Capítulo 4

A viagem para Londres foi cansativa, quase chegando ao esgotamento. Tyler não gostou de voar e sentiu medo a viagem inteira; o garotinho só se acalmou quando pousaram e finalmente foram para o pequeno apartamento alugado que seu antigo professor a ajudou a escolher.

Layla ainda não confiava em deixar o menino com desconhecidos, e até nisso seu professor foi um anjo, indicando uma empresa que encontrou uma babá que parecia mais do que qualificada para o cargo.

— A mamãe volta às seis, tudo bem? Seja bonzinho com a Diana.

— Vou sentir saudades, mamãe.

O sorriso dela foi imenso ao abraçar o filho e se despedir dele.

Era seu primeiro dia de trabalho e Layla acordou antes do despertador. O sol ainda não tinha subido por completo.

Layla respirou fundo.

Era o começo.

Um recomeço.

Arrumou-se com calma, prendeu o cabelo, passou o batom mais discreto que tinha e repetiu mentalmente tudo que precisava lembrar sobre o novo cargo. Era uma oportunidade enorme. Uma chance rara. E ela se agarrou a isso com unhas e alma.

Ela chegou ao prédio empresarial com alguns minutos de sobra. O saguão era elegante, alto, cheio de vidro e pessoas de passos rápidos. Layla segurou a pasta junto ao peito e respirou fundo antes de subir no elevador.

No 21º andar, o corredor estava silencioso. O tipo de silêncio caro, com tapetes macios e paredes que pareciam sussurrar: “aqui entra quem carrega peso nos ombros”.

Layla caminhou devagar até o balcão de identificação e se apresentou. A recepcionista foi muito amigável e lhe disse para esperar alguns minutos.

— Pode ir, ele já está esperando você. Última porta do corredor. — Obrigada.

O coração batia descompassado em seu peito e a ansiedade crescia, mas ela tratou logo de afastá-la para dar lugar a um comportamento profissional. Ninguém queria uma assistente pessoal nervosa o tempo todo.

Layla bateu na porta duas vezes. — Pode entrar.

A voz era grave. Familiar.

Layla empurrou a porta e, no instante seguinte, o chão desapareceu sob seus pés.

Ela engoliu em seco; as pernas falharam e, se não tivesse encostado na parede, teria caído sem esforço algum.

De pé, perto da janela. O mesmo olhar castanho, agora mais firme. O mesmo maxilar marcado, agora acompanhado de um terno escuro que moldava seus ombros largos. Ele estava mais maduro. Mais cheio de presença. Mais perigoso para o coração dela.

O tempo fez estragos e milagres nos dois, mas Anthony Jones continuava sendo o homem que viveu com ela a noite mais improvável da sua vida.

Layla congelou.

O ar sumiu.

O peito apertou num impacto tão grande que ela precisou fechar os olhos por cinco segundos.

Ele virou na direção dela com um movimento preciso. Por um segundo, o rosto dele travou. Um choque silencioso.

Mas então algo mudou no olhar dele. Uma retração suave, quase imperceptível, como alguém se blindando antes de tocar uma ferida antiga. Talvez ele não se lembrasse dela, e Layla parecia torcer por isso.

— Bem-vinda à equipe, Layla — ele disse, a voz constante demais. — James falou muito bem de você quando avaliamos o seu currículo. Espero que esteja preparada.

Layla tentou responder, mas nada saiu. Não sabia se tremia de nervosismo, surpresa ou puro medo de que ele descobrisse a verdade que ela guardara por cinco anos. Aparentemente Anthony, ou melhor, o senhor Jones, não se lembrava de quem ela era. O suspiro de alívio foi imediato.

Ela finalmente conseguiu abrir a boca.

— É um grande prazer conhecê-lo, senhor Jones. Estou muito feliz e grata pela oportunidade. O senhor gostaria que eu começasse por algo específico?

— Não. Na verdade, hoje eu apenas queria que estivéssemos familiarizados um com o outro, já que não nos conhecíamos antes, correto?

— Sim. Sim, senhor — Layla afirmou rápido.

— Bem, então sente-se e me conte sobre sua vida e como foi sua adaptação em um país novo.

Por um momento, Layla não entendeu. Ficou calada por tanto tempo que Anthony levantou uma sobrancelha, confuso. Ela não estava sabendo lidar com a visão diante de si: os olhos bicolores e aqueles lábios que fizeram coisas inimagináveis com seu corpo…

— Layla, você está bem? Está passando mal? — ele correu para tentar segurá-la.

A mente de Layla girou.

— S-sim, eu estou bem. Desculpe, acho que estou um pouco cansada da viagem.

— Entendo — a voz dele desceu algumas notas, quase um sussurro. — Posso oferecer algo? Um remédio… sente-se ali no sofá, vou buscar um copo d’água para você.

Assim que ele saiu da sala, Layla puxou o ar com uma força quase sobre-humana. Os pulmões ardiam, o coração disparava, tudo girava ao seu redor, e aquilo foi assustador para ela.

Alguns minutos depois, ele voltou trazendo uma bandeja com água, remédio e frutas.

— Aqui, vamos com calma.

Merda. Aquela voz grave fazia Layla sentir coisas que não deveria sentir. Um calor desceu rápido por seu corpo e ela tentou afastá-lo da mente.

Anthony observava tudo atentamente, certificando-se de que ela estava bem.

Quando Layla voltou a si, reuniu forças e vestiu sua armadura de indiferença.

— Obrigada, e me desculpe, acho que é só a exaustão de uma viagem tão grande assim. Bom… deixe-me me apresentar, senhor Jones…

E então ela começou a falar, obviamente ocultando todas as partes importantes de sua vida. Principalmente Tyler.

Mas o destino não desperdiça encontros que deveriam ter morrido no passado.

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