Mundo de ficçãoIniciar sessãoA cafeteria do aeroporto já estava quase fechando quando Layla percebeu que horas tinham passado. A conversa com Anthony fluiu como se eles fossem dois desconhecidos presos na mesma tempestade e, de algum jeito estranho, tivessem encontrado abrigo um no outro.
Não havia perguntas demais. Não havia explicações longas. Era como se ambos soubessem que estavam vivendo uma noite que não pertencia à realidade, mas a algum espaço suspenso entre o fim de uma vida e o começo de outra. Anthony falou pouco sobre si, mas o suficiente para que ela percebesse os cortes escondidos nas palavras dele. Não eram sobre amor, mas perda. E não sobre perda, mas despedidas que tinham vindo cedo demais. Layla não insistiu. Ela também não queria ninguém enfiando a mão onde ainda ardia. Quando os funcionários começaram a olhar demais para os dois que já estavam há horas ali, eles perceberam que teriam que se despedir, Layla abriu a boca para dizer adeus, mas antes disso Anthony se adiantou: — Vem. Não quero que sua noite termine sozinha assim. — Pra onde? Eu.., eu não sei se isso é uma boa ideia. — Layla tentou raciocinar direito. A situação não era das melhores e pensar em... sair com um estranho, não, definitivamente não era o certo a se fazer. — Olha, conheço um hotel aqui perto, é um local discreto e muito confortável, não precisamos fazer nada que não queira, mas se quiser... — Anthony chegou perto e colou a boca na orelha dela, causando-lhe um arrepio que sacudiu seu corpo inteiro. — Eu vou fazer com que essa seja a melhor noite da sua vida, e você viajará mais calma, muito, muito mais calma. Ele não jogou limpo, pensou Layla. Essas palavras fizeram seu cérebro derreter praticamente. Layla deveria ter dito não e ela pensou seriamente em recusar, o que estava pensando? Seu coração estava partido, ela mal conseguia pensar e... talvez por isso sua mente se esqueceu de dizer um não firme. Deveria ter lembrado das horas de voo até o Brasil, do coração afundado, da decisão de nunca mais deixar ninguém chegar perto demais, mas a verdade é que estava exausta demais para carregar tudo sozinha. E havia algo no jeito quieto de Anthony, algo que não pedia nada além de companhia, que fez com que ela aceitasse. Eles caminharam até um hotel há alguns minutos do aeroporto. Layla tentou sentir medo enquanto caminhava com o estranho lindo de morrer, mas tudo o que sentiu foi uma ansiedade sexual indescritível e isso acabou a deixando assustada. As paredes do hotel eram brancas, silenciosas, e tudo parecia distante, como se o mundo estivesse acontecendo atrás de vidro. Layla sentia cada passo como se estivesse mergulhando numa água morna e profunda. No quarto, a porta mal tinha se fechado quando Anthony a puxou para perto, sem pressa, mas com uma honestidade que fez o coração dela descompassar. Não era luxúria. Era refúgio. Era duas pessoas agarradas uma à outra para não afundar. Ele a encarou esperando por uma negativa dela, estavam com os olhos presos um no outro e só nesse momento Layla percebeu que... Anthony tinha um olho de cada cor, bom, um olho era verde e o outro um castanho quase esverdeado, talvez a luz da cafeteria estivesse muito baixa. Inevitavelmente ela sorriu, o que foi tudo que ele precisava para avançar mais um pouco. Os beijos começaram devagar. Depois cresceram, como uma chama encontrando oxigênio. Layla sentia o peso das próprias dores, mas também o peso das dores dele, e era como se aqueles dois mundos quebrados coubessem, por uma noite, no mesmo lugar. Anthony tocava nela como quem tenta decifrar um idioma esquecido. Layla segurava o rosto dele como quem procura um lugar limpo para respirar. Os corpos se encontraram com urgência, mas sem brutalidade, numa mistura de medo e entrega que ela nunca tinha vivido antes. Em poucos minutos as roupas estavam no chão, Layla deu uma boa olhada no misterioso homem a sua frente, seu corpo escultural a deixou de boca seca, descendo ainda mais o olhar, ofegou em antecipação, sua mente parou de funcionar. — Eu não acho que vai... — Eu vou fazer com que seja bom para você. — ele garantiu. Sua resposta foi um leve acenar com a cabeça, em seguida, Anthony se ajoelhou no chão e levantou a cabeça, aquele olhar foi... Layla não conseguiu terminar o pensamento porque naquele momento, quando seu ofego foi alto o suficiente para que ela mesma ouvisse, ao sentir seus lábios encostando em sua pele a língua deslizando bem no meio, tudo se apagou. — Ai meu Deus... — sua respiração disparou. Anthony continuou seu trabalho, cumprindo sua promessa de deixa-la muito calma. E eles deixaram acontecer. A noite se arrastou em sussurros, em silêncio, em respiração quente contra pele ardente. Em pausas longas, e Anthony apenas encostava a testa na dela, sem pedir explicações. Ele também tinha seus silêncios, suas sombras. E, de alguma forma, compartilhar o vazio fez com que os dois respirassem melhor. Quando o cansaço finalmente venceu, Layla adormeceu com a sensação de que talvez no fim das contas, aquela foi a melhor decisão que ela tomou naquele dia turbulento. Anthony tinha um braço ao redor dela, firme como se segurasse algo que não queria deixar cair. Mas amanheceres são traiçoeiros. Assim que a luz fraca entrou pelo vidro do quarto, ela despertou devagar, buscou o calor do corpo dele… e encontrou apenas lençóis frios. Anthony tinha desaparecido. Não havia bilhete. Não havia número. Não havia nome completo. Nada. A única prova de que ele existira eram as marcas suaves nos ombros dela e a memória de uma noite que não deveria ter acontecido, mas aconteceu porque os dois estavam quebrados no mesmo lugar. Layla sentou na cama, abraçando os joelhos. Por um instante, a dor do dia anterior voltou, pesada como mala extraviada, e com isso ela esperou que viesse a culpa, mas ela nunca chegou de fato em seu coração. Ela imaginou Clinton recebendo mais mentiras da mãe, imaginou o olhar dele quando acreditou em cada falso detalhe. Sentiu o coração retorcer. Mas quando ela lembrou de Anthony, percebeu que aquela noite tinha sido como uma porta entreaberta. Não esperança. Mas… algo novo. Levantou devagar, tomou banho e se arrumou no espelho com mãos trêmulas e tentou ignorar a sensação estranha de que tinha deixado um pedaço de si ali. No fundo, ela sabia que se tivesse acordado e encontrado Anthony sentado no pé da cama, sorrindo com aquele ar quieto, ela teria desmoronado mais uma vez. Talvez por isso ele tenha ido embora. Talvez ele soubesse que aquilo só podia existir no escuro. A mala estava pronta desde a noite anterior, jogada num canto, Layla a arrastou pelo corredor do hotel, pegou o elevador e seguiu até o portão de embarque. Cada passo parecia um adeus ao que ela foi nos últimos meses. Ao amor que acreditou viver. À dor que tinha acabado de começar. À noite que não devia ter existido, mas que queimava como lembrança proibida. Quando o avião começou a taxiar, Layla encostou a cabeça na janela. A cidade lá fora amanhecia com pressa, como se não tivesse espaço para corações quebrados. Ela respirou fundo. Anthony era um estranho sem sobrenome, e ela era uma garota com promessas que nem conseguia manter para si mesma. — Nunca mais — murmurou, repetindo a mentira que seu peito já não sustentava. O avião acelerou. O chão ficou para trás. E Layla partiu acreditando que jamais veria Anthony outra vez. Sem saber que o mundo tem um jeito engraçado de unir caminhos que deveriam ter morrido no aeroporto naquela noite.






