais.

Layla sentou no chão frio do banheiro e ficou ali até não saber mais se tremia de medo ou de choque. A imagem de Anthony surgiu em flashes soltos: o toque cuidadoso, os olhos lindos e bocolores que guardavam segredos, a voz que parecia um abrigo. Mas ela nem sabia seu sobrenome. Nem cidade. Nem detalhes. O homem que segurou sua noite com as mãos tinha desaparecido como vapor.

Como encontrá-lo?

E se encontrasse… ele queria ser pai? E se não quisesse?

Os meses seguintes foram duros. Layla voltou ao Brasil tentando montar a própria vida peça por peça, como se estivesse reconstruindo uma casa depois de um vendaval. Trabalhou em tudo o que aparecia: entrega de currículos, atendente temporária, revisora de textos, ajudante em eventos. Estudava à noite, cansada, mas determinada. Cada

O parto aconteceu numa madrugada silenciosa de dezembro. Layla apertou a mão da enfermeira como se precisasse segurar o mundo inteiro naquele gesto. E quando ouviu o choro, aquele som novo e frágil, algo dentro dela se acendeu.

— Tyler — ela sussurrou, quando ele foi colocado em seus braços. O nome parecia nascer junto com ele.

Ele abriu os olhos, e por um instante Layla sentiu o ar sumir. Eram lindos e... bicolores.

Anthony.

Era impossível não lembrar.

Tyler cresceu como uma luz inquieta. Aos poucos, Layla notou detalhes que faziam dele ainda mais único. Aos dois anos, ele tinha dificuldade em emitir sons, interagia sempre quando via a mãe, mas nunca parecia ouvi-la direito. Então, em uma consulta, Layla descobriu que Tyler nasceu com uma perda auditiva significativa e Layla correu contra o tempo para conseguir fazer o tratamento.

Tyler tinha necessidades diferentes.

Mas também tinha uma força bonita, brilhante, intensa.

E Layla seria tudo o que ele precisasse.

Agora, sorrindo ao ver o filho brincando com os colegas, ela sentiu que tudo o que viveu anos atrás valeu a pena.

— Ele está tão animado, passou o dia inteiro falando sobre esse aniversário. – A mãe de Layla, que esteve com a filha desde o começo, falou ao seu lado.

— Ele está cada dia mais esperto, mãe, acho que é hora de colocá-lo nas aulas de inglês, Tyler já se comunica bem. – comentou, ela sabia que um dia... quem sabe, talvez descobrisse sobre a paternidade e Tyler teria que estar preparado para se comunicar com o pai.

— Eu o ouvi conversando com o Bernardo, minha filha... ele... – a mãe de Layla desviou o olhar.

— O quê? O que ele disse, mãe?

— Que sonhou com o papai dele, que estava prestes a conhece-lo.

A sensação que ela teve foi de quase surto. Geralmente Tyler não fazia muitas perguntas sobre o genitor, mas Layla sempre soube que ele era curioso. O coração dela, como mãe, se partiu em milhões de pedaços.

— Mamãe... mamãe, agora eu quero comer o bolo. — o menino gritou no meio do salão de festas, levando os convidados a caírem na risada.

— Então está bem, aniversariante, vamos lá cantar os parabéns.

A festa de cinco anos de Tyler foi perfeita, Layla se desdobrou para conseguir arcar com tudo, trabalhou doze horas por dia, mas ver a animação do filho fez valer cada centavo. Quando voltaram para casa, Layla colocou o mrnino para dormir pois já era tarde, os pais de Layla também foram dormir. Foi uma decisão muito debatida, ela queria viver sozinha com o filho, mas as necessidades da criança fizeram com que uma rede de apoio fosse mais necessária do que nunca.

Antes de dormir, Layla olhou a caixa de email e quando viu o terceiro, segurou a respiração. No mês passado ela aplicou para uma vaga em uma empresa inglesa, seu currículo não era o mais chamativo, mas alguma coisa fez com que ela tentasse, depois de anos tentando se esconder. Por coincidência, um dos avaliadores foi um dos professores no intercâmbio que ela fez anos atrás. E ele a estava oferecendo a vaga de assistente pessoal do presidente da corporação, pois ser bilíngue ajudaria em diversas situações em que precisassem de sua presença.

Aquilo pareceu a coisa mais absurda do mundo.

Mas também parecia a porta que ela esperou por anos.

Layla respirou fundo, pensou diversas possibilidades, pensou nos prós e contras, mas o que a fez decidir de verdade foi a saúde do filho, Tyler teria um conforto maior e assistência necessária, o emprego oferecia tantos benefícios que o salario seria apenas para os gastos com moradia e alimentação, a saúde estaria em boas mãos.

Pensando nisso, Layla começou a digitar uma resposta.

Era a chance de recomeçar.

De deixar para trás não só os escombros do passado, mas também a sensação de que sua vida tinha parado em um aeroporto cinco anos antes.

O destino, no entanto, adora brincar com caminhos que deveriam permanecer separados.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App