Peças em jogo

O coração de Elara estava na boca.

"Ele está tentando provar seu poder sobre mim."

Jon estava a alguns centímetros dos lábios dela e continuou se aproximando.

"Vamos ver quais peças você moverá agora, senhorita."

Ela, porém, ergueu a palma da mão e a colocou diante dos lábios. Jon pressionou os seus com vontade contra as linhas do destino dela.

Ele afastou-se alguns centímetros, certo de que ela cederia. No entanto, Elara se conteve o máximo que pôde, apesar de, aos poucos, abandonar a postura defensiva.

Jon, por outro lado, manteve os olhos carregados de malícia e desafio. As mãos dele estavam no maxilar dela, acariciando de leve, com o polegar e o indicador, os cantos dos lábios cheios e levemente rosados.

— Você não se importaria se eu quebrasse minha própria regra… se importaria? — A voz grave agora era um poço de luxúria.

"Está a me testar com certeza."

Os olhos dela cresceram mais ainda, se é que era possível. As mãos agora cobriam todo o colo em proteção.

— Sim, me importo muito! Por favor, senhor, não brinque comigo desta maneira! — exclamou exaltada, a ponto de se quebrar ali mesmo em pedaços incontáveis.

Jon podia sentir na pele o quanto mexia com ela. Afastou-se com ar vitorioso, caminhando em direção à porta que levava à sua parte do cômodo.

Elara soltou o ar devagar, como se carregasse o mundo nas costas.

"Foi por muito pouco… eu quase cedi aos seus encantos."

Ela encarou por mais alguns segundos a porta. Moveu a cabeça de um lado a outro.

"Vamos lá, garota. Hoje você deve estar preparada para qualquer eventualidade."

Tomou um banho demorado. Vestiu uma saia longa e uma blusa de gola alta, de tecido leve. Deixou os cabelos presos numa trança simples no topo da cabeça.

Um toque na porta a fez perceber que ainda faltava algo.

"Deve ser Suzane."

Ajeitou-se na cadeira de frente ao espelho enquanto respondia, séria:

— Pode entrar!

Num instante, Suzane invadiu o espaço com seu aroma adocicado e aparência perfeita demais para uma secretária.

— Bom dia, senhorita Elara! Trouxe o maquiador para você. O nome dele é Paolo! — Cada palavra saiu ácida demais.

Elara não deixou por menos. O maquiador estava ao lado de Suzane; ele fez menção de cumprimentá-la com um aceno de cabeça.

— Obrigada, Suzane, mas creio que não vou precisar de muito retoque, até porque minha pele não é tão ruim… não acha? — Ela encarou o maquiador, esperando que ele decidisse qual lado tomar.

Ele sorriu para ela enquanto caminhava em sua direção, colocando a maleta sobre a penteadeira.

Suzane mordeu os lábios tentando conter a raiva.

— A senhorita realmente tem uma pele excelente. Percebi quando entrei. Bem equilibrada, sensível e hidratada. — O homem piscou para ela.

Suzane bufou em resposta. Elara tomou seu lugar diante do maquiador.

— Comece logo com isso. — Elara falou num tom carregado de arrogância, como deveria se comportar enquanto fosse a senhora Odero.

— Sim, senhorita. Qualquer coisa que não gostar, é só me avisar. — Paolo concluiu, tomando os pincéis.

Elara percebeu que Suzane a analisava com inveja.

"Certamente ela é uma concorrente ao coração ou ao bolso do senhor Jon. Mas isso não me importa. Como ele disse, eu tenho que agir à altura."

Suzane girou sobre os calcanhares e caminhou para a saída, mas Elara a impediu.

— Como está a agenda do senhor meu noivo, senhorita? — Seus olhos brilhavam diante do espelho. Paolo, intimamente, a apoiava.

A secretária girou o corpo para encarar Elara, sua senhora. Era isso que Elara fazia questão de deixar claro.

— Senhorita Elara, acaso eu preciso mesmo reportar tudo o que se passa na empresa do senhor seu noivo? — As mãos dela estavam sobre o peito, num tom de desafio.

— Por que ele não o fez? Ou será que a senhorita… — continuou, com um sorriso no canto dos lábios.

Elara apertou os braços da cadeira de forma imperceptível. Já havia feito esse papel na outra noite; não seria diferente agora.

Seus olhos se fixaram nos de Suzane ao falar cada palavra calculada com frieza:

— Não sou a favor da sua fala de gentileza, senhorita. Mas nada que eu não possa resolver sozinha. Aliás, adoro um desafio.

Ela fez o possível para que seu tom parecesse realmente um desafio.

Paolo sorriu escancarado.

— Huuu! A senhorita não é nada boba! Vamos, Suzane! Ela é a única no coração do senhor Jon. Não pense que você tem chance. — Ele exclamou sorrindo, enquanto guardava pincéis e sombras.

Elara estava finalmente pronta.

Ergueu-se de seu lugar e encarou Suzane, que desfez a pose pomposa.

— Espero que goste de jogar, senhorita, porque o jogo já começou. — Ela finalizou com uma sobrancelha erguida.

Paolo batia palmas como uma criança recebendo doces.

Suzane bufou, virou as costas e saiu batendo os pés.

"Será que vou poder atuar até o final? Pelo menos Jon me avisou que qualquer coisa poderia acontecer hoje."

Apertou as mãos em punho. Paolo, pronto para partir, segurou as mãos dela, encarando-a gentilmente.

— Senhorita… confesso que estou torcendo por você e pelo senhor. Você é uma das poucas mulheres que ele está levando a sério. Meus parabéns. — Um sorriso quase fraternal se espalhou pelo rosto dele.

Elara apertou as mãos dele em resposta.

— Obrigada, Paolo. Até a próxima.

Ele partiu em poucos segundos. O ar parecia pesado demais naquele instante.

"Primeira etapa iniciada. Agora, vamos seguir com o plano."

Caminhou em direção à porta, descendo até a sala de estar. Logo, a moça que a havia servido no dia anterior já a aguardava com a mesa pronta.

"Ela parece um desafio também, mas nada que eu não possa vencer."

A moça a encarava firme. As mãos estavam por debaixo do avental.

— Senhorita, o senhor disse que o motorista estaria pronto para levá-la a qualquer lugar que quisesse.

Elara notou o tom pretensioso. Sorriu e concordou.

— Não se preocupe. Eu mesma posso dirigir.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP