Mundo de ficçãoIniciar sessãoEla sentiu o ar comprimir-se dentro do peito. Podia jurar que Jon lhe causava um efeito semelhante a uma escalada numa montanha muito íngreme.
— Como conseguiu estas marcas? — A voz dele continuava cheia de doçura.
Os dedos dele tocaram a volta do pescoço dela. Ela fechou os olhos com força, e o corpo tremeu sob o toque dele.
"Não me admira que ela estivesse fugindo."
As mãos dela já afastavam as mãos dele num tapa rápido. As pernas, incapazes de sustentar o próprio peso, simplesmente cederam, e ela escorregou pela parede até o chão.
Jon ficou ali, encarando a parede onde ela estava. Seus dedos ainda pairavam no ar.
Elara abraçou os joelhos. Os olhos traziam lágrimas que ameaçavam cair a qualquer instante.
— Eu sinto muito… não vai mais acontecer! — A voz dela saiu quebrada.
Jon sentiu o peso daquelas palavras. O coração encheu-se de remorso por ela.
— Eu é que deveria estar me desculpando! Confesso que acabei extrapolando os limites. Descanse, Elara! — A gravidade em sua voz não deixava espaço para discussão.
Ela encarou as costas dele se afastando em direção oposta ao closet, que levava ao outro cômodo ligado àquele.
— Amanhã você não precisa me acompanhar até a empresa. Veja isso como uma compensação pela minha grosseria.
Ela o observou abrir e fechar a porta que sequer sabia existir.
Aos poucos, sentiu o coração mais leve, o corpo parar de tremer. Encarou a porta por alguns segundos mais — talvez na expectativa de que Jon retornasse e lhe fizesse alguma proposta que ela não estava disposta a aceitar.
Ergueu-se devagar, caminhou até a cama e sentou-se. Suspirou repetidas vezes. As mãos apertaram os lençóis.
"Não faz sentido… Porque toda essa proximidade se ele disse que uma das regras era sem intimidade?"
Encarou a gravata que ainda estava no chão próximo a seus pés.
"Ou será que ele estava apenas me testando? Será que entendi errado?"
...
Jon recostou-se à janela. Pegou o celular e ligou para Romero.
— Descubra tudo sobre os credores antigos de Elara e sob quais condições eles a submeteram. Quero isso até amanhã ao meio-dia. — Havia uma dureza inflexível em sua voz, como aço dobrado só até onde ele permitia.
Do outro lado, Romero assentiu com precisão:
— Pode deixar comigo, senhor!
Jon guardou o celular. Seus olhos negros encaravam a chuva, carregando consigo um desejo silencioso.
"Seja como for, enquanto eu estiver aqui, nada vai passar despercebido. Mesmo se isso tiver ligação com ela… ainda assim, não vou deixar passar."
A corrente de água descia furiosa pela janela, lavando as impurezas deixadas ali. Agora era a vez de mais uma carta no jogo.
Jon caminhou até a cama coberta com tecido aveludado em cores neutras, bem diferente dos tons alegres que sua mãe costumava escolher.
— Amanhã será um dia bem divertido. Mal vejo a hora de tornar Elara minha falsa esposa. — Um sorriso travesso surgiu em seu semblante.
Acomodou-se na cama, os braços atrás da cabeça, encarando o teto.
— Eles que me aguardem.
***
No dia seguinte, Elara acordou cedo com os primeiros raios de sol batendo em seu rosto. Esfregou os olhos, ergueu-se e foi direto para o banheiro fazer sua higiene pessoal.
Pegou a escova e o creme dental, escovou os dentes e, em seguida, despejou o sabonete líquido no rosto. Estava finalizando o processo de enxugar a pele quando Jon saiu do box ao lado, com a toalha enrolada apenas na cintura, deixando o restante visível.
A água ainda escorria pelos cabelos e pelo peitoral. Elara sentiu o cheiro do xampu dele invadir suas narinas.
Afastou lentamente a toalha de rosto para encarar exatamente o que mais temia naquele instante.
Jon estava à sua frente, a poucos centímetros. Sem saber como reagir, permaneceu imóvel; as bochechas queimavam, a toalha escorregou pelos dedos, e a boca se abriu, tentando formar alguma desculpa que simplesmente não vinha.
"Eu sabia que isso de estar no mesmo quarto ia acabar dando nisso."
Ela o encarava, temerosa. Jon segurou o queixo dela entre os dedos por alguns segundos.
Os olhos dele pareciam ler a mente dela.
— Parece até que o destino está empolgado com nós dois, senhorita. Não acha? — A voz dele saiu carregada de luxúria, fazendo Elara engolir em seco antes de disparar dali, incapaz de responder o que lhe invadiu a mente naquele momento.
Jogou-se num pulo para debaixo das cobertas.
"Pelos céus… por que sempre acontecem situações desconfortáveis assim?"
Sacudiu o corpo de um lado para o outro, agitada. Nesse instante, Jon entrou — era o único caminho para o lado dele do quarto.
Ao perceber o quão constrangida ela estava, um sentimento de satisfação pulsou dentro dele.
— Sabe, senhorita… acho que vamos passar por isso muitas vezes. Mas no fim… — começou ele, a voz suave como se quisesse provocar ainda mais.
Elara puxou os lençóis até a base do maxilar. Os olhos dela estavam fixos nele. Jon notou a ingenuidade que cintilava ali.
— …devemos nos acostumar. Pelo menos até durar nosso acordo. Então, não precisa ficar tão desconfortável comigo. — Ele esboçou um sorriso cativante.
Elara sentiu o coração dar mil cambalhotas. Não podia ser real. Ele estava ainda mais sexy: molhado, sorridente e…
"Molhado…"
Percebeu, tarde demais, que ele esperava alguma confirmação que não veio.
— Vou tentar fazer meu papel, senhor… mas acho que não sou tão boa assim atuando. Ainda mais com o senhor assim… — Ela apontou para ele de cima a baixo.
Jon acompanhou o gesto dela com os olhos enquanto cruzava os braços sobre o peito, completamente despreocupado.
— O que quer dizer com isso? Está pulando fora da embarcação sem nem termos saído do cais? — A voz dele carregava um interesse claro, quase divertido.
Ela engoliu em seco. Tentou desviar o olhar do físico dele, o que lhe era praticamente impossível.
— Não foi isso que quis dizer… só não estou acostumada a estar no mesmo ambiente que um homem por muito tempo. — Os olhos dela se fecharam por um instante.
Jon abandonou a postura impassível e caminhou até a beira da cama. Parou diante dela. Como era de se esperar, o corpo dela respondeu antes da própria consciência — sentiu a presença dele acima de si, a poucos centímetros. Os olhos se abriram de imediato.
— Parece que desejo muito beijar você, senhorita.







